Aos poucos, a sociedade tem se aberto a conversas sobre a menopausa e como lidar com seus sintomas sem preconceito ou medo. Antes vista como o fim da linha para as mulheres, atualmente ela é encarada apenas como mais uma etapa. É por isso que estamos aqui hoje para falar de “atrofia vaginal”, uma condição que, de tão cercada de tabus, tem sido ressignificada e chamada por seu nome científico: síndrome urogenital da menopausa. Ela atinge, ao menos com algum dos sintomas, todas as pessoas com útero que estão no climatério – fase de transição do período reprodutivo para o não reprodutivo até a chegada da menopausa, quando a mulher deixa de menstruar.
Nessas etapas, o corpo tem uma queda na produção de estrogênio, até deixar de produzir totalmente o mais famoso hormônio feminino. “De todos os sintomas da menopausa, a atrofia é um dos poucos que todas as mulheres terão, mais cedo ou mais tarde”, diz Joele Lerípio, ginecologista especializada em fisiologia do envelhecimento saudável.
“Com a falta do estrogênio, a espessura da pele da vagina vai diminuindo. Quando as camadas desaparecem, fica só o que chamamos de camada basal”, explica a ginecologista. “Ela é crônica, progressiva e têm uma série de sintomas que se relacionam a essa diminuição dos hormônios dos ovários”, completa. Seus sintomas mais chamativos são sensação de ardor ou prurido na região genital e dor na relação sexual.
Não existe exame laboratorial, o diagnóstico da síndrome é feito pelo médico
Segundo Marcelo Steiner, ginecologista da Unesp e especializado em climatério, diferentemente das ondas de calor que a mulher sente ao longo do climatério (que passa com o tempo) a síndrome urogenital da menopausa, se não tratada, só vai piorando. “Os calores costumam aparecer logo no início e duram cerca de cinco anos. Já a atrofia nem sempre aparece de imediato, mas quando vem, não some sozinha. Isso acaba por trazer um desconforto crescente e um real impacto na qualidade de saúde dessa mulher”, explica.
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Quais os sintomas da atrofia vaginal?
Os principais sintomas destacados pelos os especialistas, estão:
- Dor nas relações sexuais
- Perda da elasticidade da vagina
- Falta da lubrificação
- Escapes urinários
- Infecção urinária
- Afinamento da pele da vagina
- Afinamento da uretra
“O estrogênio permite que as células fiquem saudáveis com uma boa quantidade de glicogênio, que mantém a flora vaginal. Sem o hormônio, os lactobacilos ficam sem o açúcar que precisam, o que altera a flora e desencadeia o afinamento da pele da vagina e da uretra, deixa a musculatura mais fraca, e causa os sintomas”, diz Marcelo.
Como diagnosticar?
De acordo com a Joele, não existe exame laboratorial para diagnosticar a síndrome. “O diagnóstico é somente clínico, o médico vai avaliar a coloração, a umidade, presença de pregas e espessura da pele do genital”. Segundo a especialista, a mulher que não faz a reposição hormonal, tem a cor interna da vagina em um tom de rosa pálido. Já o canal urinário fica mais largo, e ela tem um afrouxamento da uretra.
Como tratar a síndrome urogenital?
Como a síndrome depois de instalada não retrocede sozinha, o ideal é buscar o auxílio médico assim que começam os primeiros sintomas. Geralmente eles surgem no momento em que a mulher está entrando na menopausa. O ideal é iniciar o tratamento de forma imediata para reverter mais rapidamente os sintomas e o desconforto e não deixar a síndrome avançar.
Existem tratamentos hormonais e também não hormonais para tratar a atrofia
Mas é preciso ter atenção para cuidar de cada caso, já que existem tratamentos hormonais, não hormonais e também naturais para tratar a atrofia. A escolha depende do histórico familiar de cada mulher e da metodologia adotada por seu médico. Para se ter uma ideia, eles vão do uso de estrogênio em pomada ou oral, passando por lasers e radiofrequência, até chás e uso de babosa.
Tratamentos convencionais
- Terapia de Reposição Hormonal Sistêmica: Utilizada para tratar todos os sintomas que aparecem no período da menopausa, incluindo a síndrome. O tratamento é utilizado para mulheres que possuem útero e é uma combinação dos hormônios do estrogênio e progesterona. “Usamos a progesterona só para proteger o útero e quem não tem, é só estrogênio, e indicamos para mulheres que além da síndrome, sofrem com a onda de calor e estão perdendo massa óssea”, diz Marcelo.
- Terapia de Reposição Hormonal Local ou Oral: Aplicado no local, os hidrantes ou comprimidos que tenham estrogênio são indicados para mulheres que não tiveram câncer de mama e que não tenham histórico na família. “Ele tem uma boa resposta e se deve fazer o uso contínuo passando a cada 3 dias, porque se não volta atrofiar.” diz Marcelo
- Laser e Radiofrequência: Geralmente são feitas 3 e 4 sessões que precisam ser refeitas dentro de um período de um ano. “A temperatura local é aumentada e as células dos fibroblastos, que ficam abaixo dessa mucosa, são irritadas e com isso começam a produzir algumas proteínas que melhoram a hidratação local. A temperatura também forma mais vasos sanguíneos, e essa mucosa fica mais saudável e hidratada”, explica o ginecologista.
Opções naturais
Para quem busca tratamentos mais naturais, também existem alternativas. Segundo a ginecologista natural e obstetra Débora Rosa, Mestre pela UFRJ, há tratamentos fitoterápicos. Ela frisa que eles devem sempre ser acompanhados com um profissional.
- Exercício pélvico
Ao exercitar a musculatura garantimos oxigenação na região. “A quantidade de sangue que chega, acaba por estimular a hidratação do tecido e ajuda no trofismo do epitélio da vagina”, diz Débora.
- Babosa
Chamada de óvulo de babosa, a técnica usa pedacinhos da parte interna da planta, conhecida também como Aloe Vera, para hidratar o canal vaginal. É preciso deixar escorrer a seiva (que é tóxica) e tirar os espinhos. É fundamental consultar ginecologistas naturais para detalhar a técnica.
- Chá Cimicifuga
“É um fito‐hormônio natural e também trabalha a atrofia vaginal”, diz Debora. Segundo um estudo publicado na Revista Científica Reprodução e Climatério de 2017, o chá tornou-se uma opção segura e teve sua eficácia comprovada em ensaios clínicos.