Silencioso, libertador e algo que não se pede: o poder do perdão - Mina
 
Nosso Mundo / Reportagem

Silencioso, libertador e algo que não se pede: o poder do perdão

Deixar as mágoas para trás tem efeitos positivos na nossa saúde. Entenda por que perdoar alguém é sobre você, e não sobre e outro, e como fazer isso sem ultrapassar os próprios limites

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Deixar as mágoas para trás tem efeitos positivos na nossa saúde. Entenda por que perdoar alguém é sobre você, e não sobre e outro, e como fazer isso sem ultrapassar os próprios limites

Sabe aquela máxima “perdoar faz bem”? Não é só papo de religião. Pesquisas mostram que “deixar ir” as mágoas ajuda a diminuir o estresse e a melhorar o sono. Além disso, abrir mão do rancor pode contribuir no controle da ansiedade e da depressão.

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Não é simplesmente sobre dizer que perdoou quem te feriu. Aliás, não é necessariamente sobre o outro, mas sobre você. O negócio é que alimentar a raiva traz sofrimento constante, que deixa o organismo mais suscetível ao desencadeamento de doenças como alterações na pressão arterial e problemas cardíacos.

“Perdão não é sentimento, é uma decisão”

“Quem perdoa tem como benefício o fortalecimento da saúde física e mental porque consegue dar atenção às outras coisas que não se referem a sua dor e não revive as cenas que o fizeram sofrer”, diz a psicóloga Adriana Santiago, autora do livro O Poder Terapêutico do Perdão.

Como praticar o perdão

Importante destacar que perdão não é esquecer a ação que te afetou ou fingir que não aconteceu. E, de forma alguma é tolerar o que te faz mal ou desculpar quem foi cruel. E o principal: perdoar não é algo que se opõe à justiça. 

“Tem a ver com se livrar do ressentimento que a lembrança do fato traz e liberar a energia vital para ações que possam potencializar quem perdoa”, explica Adriana. É um processo ativo, que requer trabalho emocional, mas que faz bem para quem consegue praticar. “Perdão não é sentimento, é uma decisão”, ressalta.

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Aliás, nem é preciso informar ao outro que você o perdoou. O processo pode ser totalmente pessoal. “Não precisamos de autorização e nem de um pedido de desculpas para conceder o perdão. Podemos perdoar quem já morreu, quem já não temos mais contato e por aí vai”, diz a psicóloga. “Muitas vezes, quem nos fez sofrer nem sabe disso. E pensar que podemos perdoá-los mesmo assim é libertador”. 

Dependendo da situação, também pode ser interessante ampliar sua narrativa sobre a outra pessoa a fim de desenvolver empatia por ela. Considere a forma como foi criada, qual a sua história de vida, sob quais circunstância agiu e o que a torna essa vulnerável. Pode ser que ela nem entenda o tamanho da dor que te causou, justamente por vir de outro contexto. 

Perdão nem sempre é reconciliador

Não é porque você perdoou que precisa reatar o relacionamento (seja qual for a natureza dele) ou seguir como se nada tivesse acontecido. A reconciliação é um processo ainda mais complexo do que a pessoa ofendida se libertar da mágoa, envolve a outra parte.  

“Quando o perdão acontece, ganha a coletividade”

É preciso que o ofensor entenda o que fez, se arrependa e mude de comportamento, sinaliza o psicólogo Júlio Rique Neto, que liderou o Grupo de Estudo e Pesquisa sobre o Perdão da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). “Quando quem ofendeu e foi perdoado não insiste no erro, deixa a porta aberta para a possibilidade da reconciliação, mas isso é uma decisão exclusiva da vítima”, enfatiza.

Para o especialista, o perdão é bom para todo mundo. Quem perdoou consegue restaurar seu bem-estar psicológico, junto com seu senso de justiça e dignidade. Quem foi perdoado tem a chance de mudar seu comportamento e tentar a reconciliação, ou seguir em frente sem o peso da mágoa que casou. “Ambos os envolvidos retomam suas interações sociais com terceiros de forma mais positiva e, consequentemente, ganha a coletividade”, conclui.

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