O prazer de ver outra pessoa em mim - Mina
 
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O prazer de ver outra pessoa em mim

Prestes a estrelar a novela “Vai na fé”, nossa colunista Carolina Dieckmann fala da alegria de ser invadida por mais uma personagem e se transformar, por fora e por dentro, como faz desde os 13 anos como atriz

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“Mais uma vez, estou aqui”, digo pra mim mesma. Alguém me pergunta o que quero, simplesmente não sei o que responder. Solto um grunhido qualquer, de olho no espelho. Me vejo por fora, aperto os olhos e de repente: estou dentro. Finjo que procuro, mas a verdade é que já sei, e sei claro como um sol! Quero ver outra pessoa em mim!

Eu não sabia nada, nem mesmo se tinha algum talento. Mas eu tinha coragem. E fui.

Quando era menina, criada no meio de tantos garotos, copiando o look dos irmãos pra pertencer, herdando kichutes e bermudas, desejando mais bola do que barbie (e toda a descomplicação que isso significava), era difícil me imaginar como uma mulher. Comecei a fazer novelas aos treze, mais por força do destino do que por uma vontade propriamente dita. E, de largada, ofereci minha falta de vaidade, como quem entrega o próprio corpo a um Deus desconhecido. 

E despida de todo e qualquer preconceito, fiz um pedido: toma-me e torna-me atriz. Foi mesmo assim. Eu não tinha cursos ou qualquer técnica. Não sabia como decorar e estudar um texto, nem me colocar pra câmera, ou tampouco evitar sombras nos atores que contracenavam comigo. Eu não sabia nada, nem mesmo se tinha algum talento. Mas eu tinha coragem. E fui.

De lá pra cá, mantive esse “despojamento físico” como uma espécie de amuleto. Qualquer coisa que me pedissem pra fazer e que dependesse da minha despretensão a respeito do meu corpo, estava aceito. Lembro de ver meu reflexo careca, abatida e pensar: caramba, como sou forte. E, pra mim, isso foi me sentir bonita pela primeira vez. Um pouco depois, empalidecida por um cabelo descolorido e que virou hit nos salões Brasil afora, tomava susto a cada fio refletido, mas gostava disso e fazia sentido.

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A força da entrega me fascina. Fico sempre emocionada quando começo um trabalho porque sinto que aquela bravura permaneceu intacta em mim. O desejo de oferecer minha imagem como primeiro pedaço, também. Estou agora de novo modificada para ser outro alguém. Essa coisa, que se inicia no corpo, escorre pra voz e invade todos os sentidos, cresce e vai tomando forma com muito estudo, encontros, preparações e ensaios. São detalhes que preenchem cada átomo minúsculo, e que juntos formam – e transbordam – fazendo nascer um novo ser… que chamamos de personagem.

Mais uma vez, estou aqui e penso que é pra isso que eu vim.

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