Se antigamente a maternidade era tratada como prioridade na vida de grande parte das mulheres, hoje em dia, essa experiência fica cada vez mais em segundo plano. Para se ter ideia, entre 2000 e 2019, o número de mulheres que passaram a ter filhos entre 30 a 39 subiu de 26% para 39%, como mostra pesquisa de 2020 da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade). Nesse novo cenário, o mercado de congelamento de óvulos fica cada vez mais aquecido. 

A chance de um óvulo congelado virar um bebê é de 2 a 12%

A possibilidade de adiar a gestação criou uma nova pressão sobre as mulheres. A promessa de que congelar óvulos antes dos 35 anos garante mais sucesso de gravidez depois dessa idade gera ansiedade mesmo entre aquelas que têm dúvidas se querem ser mães. O mercado agradece: nos Estados Unidos, a procura por congelamento de óvulos cresceu 50% em 2020 comparado a 2019, segundo artigo publicado na revista Times. “Vende-se a ideia de que seria possível parar o relógio biológico e prever a reserva ovariana. Mas quanto disso corresponde à realidade, e a que custo?”, questiona a ginecologista Halana Faria, em artigo publicado na AzMina. A médica aborda o assunto com frequência também em suas redes sociais.

Para começar, o procedimento não é acessível. Pelo contrário, cada ciclo para retirada de óvulos pode custar de R$8 mil a R$20 mil, fora o valor da anuidade do congelamento, que custa cerca de R$1000. O que torna essa novo “tem que” feminino bem elitista. Também vale destacar que a chance de um óvulo congelado virar um bebê é de 2 a 12%, de acordo com publicação da Assisted Reproductive Technology de 2015. Nesse cálculo entram as perdas no descongelamento e também na Fertilização In Vitro necessária no processo. E mais: “só é possível confirmar a qualidade do óvulo após ele ter sido fertilizado e avaliarmos o desenvolvimento do embrião”, destaca Rodrigo Rosa, membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana em entrevista a Veja Saúde. Ou seja, congelar seus óvulos aos 30 não garante uma gravidez aos 40.

+ Leia também: Perdi o medo de ser mãe, mas ainda não decidi se quero ter filhos
+ Leia também: Escolhi não menstruar (e não sou menos mulher por isso) 

Os riscos do procedimento também são poucos falados, como a possibilidade de desenvolvimento de trombose e complicações decorrentes do estímulo ovariano com indutores de ovulação. Por isso, antes de sofrer de ansiedade para decidir se quer ou não congelar óvulos, vale a pena pesquisar tudo sobre a técnica. Será que faz mesmo sentido para você? Ou só está sucubindo a uma pressão social e externa que existe em cima de milhares de mulheres? É claro que a técnica é maravilhosa e a possibilidade de congelamento é muito útil para diversas mulheres, ninguém está questionando esse avanço científico. A pergunta que deixamos aqui é: será que é pra todo mundo?