Por que a rejeição dói e como lidar com ela? - Mina
 
Seus Relacionamentos / Reportagem

É hora de normalizar a rejeição

Essa dor que você sente ao levar um fora não é frescura. Mas aceitar que a rejeição faz parte da vida e das relações pode ser o caminho para lidar com ela com menos sofrimento.

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Levar um fora dói. Pra caramba. E por mais que uma galera se recuse a admitir que sentiu o baque de ser dispensada, a ciência já provou que dor provocada pela rejeição age na mesma região do cérebro que a dor física. Ou seja: não é drama, dói mesmo, não precisa ter vergonha de admitir.

Desde pequenos, lidamos com a rejeição nas nossas interações sociais. Do colega da escola que não quer passar o recreio com você à melhor amiga do Ensino Médio que decide não usar mais a pulseira da amizade que vocês compartilharam por anos. Mas mesmo que nossa história seja repleta de “nãos”, isso não nos prepara para ouvir um “não estou tão afim de você” na vida adulta.

“Ser amado está na raiz da nossa possibilidade de sobrevivência”, argumenta a psicóloga Lígia Baruch, especialista em relacionamentos amorosos e autora do livro Tinderellas.  Na opinião da especialista, é como se, ao sermos rejeitados, enfrentássemos um sentimento de profunda inadequação, de invalidez, ativando todas as outras rejeições já sofridas. Por isso dói tanto. 

“A gente precisa conseguir lidar com as perdas”

Seja você uma sofredora de carteirinha ou uma sofredora em recuperação ou, quem sabe, uma fugitiva de sofrimentos, o convite aqui é: que tal encarar a rejeição com um pouco mais de naturalidade? Afinal, faz parte da vida. Todo mundo passa. Talvez esse seja o truque. 

Perder é saudável

O psicanalista André Alves, estudioso do tema e cofundador do podcast Float Vibes (inclusive, neste episódio eles falam sobre o assunto com profundidade), explica que a rejeição é importante na formação do caráter humano, uma vez que é através dela que conseguimos “furar” o nosso eu narcísico.

Psicanalisou demais? Calma, a gente explica. É como se, ao descobrirmos que não somos o centro das atenções (ao menos, não sempre) percebêssemos que somos seres faltantes, que não estamos completos o tempo todo – e é essa a maior vitória do jogo romântico. “A gente precisa conseguir lidar com as perdas. Ser rejeitado e rejeitar é uma forma de fazer apostas e escolhas. Ao entrarmos no jogo romântico, colocamos ali a chance de ganhar, mas também a de perder”, analisa André.

“Sabe aquela trend do TikTok que instrui as pessoas a se tornarem os grandes protagonistas de suas vidas? A gente precisa entender que, na vida real, nem sempre vamos ser os atores principais de nossas histórias e, muitas vezes, vamos fazer papel de meros coadjuvantes”, reflete o psicanalista.

Fora das telas, é impossível (e exaustivo) ser o centro das atenções sempre. Pessoas têm o direito de não gostar da gente e, ainda que os gurus de Instagram tentem te convencer de que a sua “melhor versão” é impossível de ser rejeitada, é capaz de que, em algum momento da sua vida, nem você consiga gostar de você mesma. Isso é normal.  

Rejeição em tempos hiperconectados

O que não é normal é usar a rejeição para manipular, como acontece em casos de love boombing. A psicóloga Lígia Baruch explica: “Em algumas relações ‘tóxicas’ há o comportamento de dar muito amor inicialmente e em seguida rejeitar, em um loop de amor/rejeição que pode ser uma forma de manipular o outro”.

Você também tem o direito de rejeitar quando sentir necessidade

Para este tipo de atitude, abra o olho. Não é porque a rejeição é algo “corriqueiro” que você precisa se submeter a ela constantemente dentro de uma relação. Principalmente nesta época em que a tecnologia dita as regras do jogo romântico, tome cuidado para não ficar viciado nas sensações causadas por trocas superficiais de mensagens, nem normalize o ghosting.

Aqui, vale apontamentos de gênero e de cor, já que historicamente pessoas que estão dentro do padrão criado socialmente lidam menos com rejeição do que aquelas que fogem da regra branco-heteronormativa da contemporaneidade. E, sim, ser rejeitada sucessivas vezes pode afetar a maneira como as pessoas respondem a um fora e isso precisa ser considerado.

Assim como pode ser rejeitada a qualquer momento, você também tem o direito de rejeitar quando sentir necessidade. O importante é ser honesta com os seus sentimentos e ter cuidado com o outro. Nada de sumir sem dar explicações, encerre a história nem que seja por mensagem. Seja sincera e pondere o momento de fazer essa declaração. Levar um fora dói e ninguém merece passar por isso no meio do expediente.

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