Maíra Azevedo:  “Nós, mulheres pretas, somos dignas de ser amadas" - Mina
 
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Maíra Azevedo:  “Nós, mulheres pretas, somos dignas de ser amadas”

A humorista, que usa o riso como ferramenta de transformação, conversa com Angélica sobre humor e a solidão da mulher negra

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Riso é transformador e escancarar o ridículo de uma situação pode ser o primeiro passo para a mudança, o que serve tanto para os encontros e desencontros das relações amorosas, quanto para questões sérias como racismo, xenofobia e gordofobia. Esta semana, Angélica conversa com uma mulher que nos faz rir em meio às reflexões nas redes sociais. Autora do livro Como se livrar de um relacionamento ordinário, Angélica recebe Maíra Azevedo.

A soteropolitana e jornalista conta que começou a gravar vídeos bem-humorados na internet comentando situações cotidianas. “As pessoas estavam parando para ouvir o que eu tinha pra dizer. Se no jornal, eu tinha que ser imparcial, nas minhas redes eu podia mostrar o meu pensamento”, diz. Para ela, o humor é uma ferramenta poderosa que conecta. “O riso é agregador. E você usar dele para fazer as pessoas refletirem sobre as desigualdades, faz com que elas caiam na real.” 

“Não quero rir de quem é oprimido, quero rir de quem se propõe a fazer a opressão”

Por isso, ela usa a risada como ferramenta de mudança. Ao invés de rir de quem tem o corpo gordo, como é tão comum nessa sociedade, ela provoca risadas sobre o ridículo que é essa sociedade agir assim. “Provocar essa reflexão é a grande virada”, defende. “Não quero rir de quem é oprimido, quero rir de quem se propõe a fazer a opressão”.  

Sendo uma mulher preta e gorda, Maíra conta que já passou por muitos relacionamentos tóxicos e percebeu que mulheres parecidas com ela tinham tido vivências semelhantes. Foi aí que teve a ideia de reunir suas experiências em um livro para ajudar quem ainda está presa numa relação abusiva. “Falar sobre isso, inclusive, foi fundamental para romper esse  ciclo vicioso de me permitir ser abusada por pessoas que não enxergavam em mim uma mulher digna de ser amada.”

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Maíra destaca que o amor pode até não ter cor, como dizem por aí, mas a solidão tem cor, cara e corpo. “53% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres e 83% delas são mulheres pretas”, destaca. A problemática está não apenas na dificuldade de encontrar um relacionamento duradouro, diretamente ligado ao ideal estético que vendem por aí, mas na enorme taxa de assassinato de homens pretos. “Essas mulheres têm seus amores assassinados”. 

A humorista conta que fazer uma cerimônia de casamento foi uma decisão política. “Antigamente não tínhamos muitas imagens de noivas negras. É importante que as pessoas vejam que nossos corpos, nossas caras, também são dignos de serem amados”. A construção da sua autoestima está muito ligada às mulheres negras que ela admirava e acompanhava, então ela também tenta oferecer esse estímulo para quem enfrenta as dificuldades emocionais que ela já passou. 

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