Carolina Dieckmann fala sobre fazer 45 anos - Mina
 
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Carolina Dieckmann: “Eu fiz 45 anos e tenho umas coisinhas pra dizer” 

Depois de especulações invasivas sobre estética e aquele velho papo de não parecer ter a idade que tem, nossa colunista faz um desabafo

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Fazer 45 não era nada demais. Sequer havia uma expectativa, além do lugar em que eu passaria o meu aniversário. Pois é. Uma astróloga me recomendou umas opções, e eu estava concentrada na missão de escolher uma. Viajar para passar a data fora do Rio já era em si, uma grande mudança, um assunto novo. Pra que mais?

Mas um post com foto tipo selfie, pipocou nas redes com um 45 bem grandão na minha testa, um monte de comparações, deduções, especulações… e de repente eu me senti estranha, como se fosse mentira o tamanho da minha estrada.

Parecer jovem.
Não parecer velha.
Estar melhor do que a idade sugere.
O que ela fez? O que ela faz???
Como assim, 45?
Ela faz isso. Ela fez aquilo.
Mexeu na cara toda.
Nas rugas. No maxilar. Maxilar??
Botou botox na boca. Oi??? Existe isso?
Fez plástica, certeza. Está irreconhecível. Coitada!
Foi harmonização, que eu sei! Ah, essa foi boa… harmonizei o quê? A idade? Ou ando trocando meu sangue?
Será que ando morando escondida numa clínica de estética?

Cheguei numa idade em que deveria estar péssima?


Meu Deus, não consigo nem dizer qual parte é a mais doida.
E tudo porque passou um ano. Porque certamente eu cheguei numa idade em que deveria estar péssima, claro!

45 pesa? Ah, tá mais perto dos cinquenta, né? Do hipotético meio da vida?
Você tem medo de quê?
De adoecer? De não ter feito as coisas que queria?
De não poder ter mais filhos?
De não falar um inglês perfeito?
De ainda não ter escrito seu livro?
De não ter mais tanto tempo com a sua avó? De ter menos tempo?

Eram essas as perguntas que eu gostaria de responder… E seriam essas coisas a serem ditas sobre a minha idade. Isso, no caso de estarmos vivendo em tempos “normais”. Mas não se pensa mais assim… “normal”. E tô usando a palavra normal, sem nem saber se ela faz mais sentido. É só mesmo no desejo de ilustrar algo antagônico ao absurdo.

Mas o negócio agora é, justamente, quanto mais absurdo, melhor.

O questionário Proust, tadinho, mais fora de moda impossível. Por que não se pergunta mais sobre o que se tem por dentro? Será porque a casca virou o enredo? A pele: esse troço com escassez progressiva de colágeno. Esse inferno!

Olha, eu fiz 45.
Eu tô com um monte de sonhos.
Eu tô com milhões de planos.
Talvez meu corpo não engravide mais.
Com certeza minha avó vai ter menos tempo comigo do que já teve. Provavelmente eu tô mais perto do fim do que do começo.
Tô agradecendo cada dia que não descubro uma doença .
Rezando pra ser avó um dia.
Estudando inglês de vez em quando, pelo menos pra não piorar. Pensando no meu livro.
Desenhando o que me inspira na vida…
Lendo mais do que malhando,
Rindo mais que chorando.
E indo no dermatologista, sim…
Fazendo minhas coisinhas, sim…
Pero no mucho.

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