Chega um momento em que quase todo ser humano pensa “e se eu mudasse de carreira?”. Os motivos variam: cansaço da mesmice, discordância da metodologia de trabalho atual, vontade de fazer algo que realmente gosta ou que possa render mais dinheiro.
Se essa vontade tem passado pela sua cabeça, talvez seja a hora de avaliar se é apenas um impulso passageiro ou se não é mesmo o momento de transformar essa ideia em um plano plausível e seguro. A seguir, especialistas dão dicas para quem quer transformar esse pensamento em ação sem que a vida vire um caos ou o plano saia pela culatra.
Tomar a decisão com consciência
Um dos passos mais importantes ao “recalcular a rota profissional” é entender o porquê dessa mudança e o que exatamente você está buscando com ela. Por isso, antes de jogar tudo pro alto, é fundamental analisar os motivos da frustração atual. O problema é com a função, com a equipe? Tem a ver com a remuneração? Para alguns, talvez tenha a ver com o desgaste de ser empreendedor. Ou é simplesmente cansaço de fazer a mesma coisa? Dica: coloque tudo isso na ponta do lápis, traçando as vantagens e as desvantagens da sua situação atual e daquela pra onde você presente migrar.
Após traduzir a frustração, é hora de olhar para o futuro e pensar: “o que eu busco na carreira, na profissão ou no trabalho”? Repita o exercício da “ponta do lápis” e tente traçar os seus desejos e objetivos. Tudo isso sem romantismos, como orienta a estudiosa da felicidade corporativa e fundadora do Reconnect Happiness at Work, Renata Rivetti.
“Jogar tudo pro alto em nome de uma ilusão pode ser perigoso”
Para ela, a transição profissional deve ser encarada de maneira prática e com os pés no chão. “Como é que a gente se prepara? Estudando a nova área de atuação, fazendo cursos e especializações. Uma transição lenta e planejada, quando dá, é o melhor caminho. Aquela ideia de ‘jogar tudo pro alto’ em nome de uma ilusão pode ser perigosa”, aconselha. E veja, aqui estamos falando de uma decisão pessoal e não de nada externo que nos empurre para outros caminhos.
Fazer terapia pode ajudar a amarrar tudo
Nem sempre é fácil entender os motivos pelos quais queremos mudar de área de atuação. Então, se o exercício da ponta do lápis não render muito para você, pode ser o caso de buscar acompanhamento psicológico para construir essa reflexão. A terapia ajuda a organizar os pensamentos, definir o que é fundamental para você e a compreender melhor a origem das angústias.
Não é incomum a pessoa pensar que o problema é o trabalho, mas, no divã, perceber que esse incômodo é apenas um reflexo de outras questões internas que ainda não tinham vindo à tona – muitas vezes, até relacionadas a outras áreas da vida. Esse mapeamento é importante para evitar que você acabe apenas mudando de endereço e levando o sofrimento junto.
Prepare-se financeiramente
Para diminuir a insegurança (normal em qualquer mudança grande), a psicóloga Bianca Mayumi, que pesquisa a mulher, receita o planejamento financeiro. Para isso, é importante primeiro entender quanto se ganha, no que se gasta, além de estabelecer metas a curto, médio e longo prazo.
Considere cortar despesas e preparar uma reserva financeira. Um colchão financeiro, mesmo quando pequeno, “pode ajudar a diminuir os efeitos da instabilidade e agir como um fator de cuidado com a sua saúde mental”, explica Mayumi. Mudar já é intenso, ficar sem grana nesse momento só piora as coisas.
Essa reserva pode ser usada para “amortecer” surpresas e evitar o endividamento. O valor da reserva varia de pessoa para pessoa, mas especialistas apontam que (no mundo ideal) o melhor é ter à disposição um fundo para cobrir seus gastos durante um período de cerca de 6 meses. Mas se fazer uma reserva desse tamanho não é viável, não desista de juntar o tanto que for possível, corte gastos, você não vai se arrepender.
Prepare-se emocionalmente
A psicóloga Bianca Mayumi lembra que ter apoio emocional, principalmente nos círculos mais próximos, é crucial para realizar esta mudança. “Mais importante do que estar psicologicamente preparada é estar socialmente amparada – seja pela família, amigos, companheiros. É ter um espaço para falhar e para se aprimorar sem ter que carregar tanto nas costas”, diz.
Aceitar que dificuldades podem surgir ajuda a encará-las com menos sofrimento
Ao mesmo tempo, é igualmente importante alinhar expectativas consigo mesma para reduzir os desapontamentos. Talvez o trabalho (a carreira ou o negócio) dos seus sonhos – ou aquele que combina com o seu novo estilo de vida – não tenha tantos benefícios salariais quanto o anterior. Pense se esses aspectos são ok pra você?
Ainda assim, vale lembrar que mudanças grandes como essa costumam chacoalhar tudo. Tenha em mente que pode ser que não saia tudo como o planejado, pelo menos em um primeiro momento. Aceitar que dificuldades podem surgir ajuda a encará-las com menos sofrimento.
Não se iluda
Trabalho é trabalho – e nem sempre seu dia será perfeito. Não vai ter área que não tenha tarefas chatas, desafios complexos, prazos, cobranças, colegas de trabalho que funcionam diferente ou tensões e desconfortos de quem decide empreender. Achar que irá eliminar todo tipo de descontentamento ao mudarde carreira é uma ilusão.
Tente focar no que te dá a sensação de dever cumprido e contentamento ao invés de se apegar aos problemas. “Quando a gente pensa que a felicidade não vem de uma vida monótona ou apática, ou de não ter nenhum desafio, a gente começa a entender que o trabalho pode ser fonte, sim, de felicidade para gente encontrar mais sentido e realização”, destaca a psicóloga Renata Rivetti.