Como o medo de não ter dinheiro nos aprisiona - Mina
 
Seu Trabalho / Textão

Como o medo de não ter dinheiro nos aprisiona

Numa sociedade onde ter dinheiro representa liberdade, Maíra Blasi relembra, sem romantismo, do que é preciso para driblar a lógica da escassez e realizar sonhos.

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Infelizmente o dinheiro tem mais poder do que eu gostaria que tivesse. Num mundo capitalista, dinheiro representa liberdade, seja lá o que liberdade signifique pra você. Na minha concepção, liberdade é fazer escolhas baseadas no que você quer, não no medo.

Olhando para toda a minha vida e carreira, vejo o quanto micro decisões foram pautadas pelo medo e não pela minha vontade: vim de uma família pobre, com uma mãe dona de casa e um pai que morreu bem jovem, deixando 3 filhos. Ganhar dinheiro era uma prioridade para a filha mais velha que queria ajudar a mãe em casa, então o receio de que nos faltasse algo fez com que eu crescesse associando dinheiro a medo, não a prosperidade. 

Estava sempre tomando decisões por medo de faltar algo

Mesmo querendo fazer faculdade de Comunicação Social, decidi cursar Administração, porque via muito mais oportunidades nos sites de vagas. Logo nos primeiros empregos fui para áreas de vendas, pois pagavam comissões que poderiam aumentar exponencialmente meu salário. Dividia apartamento com uma amiga, comprava somente o necessário, e fui me organizando financeiramente e crescendo na carreira, sempre tomando todas essas decisões por medo de faltar algo. Eis que um dia eu estava ganhando o famoso 10K/mês, que parecia um sonho distante, mas que tinha alcançado. Nesse dia, quando me percebi com minhas necessidades básicas atendidas, consegui respirar e pensar: mas era isso mesmo que eu queria?

Sei que estou falando isso de um lugar de muito privilégio, que ganhar esse salário me colocava entre os 5% mais ricos do país, mas a verdade era essa. Ganhava 10K? Ganhava. Estava feliz e me sentindo bem? Não exatamente. 

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Engoli muito sapo no mundo corporativo por medo de ser mandada embora, medo de não ter dinheiro, medo de ficar desamparada. Ou seja, por estar presa a uma mentalidade de escassez que é totalmente natural para a pessoa brasileira que cresce em um cenário desafiador. Nossa sociedade é construída para realimentar constantemente essa lógica, existe um interesse em manter as pessoas – principalmente as mulheres – com medo porque é através desse medo que o controle é exercido. Se não tem o bastante para todos, os outros são meus inimigos. O melhor jeito de vencer a competição é se submeter aos desejos de quem tem poder. 

“E se acabar? E se não tiver?” são pensamentos que até hoje aparecem para me assombrar ocasionalmente. Só que nesse processo todo, com algum sofrimento, fui tomando consciência do meu potencial e construindo uma autoestima maior, que despertou em mim a coragem para ser quem eu era. E algo começou a acontecer: quanto mais coragem eu tinha, mais naturalmente caminhava para lugares onde o dinheiro era mais abundante. 

Todo dia eu me pergunto o que posso fazer pelos meus sonhos em poucos minutos

Achar que as coisas vão se desenrolar naturalmente não me parece um bom caminho em um país tão desigual e injusto, portanto se organizar é necessário. Eu só consegui aprender isso quando já estava bem organizada financeiramente, depois de juntar dinheiro e conquistar um salário que julgava como um ideal de vida. Mas talvez a coragem tenha começado a nascer antes. Quando eu ainda era CLT, comecei a me enfiar no mundo de palestras em eventos gratuitos, mudei de carreira algumas vezes, fui levando uma coisa e outra no paralelo, muitas vezes sem ter total visão de onde aquilo ia dar. Ter dinheiro abriu espaço mental para meus desejos e sonhos, mas a intenção de mudar já estava lá.

Não gosto dessa coisa de “trabalhe enquanto eles dormem”, então fui conciliando devagar mas com consistência, todo dia um pouquinho. No livro “1% Melhor a cada dia”, o autor defende que se formos 1% melhor todo dia, isso vai gerar um efeito acumulado que se potencializa com o passar dos anos. Por isso, todo dia eu me pergunto o que posso fazer pelos meus sonhos usando 10 minutos, 30 minutos? Substituí o “quem eu quero ser em 5 anos” por “como quero me sentir no futuro?”, e essa nova métrica tem mudado o rumo dos caminhos que tenho tomado. 

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Nem todo mundo pode se arriscar, e para quem não pode, talvez o segredo seja insistir dentro de um contexto limitado. Se você estiver se sentindo aprisionada, esse é um lembrete para dar aquele passinho em direção ao seu sonho, mesmo que pequeno. As palavras-chave são Organização e Coragem. 

Eu queria MUITO ter tido coragem antes, ter pedido ajuda antes, ter percebido antes que o medo não estava sendo um bom impulsionador de vida. Infelizmente não esbarrei em um texto como esse na época. Deixo aqui para você a mensagem que eu gostaria de ter lido. Espero que ela te encontre na hora certa.

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