Riso faz bem pra saúde - Mina
 
Seu Corpo / Reportagem

O riso faz bem pra saúde

Não é piada nem mágica: estudos comprovam que rir tem efeitos positivos sobre nossa saúde física e mental, podendo ser usado até como estratégia de sobrevivência. O melhor de tudo? É de graça e não tem contraindicação

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Em seu novo livro Rir é preciso, o psiquiatra Daniel Martins de Barros afirma que, além de propiciar momentos prazerosos que buscamos repetir, o humor e o riso têm um potencial oculto enorme do qual a maioria de nós nem desconfia. 

Rir não cura nada, mas trata tudo”

Embora declarar que “rir é o melhor remédio” possa ser um pouco exagerado, uma boa risada tem efeitos potentes. Diversos estudos relacionam o riso a mudanças positivas na frequência cardíaca, relaxamento muscular, melhora do sistema imunológico, alívio da dor, além de ser um ótimo antídoto contra o estresse. E, vale lembrar, rir não tem contraindicação. “Rir não cura nada, mas trata tudo”, resume Daniel.

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O humor salva este país

A risada também é uma ferramenta poderosa para administrar conflitos e reduzir a tensão quando as emoções estão em alta. Seja com parceiros, amigos, familiares ou colegas de trabalho, o uso do bom humor é capaz de reduzir a tensão no ambiente, trazendo leveza às interações sociais e facilitando conversas difíceis. 

O humor surgiu para a comediante Bruna Braga ainda na infância. “Eu fazia graça para pertencer, para não sentir o peso do bullying, para fazer amizades, para reafirmar minha existência. Eu me sentia invisível e eu precisava existir de alguma forma”, relembra. Já na fase adulta, ele foi o responsável por ajudá-la a lidar melhor com a ansiedade. “Eu passei a rir de mim mesma, do que me afligia, e quando você consegue rir de algo que você considerava um pesadelo, você entende que aquilo perdeu a força e não vai mais te machucar como antes”, afirma. 

Hoje, quando traz para o palco as suas próprias narrativas e relata suas vulnerabilidades, ela sente que é uma forma de humanizar suas dores. “Eu gosto muito de ser honesta com o que penso e sinto, e o humor me deu ferramentas para expressar isso de um jeito leve, enquanto me faço compreendida pelo outro, também me compreendo e consequentemente compreendo o outro também. A gente sente que não está sozinha”, diz. 

Quando tudo está pesado, um toque de humor pode ajudar

O riso não é apenas apropriado em tempos turbulentos, mas pode tornar os momentos adversos mais fáceis de suportar. Especialmente nesse momento pós-pandemia, em que todos precisamos nos reerguer emocionalmente, ele é uma forma bastante eficaz para isso. “O riso tem um poder enorme de gerar emoções positivas e afastar as negativas. Ele também tem o efeito de conectar as pessoas que riem juntas – e após tanto tempo trabalhando separadas, distantes no dia a dia, o riso compartilhado pode rapidamente nos colocar em sintonia”, explica Daniel. 

Ele conta que até nos campos de concentração existia humor, usado como estratégia de sobrevivência. E cita Viktor Frankl, sobrevivente do Holocausto que posteriormente se tornou um influente psicólogo, que relatou que “a vontade de humor – a tentativa de enxergar as coisas numa perspectiva engraçada – constitui um truque útil para a vontade de viver”. 

O riso não substitui a dor, mas dá as mãos para ela”

Para o educador, escritor e palhaço Cláudio Thebas o simples fato de nos tornarmos mais conscientes da importância do riso e do seu impacto mesmo em situações mais difíceis é um grande alento. Rir também pode ser uma forma de tentar se recuperar para seguir em frente. É muito comum, por exemplo, a gente ver pessoas rindo em velórios. E não é deboche ou pouco caso, é necessário. “Nesses momentos, o riso cria um breve respiro e abre espaço para que as pessoas possam em seguida continuar sentindo e expressando a sua dor, sua tristeza, seu desamparo. Ou seja, o riso não substitui a dor, mas dá as mãos para ela”, afirma. 

Para valorizar o riso é preciso aceitar a tristeza

Thebas acredita que só há espaço para a verdadeira alegria se pudermos viver os momentos de tristeza na sua real dimensão. “Tristeza não é defeito de fabricação. Tentar estancar o choro de alguém, querendo fazê-la rir, pode ser a última coisa que ela precisa. Na maioria dos casos, em vez de fazer rir, ofereça seu ombro amigo”, sugere.

Segundo ele, incluir humor em momentos em que alguém está triste depende fundamentalmente da intimidade e qualidade de relação que você tem com essa pessoa. “É preciso fugir da armadilha de achar que você vai ‘salvar’ o outro da dor. O riso que o palhaço propõe num quarto de hospital não pretende substituir a dor, mas oferecer à dor uma outra forma de doer. E às vezes, sim, é possível chorar com um leve sorriso no rosto”, diz. 

O psiquiatra Daniel Martins de Barros reforça que é preciso respeitar e acolher todos os nossos sentimentos. Ou seja, se estamos tristes por algum motivo, uma perda por exemplo, é importante vivenciar aquela emoção, permitir-nos lamentar. “Mas quando já estamos prontos para reagir e mesmo assim não conseguimos, vale a pena buscar situações em que sabemos que costumamos rir, nos divertir, ficar de bom humor, porque tais estímulos podem gerar um riso que vença a tristeza”, ressalta. 

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