Carol Dieckmann: "Tenho feito da minha internet um jardim florido" - Mina
 
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Como você alimenta o seu ambiente virtual: com afeto e sorrisos ou com reflexos da sua insatisfação com a vida? Carol Dieckmann faz uma reflexão sobre a forma como temos usado a internet

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Não foi à toa que eu fiz do título uma única palavra, que ela tenha sido dividida assim. Será que não somos mesmo uma espécie de E.T.’s internos nesse mundo virtual? Da pessoa que pouco utiliza, à que pouco entende, até a que troca muitas horas da sua existência real, todos intuímos com um certo estranhamento; afinal, a internet é coisa do bem ou do mal?

Eu, que sempre vejo o copo meio cheio, acredito piamente que existe um propósito benéfico e profundo na possibilidade poderosa que a internet propicia no ato de compartilhar. Sejam dados, imagens, notícias, pensamentos, conhecimento, além de tudo que seja pesquisável e que tornou o termo enciclopédia tão incompreensível quanto utilizável para as novas gerações.

A internet mudou pra sempre o nosso planeta; e acho que, até aqui, todo mundo concorda, né? Se se comunicar é mais sobre o que o outro entende do que sobre o que se diz, não viria daí importância crucial com o cuidado que se deve ter? Se pessoalmente já tem sido um desafio, imagina separados?

Quanto mais livre o sujeito se sente na internet, menos cuidado se propõe a ter

A atenção deveria ser uma premissa, principalmente pra internet, esse lugar tão comum e livre. Mas será que essa liberdade tem sido utilizada com responsabilidade? Quantas pessoas, principalmente mulheres, têm sido vítimas de perseguição, intimidação, chantagem, julgamento? 

Os números desses tipos de “crime” não param de crescer… É pra isso que queremos estar livres?? Pois a liberdade tem justamente subvertido as coisas e, quanto mais livre o sujeito se sente ali (ou menos exposto), menos cuidado ele se propõe a ter.

Por que estar protegido por uma tela nos dá ‘coragem’ pra dizer tão facilmente coisas que somos incapazes quando estamos frente a frente? Julgar o corpo, a roupa, se a pessoa fez procedimento, ou porque não fez… E tudo isso num tom agressivo, desrespeitoso, como se não importasse, como se não pudesse machucar alguém. Será que o fato de ser virtual nos dá a falsa sensação de que as coisas ditas e lidas ali não existem ou evaporam? 

Não, não evaporam. E muitas vezes deixam marcas profundas. Muitas vezes, levam ao suicidio. Por que temos conseguido ser tão piores nas redes?  Eu não estou falando só dos atos que são considerados crimes, porque hoje temos lei pra tipificá-los… Tô falando de mensagem de Instagram, de grupo de WhatsApp… Desse uso que eu tenho certeza que todo mundo que me lê aqui faz.

Por que então uma tela nos torna tão impermeáveis ao sentimento do outro? Talvez a resposta já esteja implícita na pergunta… Talvez a tela seja o tema. Talvez seja o fato de não ser olho no olho mesmo.

Tenho feito do meu ambiente virtual um jardim florido

Saber… eu não sei, mas me sinto atenta e tenho resistido. Tenho acreditado que é possível neutralizar ou, pelo menos, diminuir esses danos praticando o bem, falando coisas boas, bonitas, escrevendo poesias…

Tenho feito do meu ambiente virtual um jardim florido. E, mesmo quando algum mal escrito me abate, tenho tentado superar na base da gentileza, usando a calma e a paz como solo e fruto.

Esse é  o propósito do meu texto: te convidar a estar atento e a resistir mesmo que pareça impossível… Pro nosso bem mesmo. E pra que a tela e a rede virtual que sustenta ela não nos deixem cada vez menos humanos e mais parecidos com esse ser desconhecido que nos causa estranheza e medo – e que, pra todos os efeitos, chamamos de E.T.

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