Recentemente, minha conta no Instagram foi banida devido a uma suposta violação das regras de conteúdo. Mas não é sobre a arbitrariedade ou o moralismo seletivo que eu quero falar aqui hoje, e, sim, sobre o papel dessa e de outras redes sociais na nossa vida. A primeira sensação foi realmente como se tivessem arrancado um órgão meu a força, mas logo, livre daquele rastro digital, comecei a perceber o quanto eu era dependente dessa rede. E sei que estamos todos no mesmo barco.
Nos primeiros dias, vivi situações do tipo: corri pra checar uma receita de pão de queijo com polvilho que havia salvo, mas não tinha mais como acessar. Tive que fazer força pra me lembrar de algumas das referências que vi e que havia guardado para reproduzir depois no meu trabalho. Uma coisa que eu poderia ter memorizado ou anotado, mas pra que, né? Estava salvo lá. Também perdi toda a intimidade que tinha com o algoritmo que já havia entendido que durante meu momento de relaxamento eu curtia ver vídeos de podólogas desencravando unhas.
Parece bobagem, mas a soma dessas pequenas coisas causaram um bug na minha mente e, de início, amplificaram esse sentimento de amputação. Depois, fui digerindo, percebendo tudo que ainda estava no lugar e comecei a pensar sobre o papel que damos para as redes no âmbito profissional e como, aos poucos, ela vai tomando todos os aspectos de nossas vidas.
Elas se tornaram companheiras constantes, presentes em cada momento de lazer e distração. Estão lá, para nos fazer rir com vídeos engraçados, compartilhar inspirações para novos hobbies e projetos e nos conectar com amigos queridos, aos quais enviamos praticamente todos os vídeos que nos arrancam gargalhadas ou indignação.
“Sem que a gente dê conta, o Instagram deixa de ser uma escolha e passa a ser dependência”
Nos é oferecida uma fonte aparentemente interminável de entretenimento e conexão para nos aliviar no transporte público, na fila ou na solidão. O que percebi nesse momento de luto, é que essa onipresença tem um custo, porque sem que a gente se dê conta, ela deixa de ser uma escolha e passa a ser uma dependência.
Algo que, quando vemos, não conseguimos mais nos afastar, que toma nossos momentos de descanso e apaga o espaço para a desconexão e introspecção tão necessárias para nossa saúde física e mental. Tudo isso acontece enquanto estamos encantados com a possibilidade de expandir nossos círculos sociais, descobrir oportunidades emocionantes e fazer networking.
Eu nem percebia a espiral de comparação e autoexigência onde me encontrava. E fico de cara que precisei me sentir violentada pelo banimento pra perceber isso.
Assim que fui banida, a sensação que veio foi de que com o apagamento ia embora também minha autoridade nos assuntos aos quais sempre me dediquei, o respeito e a influência. Mas pera! Eu não morri, foi só uma das minhas redes sociais. Mas, quando te afastam do seu vício, a sensação é de desespero e desamparo. Pois bem.
Não somos nossa persona digital, nossa autenticidade não depende de verificação de alguma empresa, nossa comunidade não vai soltar a nossa mão se a gente parar de postar no Instagram ou for banida. Mas foi preciso perder pra perceber tudo isso e também cair a ficha de que precisamos criar nosso próprio espaço digital, seja por meio de um site pessoal ou grupos de interesse específicos. Manter o controle sobre nossa narrativa passa por se proteger contra os imprevistos do mundo digital.
Por um instante pensei que eu havia perdido muita coisa, mas agora percebo o quanto ganhei com esse processo. E esse pensamento crítico, ninguém conseguirá banir de mim. E vocês não vão acreditar: depois de anos comprei uma agenda! Tinha esquecido como é incrível anotar à mão meus insights.