O que a teoria do bem viver dos povos indígenas nos ensina sobre o presente - Mina
 
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O que a teoria do bem viver dos povos indígenas nos ensina sobre o presente

Uma das principais vozes indígenas, Daniel Munduruku conversa com Angélica sobre empatia, coletividade e a importância de viver o agora

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A tão falada empatia pode ser definida como “se colocar no lugar do outro”, mas fica difícil fazer isso quando você não sabe quase nada dele. Já parou para pensar o que você conhece dos povos indígenas? Eles estavam por aqui muito antes do Brasil ser o Brasil, tiveram um papel central na formação do país, a grande maioria dos brasileiros sabe muito pouco dessas culturas ancestrais. 

Para tentar melhorar um pouco esse cenário, Angélica recebe Daniel Munduruku, uma das principais vozes indígenas com mais de 50 livros publicados. “Eu sou um brasileiro nascido Munduruku. Para lembrar as pessoas que o Brasil é um país da diversidade”, se apresenta o ativista, lembrando que chamar os povos originários de “índio” é uma forma genérica, afinal coloca 305 grupos com culturas diversas em um só pacote. “Quando digo que sou Munduruku, estou dizendo que faço parte de um desses povos. Estamos presentes no Mato Grosso, Amazonas e Pará, da onde eu venho, e a palavra significa formigas guerreiras.” 

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Daniel Munduruku explica que a palavra “índio” é um apelido taxativo, sem significados, que recai sobre os povos originários, escondendo o jeito de ser de cada um deles. Já a palavra “indígena” é uma afirmação – significa “originário” em latim – por isso vem sendo utilizada. “Não se trata de politicamente correto, mas de um jeito de tratar o outro tal como ele é e não como gostaríamos que fosse. E é exatamente isso que se trata a palavra empatia, dita mais cedo”, pontua. 

Apesar das diferenças, os povos indígenas têm uma fonte semelhante de bem-estar. Eles desenvolveram a pedagogia do bem-viver, que é a ideia de que somos integrados. “Nosso corpo e mente é uma coisa só. O ocidente ensinou a gente a separar o corpo e a alma, o bem e o mal, mas entendemos que somos uma integração disso tudo. Os nosso saberes nos levam a buscar esse equilíbrio cada vez mais”, explica. 

“O bem viver é a ideia de que somos coletivos. Ou nos realizamos por igual ou a vida não é justa”

Na língua Munduruku não existe a palavra futuro. São tempos possíveis: o passado, que é o tempo da memória, e o hoje, que é o tempo do agora. Mas como não pensar no futuro vivendo no Brasil? O escritor é certeiro na explicação. “Esse mundo do futuro que ocidente nos propõem nos tira a responsabilidade de mudar as coisas, porque dá a impressão que alguém vai nos salvar. E, na verdade, viver a vida com plenitude é você se comprometer com o lugar que você está. Com a mudança possível”, diz.

Um exemplo é aquela pergunta que todo mundo ouve na infância: o que você quer ser quando crescer? “Quando perguntamos isso, estamos tirando a criança do presente. Estamos tratando ela como um projeto de mudança, transformação, ou riqueza. Porque o mundo ocidental é o mundo do relógio, da produção”, avalia Daniel. “O bem viver é a ideia de que somos coletivos. Ou nos realizamos por igual ou a vida não é justa. Somos educados não para viver o amanhã, mas o presente.”

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