O que é e para que serve o efeito placebo - Mina
 
Seu Corpo / Reportagem

Efeito placebo: a mistura de ciência e fé que funciona

O placebo anda de mãos dadas com a medicina para auxiliar nos tratamentos e promover a melhora dos pacientes. Mas como age no corpo e na mente esse misto de “remédio” e otimismo?

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O que vem à sua cabeça quando ouve falar em efeito placebo? É provável que o termo remeta à ideia – simplista – de pessoas tomando pílulas falsas acreditando ser um medicamento e, muitas vezes, relatando uma suposta melhora no quadro clínico. Mas, a gente veio pra te contar que o efeito placebo é bem mais complexo do que isso. 

Vamos aos fatos: 

  1. O placebo é, sim, a simulação de um medicamento usada na medicina para testar sua efetividade.
  2. Os placebos mais utilizados são comprimidos de açúcar e injeções de soro fisiológico.
  3. Estudos mostram que, em geral, duas pílulas (de placebo) funcionam melhor do que uma, pílulas coloridas funcionam melhor do que brancas e injeções funcionam melhor do que pílulas.
  4. O efeito placebo é justamente a eficácia relatada com os remédios de mentirinha. 

E isso não é balela. Segundo a psiquiatra e psicanalista Ana Paula de Oliveira Marques, cerca de 30% das pessoas que tomam placebo vão ter de fato uma melhora. “É uma questão de sugestão. Se você vai a um médico em quem confia e ele fala que você vai melhorar com tal medicação, tem chances reais de isso acontecer. Assim como na hipnose, a pessoa entra em um outro nível de consciência e acredita no que está sendo proposto a ela”, explica. “Porém, essa melhora não tem longa duração, enquanto, com um medicamento cientificamente comprovado, ela se mantém.” 

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Prazer, placebo

A ideia de sugestionar alguém é real. Quem nunca teve uma dor de cabeça, tomou um analgésico e em poucos minutos já sentiu um alívio (mesmo o tempo de início da ação sendo meia hora)? Agora pense no seguinte cenário: ambiente hospitalar, avental branco, estetoscópio, médico empático e paciente esperançoso. Tudo isso é bastante atraente. Não à toa, o estudo mais tradicional para se testar um medicamento é chamado de duplo cego, ou seja, situação em que nem médicos, nem pacientes sabem quem está usando a medicação e quem está usando uma substância que não tem eficácia terapêutica – o placebo. Assim, nenhum grupo pode dizer que foi direcionado a sentir ou não tal efeito, no caso dos pacientes; ou observar alguma mudança ou não, no caso dos profissionais.

Peça fundamental nas pesquisas e testes para desenvolvimento de novos medicamentos, o placebo funciona como base de comparação. Para que o medicamento seja comprovadamente eficaz é preciso que seu efeito seja significativamente maior do que o “efeito do placebo”. Lembrando que esses testes são feitos repetidamente por anos –  leva de cinco a dez para um medicamento ser aprovado, por exemplo.

A física e criadora de conteúdo Gabriela Bailas, que tem mais de 200 mil seguidores em seu Instagram, chamou a atenção em um vídeo ao afirmar que crianças e pets também sentem o efeito placebo. E como isso acontece? Justamente por sugestão: bebês e crianças, assim como os animais, respondem de acordo com as expectativas de seus cuidadores. Gabriela chama isso de efeito placebo por procuração. “Se faz referência ao placebo através de um mediador, leia-se: cuidador. Tanto os pais dos bebês como os tutores de pets querem a melhora de seus ‘filhotes’. E graças a outro fenômeno chamado viés de confirmação, eles enxergam exatamente o resultado que esperam.” 

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Placebo caseiro existe?

O que dizer então daquele chazinho de avó que tudo cura? Ou ainda o carinho da mãe que tira a dor de barriga? “Nem tudo é placebo, a interação humana também pode modificar as pessoas. Um gesto de carinho, como uma mão quentinha na barriga, uma atenção ao preparar um chá, tudo isso tem uma carga emocional e de afeto”, diz a psiquiatra e psicanalista Ana Paula. 

Fazendo um paralelo, assim como exercícios liberam endorfina transformando o ambiente cerebral, as interações humanas também têm efeitos no corpo e na mente de quem dá e recebe. A bióloga Natália Pasternak explica o que diferencia o efeito placebo: “Fiquei doente, tomei o chá da vovó e melhorei. Isso não é evidência científica, não importa quantas pessoas tenham feito uso do chá. Para afirmar que o efeito observado é mais do que placebo ou coincidência, são necessários testes adequados”. Vale pontuar aqui que nem por isso esses truquezinhos não trazem conforto e alívio, então sigam cuidando com amor de quem você gosta!

Nem tudo é o que parece

É preciso acreditar para o efeito placebo acontecer? Existe um efeito real ou é só ilusão? E ainda: pensar positivamente pode curar? “Ter um pensamento mais otimista pode facilitar a vida, mas não tem mágica e muitas vezes não é suficiente”, pontua Ana Paula. Segundo ela, em casos de depressão e ansiedade, nos quais o efeito placebo é utilizado com sucesso no tratamento, não é uma questão de vontade de melhora. “Uma pessoa doente não consegue ver nada positivo e precisa de outras vias de tratamento, como tomar uma medicação”, esclarece a psiquiatra. Para quem gosta de reposta fácil, vale dizer que aqui ela não existe. Acreditar, pensar positivo e ser otimista podem ser um bom remédio, podem surtir efeito – como podem também pode não valer de nada. 

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