O carnaval é cura e libertação - Mina
 
Nosso Mundo / Reportagem

Carnaval não é só uma grande festa, é também cura e libertação

Além de especialista em futuro do trabalho, Maíra Blasi é saxofonista e organizadora de blocos. Aqui, ela mostra o que o carnaval tem a ver com bem-estar, conforto e afrontamento à cultura do individualismo

Por:
4 minutos |

Se, para você, o carnaval se resume a uma grande bagunça, trago boas novas: talvez ele não seja isso que você está pensando. Ele é, sim, uma enorme festa. Tem, sim, sua dose de caos. Porém, olhando mais de perto, é muito nítido que existe algo muito especial no carnaval. Não é à toa que gera sentimentos tão profundos em tanta gente: ele proporciona não só histórias de diversão, mas também de encontro, de cura e de libertação.

+ Leia mais: 10 passos para ter um corpo de verão
+ Leia mais: Cinco dicas para curtir o carnaval com mais bem-estar

O carnaval é um afrontamento a tudo que a gente tem visto na sociedade em termos de individualismo, digitalização e isolamento. É quando um monte de gente sai da frente do computador, larga o celular e vai para as ruas encontrar pessoas que querem a mesma coisa: dançar, se fantasiar, viver os 4 (ou 30?) dias de uma vida mais alegre, mais bonita e mais coletiva. 

Aí você me diz: uma festa gigante na rua tem tudo para dar errado e virar uma confusão. Porém, a realidade é que funciona há séculos. É uma tradição do nosso país. E envolve muito planejamento, engajamento e compromisso. Enquanto organizadora e participante de bloco, sou testemunha viva de quanto trabalho dá. E também de quão gratificante é, não só o momento em si como os encontros que acontecem no caminho até ele. 

Carnaval não é terapia, mas é terapêutico

Ultimamente tem muita gente dizendo que é difícil fazer amigos depois dos 30, mas muitos dos meus melhores amigos eu fiz após atravessar essa linha – e muito graças ao carnaval. Ele é como um filtro que seleciona pessoas engajadas em transformar a vida em uma coisa boa, dispostas a compartilhar a energia da animação. Quando perguntam “onde vocês se conheceram?”, eu brinco: essa aí eu achei na rua. E foi mesmo. No meio da folia. 

Além da minha própria experiência, já ouvi muitas histórias de pessoas que descobriram um propósito para a vida através do carnaval. De mulheres que encontraram um caminho para resgatar sua autonomia, de artistas que conseguiram uma forma de expressão. Para essas pessoas, a catarse coletiva se transformou em experiência espiritual, de conexão com a humanidade tanto no nível individual quanto comunitário. E também tem as histórias de quem melhorou de episódios depressivos ou conseguiu contornar o burnout participando de blocos, desfiles e festas. 

+ Leia mais: É a hora de mandar a calma para a PQP
+ Leia mais: O que está apressando a sua vida?

Porque a celebração não é uma coisa que acontece só quando a vida está fácil e sobra tempo. Muito pelo contrário, às vezes, ela serve justamente para resgatar o sentido da vida e trazer encanto para a existência. Não é terapia, mas é terapêutico. E o carnaval leva essa experiência à potência máxima por ser sua versão mais aberta e coletiva. 

É na rua, onde todo mundo pode estar, que conseguimos quebrar barreiras sociais de uma forma revolucionária. Como diz Luiz Antonio Simas: “O carnaval não é alienado nem quando é – aparentemente – alienado. A alegria é transgressora. E eu não tenho dúvidas de que, ao longo da nossa história, os canalhas e reacionários sempre preferiram enfrentar a sisudez do compenetrados que a transgressora alegria dos festeiros”.  

Carnaval não é só perrengue, suor e álcool. É também um lugar de alegria, conforto e encontros

E o que talvez seja mais mágico disso tudo é que, apesar de ser essa experiência tão abrangente, cada história vem de um tipo de carnaval diferente. Tem muitos carnavais, em tudo que é forma, para todos os gostos, com todos os ritmos: tem frevo, tem samba, tem maracatu, tem marchinha, tem axé – tem até bloco emo. Carnaval não é só perrengue, suor e álcool. Carnaval é também um lugar de alegria e conforto, um lugar de encontros. Ele pode ser tudo o que você se abrir para que ele seja. 

Mais lidas

Veja também