Eliane Dias: “A questão racial é dolorosa para as mães pretas" - Mina
 
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Eliane Dias: “A questão racial é dolorosa para as mães pretas”

A empresária, ativista e mãe dos filhos do Mano Brown conversa com Angélica sobre maternidade preta, autoestima e saúde mental

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Criar filhos não é fácil. Exige tempo, paciência, dedicação, grana, amor e, principalmente, muita energia para encarar tudo isso todo santo dia. Quando os filhos são negros, a maternidade se torna um desafio ainda maior, uma vez que o racismo está sempre ao lado em um país como o nosso. Para falar sobre isso, Angélica recebe a ativista, empresária, produtora executiva, advogada e mãe do Kaire Jorge e da Domenica, Eliane Dias. Ela também comanda a Boogie Naipe, produtora de um dos grupos de rap de maior nome no país, o Racionais MC’s.

“Depois que entendi que poderia fazer as coisas, virei um trator.  Vou lá e faço”

Com os filhos já adultos, Eliane confessa que a maternidade foi bem mais difícil do que ela imaginava. “Você tem que ser exemplo o tempo todo”, diz, lembrando que pequenas atitudes, como pedir para a criança mentir no telefone que você não está quando atende uma chamada, refletem no aprendizado moral. “Está nos detalhes”. 

No processo de educação, Eliane vivenciou o que outras milhares de mães pretas no Brasil passam ao querer educar e proteger seus filhos. “A questão racial é dolorosa para qualquer mãe preta. E deveria ser uma reflexão para a mãe branca.” O mais difícil foi alertar os filhos, desde muito pequenos, que eles teriam que lidar com certas perseguições ao longo da vida por serem negros, e que amigos brancos na mesma situação teriam um tratamento diferente, como em abordagens policiais. “Isso é muito difícil de explicar”, diz.

Porém, quando o assunto é autoestima, ela acredita que seu exemplo foi positivo para que os dois aprendessem a ir atrás do que querem. “Demorei a saber que eu poderia fazer as coisas. Depois que entendi, virei um trator, vou lá e faço”, conta. “Eles foram vendo essa mulher que não aceita não como resposta com facilidade, então eles foram crescendo vendo que as coisas são possíveis.” Ajudar a desenvolver a autoestima de Domenica, no entanto, foi mais complexo. “O machismo é forte, ele é grande, ele empodera. Os homens olham para os meninos como se fossem um cristal e os protegem. Já as meninas recebem ordens para ser forte, ralar e enfrentar diversas coisas”, avalia. 

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Olhando para si, a ativista brinca que vira e mexe dá as caras na academia, mesmo não conseguindo treinar devido a correria do dia. “Não vou três vezes por semana como gostaria, mas vou”, diz. Em relação à saúde mental, ela tem o acompanhamento de uma psiquiatra, com quem conversa muito. “Eu nunca tinha feito terapia, até ter duas crises de ansiedade na pandemia, tudo por responsabilidade minha.”

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