Por que temos dificuldade em dizer "não"? - Mina
 
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Já experimentou dizer “não” hoje?

Todo mundo já se meteu em alguma furada ou se sobrecarregou porque não conseguiu negar um pedido. Investigamos quais são as forças que nos impedem de impor limites e como fazer isso sem magoar o outro.

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Quantas vezes você se viu topando alguma coisa quando, na verdade, queria declinar? Apesar de ser um fator essencial para a nossa saúde mental, impor limites costuma ser um desafio para muita gente. A terapeuta Nedra Tawwab diz que isso é reflexo de uma sociedade que tem dificuldade de aplaudir as próprias escolhas. “Estamos constantemente vivendo na cabeça dos outros e não no nosso próprio coração. Pensamos no que eles podem dizer ou fazer, se vão ficar com raiva ou se estabelecer um limite vai acabar com o relacionamento”, avalia em seu livro Defina limites e encontre a paz: Um guia para encontrar a si mesmo.

“Estabelecer limites com chefes, amigos e familiares demonstra conexões adultas e saudáveis”

Como o sentimento de pertencimento é uma das necessidades mais fundamentais para os seres humanos, acabamos abdicando das nossas próprias vontades na tentativa de agradar os outros. “Para nos sentirmos pertencentes, dependemos da reciprocidade em nossas relações. Porém, dizer ‘não’ pode significar para muitas pessoas como uma atitude que ameaça essa sensação de conexão. Também pode parecer agressivo, como se você estivesse rejeitando o outro”, avalia o psicólogo Rossandro Klinjey. Temendo esse descompasso, o “sim” tende a ser uma resposta quase automática. 

Outra explicação está na forma como somos educados. Na infância, quando erramos, costumamos ser punidos. Então, se dizer “não” é visto como um ato de rebeldia a ser condenado, perdemos esse impeto.  “Esse sistema de punição e recompensa faz com que alguns escolham arriscar menos, diminuir conflitos e optar por lidar com as próprias questões em vez de colocá-las para os outros”, conta Flávia Amorim, sócia do Instituto CNV Brasil, especializado em Comunicação Não-Violenta. Frases como “seja boazinha” e “bons colaboradores topam qualquer desafio”, coisas que ouvimos com frequência, fazem parte das raízes desse comportamento. “Precisamos lembrar que temos o reforço do sistema da obediência nos fazendo seguir essa escolha, o que torna tão difícil deixar esse padrão”, enfatiza. 

Consequências de nunca dizer “não”

Rossandro diz que quem não sabe traçar limites se candidata a relacionamentos abusivos. “Dizer ‘sim’ quando realmente queremos dizer ‘não’ pode parecer, num primeiro momento, que nos ajuda a evitar o desconforto do confronto. Porém, o preço que pagaremos no futuro vai do ressentimento e estresse constante até esgotamento ou burnout”, explica. “Estabelecer limites com chefes, cônjuges, amigos e familiares demonstra conexões adultas e saudáveis”, completa. Para Flávia, o principal prejuízo está naquilo que deixamos de cuidar. Por exemplo, o que você prejudica quando aceita mais uma demanda de trabalho? Provavelmente, sua organização, a qualidade da sua entrega e sua saúde mental.

“Antes de dizer aquele ‘sim’ automático, pare por alguns segundos e reflita: o que legitima o seu ‘não’? Saber isso lhe trará mais facilidade de negar um pedido de maneira cuidadosa e autêntica”, aconselha, aplicando os princípios da Comunicação Não Violenta. Mas como aplicar isso no trabalho sem parecer um desrespeito à hierarquia? Flávia sugere: “Não consigo pegar mais essa atividade agora. Com todas as tarefas que tenho sob minha responsabilidade no momento, posso acabar entregando algo com baixa qualidade e ainda comprometer minha saúde pela sobrecarga que pode acontecer. Vamos pensar juntos sobre alternativas?”.


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Como romper o padrão?

A dificuldade de colocar limites não é algo que se supera de uma hora para outra. Toda mudança demanda tempo, estratégia e empenho. Mas algumas atitudes podem ajudar nesse processo. Confira:

Pense nos impactos que o “sim” lhe trará no futuro

Evitar o conflito parece algo muito sedutor, porque resolve um problema no momento. Deixamos de entrar em uma briga ou de gerar algum tipo de incômodo, o que parece ótimo. Mas os impactos futuros dessa ação podem ser devastadores.

Mostre que você se importa 

Agradeça o convite e reconheça que isso é importante para a outra pessoa. Essa atitude é fundamental para mostrar que você a respeita e entende suas necessidades. 

Não faça rodeios ou se desculpe

Ficar inventando justificativas ou explicando demais a sua decisão pode dar abertura para o outro insistir. Quanto menos você justificar o seu “não”, melhor.

Seja assertivo, educado e tenha firmeza

Quando agimos dessa forma, mostramos altivez e poder e, ao mesmo tempo, delicadeza – o que passa uma ótima impressão. 

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