Dandara Pagu: “Será que não estamos preparadas para a masculinidade sensível?”
A trend “POV homens 2024”, que viralizou no TikTok, dividiu opiniões e virou convite para uma reflexão sobre a masculinidade que estamos buscando
A trend em questão, “POV homens 2024” se resume a mulheres héterossexuais fazendo expose de troca de mensagens ou comentários recebidos em seus posts que elas julgam ser sensíveis demais. Coisas como “que lindo seu esmalte”, “amooo esse restaurante”, ou “quando é você vai me chamar para sair?” escritas por homens são compartilhadas em tom de chacota e deboche.
Fiquei me perguntando onde essas moças queixosas estavam enquanto a gente lutava justamente por uma masculinidade mais sensível. Batemos tanto na tecla de que era preciso que os homens soubessem abordar as mulheres sem pegar no braço ou encostar na parede. Rezamos tanto por uma maneira menos bruta e machista de se relacionar… E quando isso acontece, reprimimos? Não em meu nome, por favor.
Ser verdadeiro com os sentimentos não é fraqueza, e sim força
E aqui precisamos fazer uma diferenciação básica: gente sensível não tem nada a ver com gente sonsa, tá?
No livro A gente é da hora, homens negros e masculinidade a escritora afro americana, bell hooks, questiona qual tipo de masculinidade buscamos nos homens, porque o machismo está impregnado na nossa sociedade e não isenta as mulheres. Muitas, até de forma inconsciente, acabam buscando o estereótipo do homem viril, protetor, másculo e insensível.
A mensagem passada nessa trend está abraçada na forma retrógrada de enxergar masculino e feminino. Ela vem junto com movimentos como “trad wifes” e “trofie wifes” e de mãos dadas com as coaches de energia feminina, que vivem pregando que o papel das mulheres é apoiar e sorrir. Precisamos avisar essas moças que relações saudáveis se baseiam em respeito e igualdade, não em dominação.
Da onde eu venho, a sensibilidade e a empatia devem ser celebradas, e o homem que se importa é um aliado valioso nos relacionamentos. Precisamos normalizar a vulnerabilidade masculina e deixar que esses boys saiam daquele papel onde não podem chorar e nem comentar sobre a unha. Anotem, ser verdadeiro com os sentimentos não é fraqueza, e sim força.
Entendo que num primeiro momento pode parecer estranho lidar com algo tão diferente, mas se vamos abrir espaço para uma nova masculinidade precisamos nos acostumar com gente que (graças às Deusas) deixou o personagem durão no passado.
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