Marcos Piangers: “Os homens saem perdendo quando não participam dos cuidados com os filhos”

Falar sobre paternidade no Brasil ainda é tema delicado quando vemos tantas mães solos criando seus filhos sozinhas. São mais de 6 milhões de brasileiros só com o nome da mãe na certidão de nascimento. Sem falar dos pais ausentes que, mesmo registrando, não se envolvem com a criação do filho. Para acender a esperança e falar sobre uma nova paternidade, com mais afeto, trocas e responsabilidade, Angélica recebe Marcos Piangers, autor do livro O papai é pop.

Filho de uma mãe solo, Marcos hoje entende o quanto o homem perde por não cuidar e estar presente na vida dos filhos. “O pai que não participa foi educado de uma forma equivocada a estar longe da família e acaba tendo uma vida desconectada dos afetos”, diz. Contudo, ele destaca que a realidade de outros países traz uma perspectiva positiva que pode mudar esse cenário. “Você vê em alguns lugares que quem está brincando com os filhos na pracinha não são as mães, são os pais. Essas realidades nos remetem a uma possibilidade muito bonita, porque pode ser uma pressão social a mulher ser quem cuida e dá conta de tudo”.  

“Ter filhas meninas faz com que um homem brutalizado mergulhe na dura realidade de ser mulher nessa sociedade”

Com as próprias lições e estando aberto para aprender, o pai de Anita e Aurora confessa que, apesar de hoje falar tão bem de paternidade, já errou no passado. “Não tive o exemplo do meu pai. E só um em cada dez pais que estão em casa conversam com o filho dizendo: você é homem quando cuida, abraça, é fiel, sensível, usa sua força física para proteger os mais fracos, não pra se prevalecer.”, reflete. Foi justamente ao se tornar pai de meninas – e não de meninos – que ele pode aflorar seu lado mais sensível. “É o primeiro momento em que um homem brutalizado mergulha na dura realidade de uma sociedade que trata mal as mulheres. E aí aquele ser que é o ser que você mais ama vai passar por todas as dificuldades que sua mãe, esposa e irmã passaram e você não viu”

Quanto à criação das filhas, Marcos confessa que o segredo está em dar autonomia para que a criança tenha liberdade para ser quem é, e o papel dos pais é intervir e direcionar quando necessário. E em quase um apagão coletivo de homens que ainda não acordaram para a paternidade, o autor dá o papo para os brothers, mas também para as mulheres. “Homens visualizam o cuidado da criança como algo feminino, por isso acham erradose sensibilizar, trocar fralda, cuidar. Eles são criados pra ganhar dinheiro e esse é um trabalho não remunerado – e aí ele delega para uma mulher, porque ele acha o tempo dele muito importante”, destaca. 

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O escritor diz que, ao ter contato com essa percepção, muitos caras ficam na defensiva. Por outro lado, muitas mulheres também não permitem que os homens participem. “Elas são imbuídas de um conceito social de que elas devem fazer tudo e ser as mães perfeitas. E que os homens nos seus afazeres fazem errado”, avalia.

Por fim, Marcos fala dos “pais de selfie”, expressão que ele criou para descrever aquele famoso pai que pega o filho a cada 15 dias, faz inúmeras fotos com a criança e deixa a parte mais árdua para mãe. “Ele também perde uma parte bonita da paternidade, porque o filho cresce e percebe que o pai não conhece ele direito e não participou dos momentos importantes. Resultando em uma quebra de vinculo”.