Ana Suy: “A gente aprende a se amar sendo amado”
Autora do livro “A gente mira no amor e acerta na solidão”, a psicanalista desmistifica várias ideias que temos sobre esse sentimento tão buscado por todos nós
O amor é um sentimento universal, mas ainda assim parece algo complexo de lidar para muitas pessoas. Para destrinchar isso, Angélica recebe a psicanalista e escritora Ana Suy, autora do livro A gente mira no amor e acerta na solidão, em que reúne experiências pessoais e pesquisas acadêmicas sobre esse tema. “Ele veio de uma impossibilidade de escrever e pensar o mundo sobre outras perspectivas que não fosse essa, afinal tudo é sobre o amor.”
Ana diz que a gente aprende a se amar sendo amado. Então é muito complicado quando começam os discursos sobre amor-próprio, como se bastasse a pessoa decidir que gosta de si mesmo para o sentimento tomar conta. “Essa história começa numa geração anterior, é primitiva a forma como ele vem”, explica.
“O amor tem a ver com uma coisa nossa que se engancha em alguma coisa do outro”
Saindo da singularidade e pousando na pluralidade, o poliamor tem sido muito falado ultimamente e muitos se questionam: dá pra amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo? “Claro que sim”, garante a psicanalista. “A gente tem muitas modalidades de amor diferentes. Só que quando se fala da parceria romântica, a gente tende a pensar que é um sentimento que se repete, mas acredito que cada amor é único, mesmo o materno.”
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No entanto, Ana garante que isso não tem a ver com intensidade, mas com a forma de se amar. “O amor tem a ver com uma coisa nossa que se engancha em alguma coisa do outro, então vai depender de quem é ele e de qual lugar em nós ele vai se encaixar pra que essa experiência amorosa aconteça. Então isso não se replica”, diz.
“O amor romântico é uma falsa ideia de que o encontro amoroso não dá trabalho”
Entre as muitas discussões que essa palavrinha tão pequena desperta, a mais recente delas tem sido em relação ao amor romântico, conceito que diz que estamos destinados a achar a nossa alma gêmea, nossa outra metade. “É uma ideia falsa de que o encontro amoroso não dá trabalho”, define. Para inscrever esse sentimento no tempo – indo além da paixão – é preciso trabalho, desencontros e renúncias, explica a psicanalista.
Ana também destaca que enxergar a solidão como a ponta oposta do amor é o que a faz ser vista de uma forma pejorativa. “A gente escuta desde cedo que vamos ficar sozinhas se fizermos determinadas coisas, que ninguém vai nos querer. As mulheres principalmente são ensinadas a se fazer amáveis para sentir que deu certo”, pontua. No entanto, ela defende que não existe o amor sem a solidão, que afinal é a nossa condição de chegada na vida. “É justamente por sermos sozinhos por estrutura que vamos ao encontro com o outro, mas ele não nos livra da solidão. É uma dança”, enfatiza.