Você tem o direito de descansar sem culpa e sem justificativa. Não sei quem você é, nem onde mora. Não sei onde trabalha, nem sua cor favorita, mas posso afirmar: se você é brasileire, está precisando descansar. Adivinhei?
Poderia dizer que, como trabalhadora, meu conhecimento empírico somado à observação da sociedade já me dão argumentos suficientes para a afirmação acima, mas, se você quer números, vamos lá:
- 65% dos brasileiros sofrem de distúrbios do sono, percentual acima da média mundial, que é de 45%;
- O Brasil é o 2º país com o maior número de pessoas afetadas pela síndrome de Burnout no mundo;
- Além disso, segundo a OMS, somos o país com a maior taxa de pessoas que sofrem de ansiedade e o quinto em casos de depressão.
Para contrapor esses dados, poderia enumerar os benefícios do descanso e do sono, mas não deveria ser necessário argumentar a favor de algo tão vital. Não quero gastar linhas de texto para convencer você sobre a necessidade de descanso, pois descansar é um direito moral e também uma garantia da Constituição e do regime CLT.
Percebo que, em um mundo que popularizou a frase “Trabalhe enquanto eles dormem”, já não se pode esperar que o direito ao ócio seja realmente compreendido pela sociedade, pois descansar virou algo contraintuitivo.
Ah! E não me venham com o tal do “ócio criativo”, a gente tá precisando descansar mesmo. Real oficial. Nada para fazer, pernas pro ar, sem agenda, nadinha. Não adianta reclamar de Burnout e problemas de saúde mental da boca pra fora: precisamos de DESCANSO.
Não basta apenas aprender a priorizar e a dizer não. Descansar tornou-se subversivo, é uma prática de batalha e libertação
Ninguém quer que você pare, porque a maioria de nós nunca teve a referência de pessoas que têm essa prioridade, então não existe um modelo a ser seguido. Para Tricia Hersey, ativista do descanso e fundadora do The Nap Ministry, descansar de verdade é uma prática de batalha e libertação.
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Não basta apenas aprender a priorizar e a dizer não. Descansar tornou-se extremamente subversivo. Para descansar de verdade, precisaremos colocar alguma resistência aos modos de viver capitalistas, caso contrário, nossa energia e encantamento pela vida serão cada vez mais drenados.
Então, este texto é um convite para reflexão, questionamento e revolta. Em vez de um passo a passo de relaxamento e autocuidado, que geraria ainda mais trabalho, quero deixar algo diferente, uma única pergunta: o que você NÃO vai fazer em 2022?
Interrompa um sistema que a vê como máquina. Reivindique sua humanidade e seu direito ao descanso.
Você não é menos capaz, competente ou inteligente por pausar.
Somos seres humanos. Caso as outras pessoas esqueçam desse detalhe, nós é que precisaremos relembrá-las.
* Maíra Blasi é Designer Organizacional e Fundadora da Subversiva, consultoria especializada.