Por que decidi tirar meu silicone - Mina
 
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Por que decidi tirar meu silicone

Carolina Dieckmann faz um relato pulsante sobre a decisão de voltar seu seio ao natural. “Até quando pressões estéticas externas vão ditar os nossos processos?”

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3 minutos |

Explante.
Uma nova palavra para chamar de minha.
Sempre gostei de vestir palavras.
Cada vez que você se dá conta de ser alguma coisa,
se apropria dos significados…
Assim, ao longo da vida,
somos vocábulos;
Ou por conta do destino,
Ou por conta das escolhas.
Foi depois de amamentar meu segundo filho,
13 anos atrás,
que me olhei no espelho e não reconheci meu corpo.
Mais precisamente, meus seios.

Que mulher não se transforma desde as profundezas, até os fios de cabelo, com a maternidade?

Eu tinha sido convidada para interpretar uma surfista.
Depois de ter engordado 30 quilos,
emagrecidos a marra, na base da fome
e com peitos amiudados pela amamentação.
Hoje, eu sei que me faltava um significado;
ou, pelo menos, o entendimento dele.
Mas, naquele 2008,
preenchida de ausências,
e de um desejo de ser como antes,
coloquei silicone.
Durante muito tempo, nem falei sobre isso.
Quase não se notava, era pequeno, combinava comigo.
E além do mais, ficou lindo, que mal pode haver nisso?
Mal nele em si,
não vi…
O mal estava em mim.

Arte produzida por Carol

Um mal de não se compreender como ser mutante.
Impermanente, esponjoso de experiências.
Um mal de querer voltar quando já não é possível.
Afinal, que mulher não se transforma desde as profundezas,
até os fios de cabelo,
com a maternidade?
É natural, óbvio, justo.
Que nossos corpos transbordem essas mudanças.
Minha decisão de explantar tem a ver com esse amadurecimento.
Não, eu não tive nenhum problema com as próteses.
Elas estavam em perfeito estado,
sem aderências, nem desconforto.
Mas, além da escolha livre,
muitas mulheres precisam retirar por inúmeros problemas
e esse percentual não para de crescer,
tanto num caso, como no outro.

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Estima-se que no Brasil
cerca de 319.000 mulheres coloquem silicone a cada ano.
O que o Google não me disse foi quantas dessas mulheres retiram,
Mas sei que são muitas, cada vez mais.
O meu doce intuito com esse relato
é te dizer que fiz, não me arrependi,
mas se voltasse no tempo,
não faria.
Isso porque, apesar de ter ficado satisfeita com o resultado externo,
ele nada tinha a ver com quem eu era internamente.
Não me representava.
E me pergunto:
até quando as pressões estéticas externas
vão ditar os nossos processos?
Será que é mesmo sobre o que achamos bonito
ou é justo sobre aceitação?
E até onde (e por que)
nos permitimos ir numa busca de algo que talvez
acalante os olhos, mas nunca o coração?
Sei que as cirurgias plásticas ‘salvam’
em inúmeros sentidos e casos.
Mas quantas delas são realmente necessárias?
Se eu que fiz, não faria.
Se cresce o número de mulheres que escolhem tirar.
O que isso significa?
Eu não tenho uma resposta.
O Google também não.
Mas talvez você encontre,
por mim,
por si,
E é só por isso que eu vim aqui.
Prazer, Carolina, #explantada

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