Bela Gil: “Não dá para tornar a alimentação saudável e acessível sem boas políticas públicas”
A culinarista conversa com Angélica sobre a importância de se alimentar bem para a saúde e mostra os desafios para que esse direito seja garantido a todos
Em um país que voltou para o mapa da extrema pobreza, comer três refeições por dia é um luxo, comer bem, então, é um privilégio para poucos. Além da alta no preço dos alimentos, a falta de informação também se torna um problema, isso porque muitas vezes montamos o nosso prato sem saber a origem do que comemos. Para debater sobre como podemos mudar o mundo através da nossa alimentação, Angélica recebe a culinarista, apresentadora e chef de cozinha, Bela Gil.
Ela conta que sua relação com a cozinha não veio de casa. Foi só depois de começar a praticar yoga que entendeu que a comida é uma forma de prevenção, de tratamento, de cura de doenças, mas acredita que o caminho é mais simples quando somos ensinados na infância. “É muito mais fácil educar os nossos filhos a comer bem, do que deixá-los para se reeducar quando adultos.”
“É um dever do estado prover uma boa alimentação para a população”
Ao se aprofundar sobre nutrição, acabou se apaixonando também pela culinária. Porém, confessa que agora que abriu seu restaurante Camélia Odódó, em São Paulo, se acostumou a levar para casa a comida de lá. “Nada melhor do que colher os frutos. E a Flor minha filha cozinha muito, então volta e meia peço para ela preparar o jantar”, conta.
Além de se preocupar com uma alimentação saudável em casa, Bela se engaja para que isso esteja ao alcance de todos. “Pela Constituição, a alimentação é um direito. É um dever do estado prover uma boa alimentação para a população”, destaca. Após muito estudo sobre o tema, ela entendeu que o maior problema para que isso se torne realidade é o acesso, que ela divide em cinco tipos:
- Conhecimento. “As pessoas precisam entender por que elas devem consumir certos alimentos, como orgânicos e comida de panela, e evitar outros, como os ultraprocessados.”
- Acesso físico. “Tem pessoas que moram em desertos alimentares, em que precisam andar quilômetros para achar uma fruta fresca, um pé de alface.”
- Financeiro. “Você pode saber o que deve comer e encontrar o alimento, mas não ter dinheiro para comprar.”
- Ferramentas. “Acesso à gás, água, eletricidade, panela, tábua, faca. A gente precisa de tudo isso pra cozinhar.”
- Tempo. “A gente pode ter tudo isso, mas se não tiver tempo, não consegue.”
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No entanto, a chef não defende que todo mundo deve ir para a cozinha, mas que de alguma maneira esse processo precisa ser compreendido. Ela também reconhece que falar de produtos orgânicos em um país com alto índice de insegurança alimentar vira quase um discurso de positividade tóxica. “Não dá para a gente mudar a alimentação do brasileiro, tornar a alimentação saudável e acessível, se não tiver boas políticas públicas que tornem isso possível”, reforça.