Erika Hilton: “Por muito tempo, fui movida pelo ódio e hoje o amor é um pacto de troca e construção” - Mina
 
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Erika Hilton: “Por muito tempo, fui movida pelo ódio e hoje o amor é um pacto de troca e construção”

Eleita deputada federal por São Paulo, sendo uma das primeiras mulheres trans a ocupar o cargo, Erika conta sobre como o acolhimento familiar foi transformador na sua trajetória

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Reconhecer que o mundo se transforma ao longo da história é necessário para compreender as próprias transformações. E se sentir bem na própria pele faz parte do processo, porém para uma pessoa transgênero lidar com o mundo não é tarefa fácil e precisamos avançar muito nos direitos LGBQUIA+. Para falar sobre isso, Angélica recebe uma mulher que precisou lutar pelo direito de ser quem é, a deputada federal eleita Erika Hilton, ajudando a mudar a cara da política brasileira.

A deputada conta que por estar rodeada de mulheres, sempre exerceu sua feminilidade e que não passou por um processo de transição. “Eu fui criada e me percebia menina desde muito nova. 3, 4 anos de idade, toalha na cabeça, salto  da mãe e podia viver entre aquelas mulheres daquela forma”, lembra. Na adolescência, foi preciso, sim, passar por uma adequação à identidade com a qual ela já se identificava. Porém, na mesma época, a situação em casa começou a mudar.

“O fundamentalismo convenceu a minha mãe que eu era um demônio, que ela havia errado na minha criação. Fui expulsa de casa aos 14 anos de idade, indo dormir nas ruas e viver da prostituição”, relata. A deputada destaca o perigo desse tipo de pensamento que, para ela, não tem nada de religioso. “Religião é uma coisa, o fundamentalismo é outra. Ele consegue destruir uma relação familiar”. Essa realidade, infelizmente, é muito comum – cerca de 90% das mulheres trans brasileiras se prostituem para sobreviver.

No entanto, Erika voltou a ser acolhida pela família anos mais tarde, tudo de maneira muito orgânica. “Minha mãe me disse que se pudesse me colocaria no útero outra vez para que eu renascesse e não precisasse passar por tudo que passei”, lembra.  Para ela, esse retorno foi fundamental para que pudesse chegar onde está agora. “Só podendo estar na minha casa de novo é que pude voltar para escola, a trabalhar, a organizar a minha luta e a minha militância.”

“Ocupar esse lugar também é resgatar a nossa humanidade e cidadania”

Em 2020, Erika foi a vereadora mais votada do Brasil e, agora, ela se prepara para ser, ao lado de Duda Salabert, uma das primeiras mulheres transexuais no Congresso. Seu compromisso é o de ocupar esse espaço para poder garantir políticas pensadas para todas as pessoas. “A nossa ocupação nesse espaço não é nichada. O projeto político que defendemos atende a toda a sociedade. Falamos de emprego, de economia, de renda, de enfrentamento à miséria, à fome, de segurança pública. Porque isso tem a ver com a nossa comunidade, e também com todo o país”, diz. E completa que estar nesses espaços também é uma forma de ajudar a limpar os olhos da sociedade em relação a forma como as pessoas trans são vistas. “Ocupar esse lugar também é resgatar a nossa humanidade e cidadania”.

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