Leandro Karnal: "O medo é usado para controlar pessoas" - Mina
 
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Leandro Karnal: “O medo é usado para controlar pessoas”

Angélica recebe o filósofo e apresentador Leandro Karnal para falar sobre o mais temido dos sentimentos, o medo e como ele levanta muros, controla nações mas também pode salvar nossas vidas

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Já parou para pensar do que você tem medo? Medo de filme de terror, de barata ou até de começar em um emprego novo. Esse é um sentimento natural básico, que pode ser estressante, paralisante ou até estimulante. Numa entrevista descontraída (mas nunca superficial) o professor, escritor e apresentador de TV, Leandro Karnal conversa com Angélica sobre o mais temido dos sentimentos, suas consequências e seu futuro.

Segundo o escritor, o medo é o que nos mantém vivos: “O medo real nos preserva de perigos reais é ele que faz com que nós sobrevivamos”, explica.  No cenário atual, com a pandemia, a guerra entre Ucrânia e Rússia e a crise, é de se esperar que as pessoas sintam medo, mas a questão é como passar por esse turbilhão sem ficar paralisado. “É importante lembrar que ter medo de ser contaminado por uma doença grave nos leva a atitudes racionais, como higienizar as mãos, evitar as aglomerações e se vacinar.” 

“Não há nada mais forte para conseguir a submissão de pessoas do que o medo”

Por outro lado, o medo também pode ser usado como instrumento de controle. Karnal relembra que grandes ditadores usam e usaram isso. “Não há nada mais forte para conseguir a submissão de pessoas do que o medo.” Por isso, ele lembra, que se não tivermos consciência do nosso medo, seremos controlados por aqueles que têm essa dimensão. 

Com o estigma negativo, o medo é o sentimento que ninguém quer ter, mesmo nas situações mais prudentes. Entretanto, a questão é usar esse danado a nosso favor. Karnal relembra que os grandes filósofos falam que você não deve ter medo do que é inevitável, como por exemplo da morte, e sim ter, um medo racional, prudente  e equilibrado que faça com que você, por exemplo, dê vacinas para os seus filhos porque tem medo de sarampo, poliomielite e outras doenças que podem ser evitadas. “Mas quando o medo vira fobia, aí é uma doença, que pode ser tratada, eliminada ou diminuída”, diz. 

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Questionado sobre o medo que levanta muros e faz com que as pessoas comprem armas em busca de mais segurança, Karnal lembra que ter medo e não expor seus filhos à riscos, por exemplo, é válido, mas afirma: “A grande muralha da China não deteve as invasões e uma fronteira altamente militarizada,  como é a que existe entre México e Estados Unidos não detém os imigrantes. Todos os muros da história fracassaram, então cuidado”, frisa Karnal.

Angélica aborda também um outro tipo de medo, o do afeto, das pessoas que se fecham para o amor por receio da frustração. Entre risos, o filósofo brinca: “não se preocupem, dá errado de qualquer jeito”. Para busca de um equilíbrio, a coragem dá as caras. Karnal relembra o conceito de Aristóteles: “O soldado que vai à guerra e não tem medo é um péssimo soldado. Aquele que tem medo e não vai à guerra, segundo Aristóteles, é covarde. O bom soldado, ele coloca, é aquele que tem medo e vai à guerra, que enfrenta e se protege”.

Angélica questiona se a tendência para os próximos anos é que a humanidade se torne mais medrosa ou corajosa. Karnal traz, então, o efeito da internet para analisar a questão. “Se as pessoas não aprenderem a filtrar o que leem, e não aprenderem a fazer curadoria de informações, teremos uma geração cada vez apavoradora, em que medo será usado contra nós, como já está sendo”. 

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