Célia Xakriabá: “A sociedade é como uma floresta. Quanto mais diversa, mais sustentável”
A deputada federal eleita conversa com Angélica sobre a importância de se olhar para os povos indígenas e seus conhecimentos como elementos essenciais para o equilíbrio do planeta.
Equilíbrio é uma das bases do bem-estar. Tanto nas relações humanas, quanto na interação com o planeta. Os saberes dos povos originários têm muito a nos ensinar sobre a construção de um futuro mais sustentável para todos. Para conversar sobre isso, Angélica recebe a ativista indígena reconhecida mundialmente, Célia Xakriabá, doutoranda em antropologia e deputada federal recém eleita por Minas Gerais.
Célia costuma trazer o dado que os indígenas representam 5% da população mundial e protegem 83% da biodiversidade global. Então é muito contraditório que neste momento de necessidade de tratar as questões climáticas, essas populações sejam tão perseguidas. “Somente em 2019, foram 135 lideranças indígenas assassinadas, e em 2020 foram 185″, alerta a futura deputada, que destaca também as violências com grupos ainda mais vulneráveis. “Quando matam mulheres indígenas e crianças, a humanidade está perdendo a capacidade de amar”.
“Não existe Brasil sem nós indígenas”
A ativista defende que, para reflorescer a mente da importância de se olhar para a natureza, é preciso ocorrer uma mudança drástica na cabeça de pessoas não indígenas. “Temos um desafio de descolonizar a história, o olhar, o pensar, porque acredito que toda monocultura mata, não somente o território, mas também o pensamento, uma geração e uma sociedade.” Célia faz analogia com um prato de comida, que quanto mais colorido, mais saudável é. “A sociedade é como uma floresta. Quanto mais diversa, mais sustentável.”
Prestes a assumir sua cadeira na Câmara dos Deputados, Célia comenta que terá somente ela e mais três indígenas em um ambiente com 513 deputados. “Para mim, democracia não é ouvir a maioria. Democracia é ouvir a todos – e o todos começa por esse Brasil tão ausente”, diz se referindo aos povos originários. “A gente fala que não existe Brasil sem nós”. Célia defende que, se a lógica econômica e de produção não for repensada, será ruim para todo mundo, não só para os indígenas. “As pessoas se distanciaram tanto da questão da terra, que não a entendem como parte delas. Nós não somos só ativistas ambientais, somos o próprio meio ambiente”.