Dá pra tocar maternidade, carreira e culpa, tudo ao mesmo tempo? - Mina
 
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Dá pra tocar maternidade, carreira e culpa, tudo ao mesmo tempo?

Anna Chaia, umas das principais executivas do país, responde como foi equilibrar os pratinhos entre profissão e filho

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“Tenho muita dificuldade de me ver mãe e uma profissional bem sucedida ao mesmo tempo. Fico achando que algum dos dois vai sair prejudicado. Será?” L.B.B, advogada

Em depoimento para Lia Rizzo

Há quase vinte anos, dei uma entrevista exatamente sobre este tema, cujos dilemas ainda seguem muito parecidos. Na época, aos 34 anos, eu liderava uma importante unidade da Natura, tinha acabado de ser apontada como CEO do Futuro pela revista Você S/A e, além de trabalhar cerca de 12 horas por dia, já era mãe do Lucas, meu único filho, que na época tinha um ano. 

Ser mãe não foi uma escolha difícil para mim. Porém, por trás dela teve planejamento, a certeza de que era possível e de que estava pronta para receber um filho de braços abertos. A primeira infância foi o período mais desafiador e, para mim, foi necessária uma estrutura que envolvia além do meu parceiro, escola, babá, participação dos avós, de amigos – gente com quem podia contar de verdade para conciliar uma carreira ascendente, como eu vivia no momento. E isso não significava ser ausente, pelo contrário.

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Organizava a agenda para ter presença em momentos como na hora de colocar para dormir, reuniões escolares e para dedicação integral aos finais de semana. Também sempre tentei me despedir do Lucas. Houve momentos difíceis, claro, mas sempre procurei que ele entendesse que eu precisava sair, mas iria voltar. Foi uma forma de mostrar ainda que o trabalho era importante, não só para pagar contas, mas por ser uma realização para mim. 

“A culpa por não estar presente sempre vem”

E procurei criar conexões nas oportunidades. Quando dava, saía mais cedo e chegava de surpresa, levava para tomar um sorvete ou passear. Outra coisa que sempre fiz: levava Lucas ao meu trabalho para conhecer meus colegas e para ele saber que o lugar para onde eu saia, existia! E em algumas das empresas onde fui presidente, criei o dia da família por sentir na pele a importância de mostrar isso ao meu filho. Por fim, sempre tive uma relação transparente com meus chefes sobre o que era inegociável, como ir ao pediatra e estar em eventos ou apresentações importantes do filho. 

Foi assim que funcionou para mim e que, acredito, possa funcionar para outras mulheres. Não romantizo, pois é sacrificante para a mãe principalmente e por isso precisamos contar com pessoas que dividam o peso conosco. Pois por mais que nos interessemos genuinamente, bate a culpa por não estar presente. Cheguei a viver o conflito de me sentir incapaz mesmo com estrutura e optei por tirar um sabático quando Lucas tinha cerca de 4 anos. Foi um período importante para me ajustar emocionalmente e encontrar equilíbrio entre os papéis, pois senti falta de trabalhar. Hoje, o que eu diria para qualquer mulher é que, tendo chance, se planejem, pois importante é estarmos conscientes, seguras e confortáveis de nossa decisão – como mães e executivas. 

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Hoje, o ciclo da vida se inverteu. Eu que sofri me despedindo do meu filho há quatro meses, quando ele foi estudar em outro país. Mas acho que como em qualquer carreira, na maternidade precisamos ter a compreensão de que criamos filhos para o mundo, para que eles sejam protagonistas de suas vidas, felizes e seguros com suas escolhas, como nós fomos quando decidimos tê-los. 

*Anna Chaia foi presidente da Samsonite para América do Sul e presidente das operações brasileiras da  Swarovski e da L´Occitane. Antes, foi vice-presidente da Whirlpool. Atualmente faz parte dos Conselhos de Administração do Burger King, Vivara, Espaçolaser e Pura Vida. Nas horas vagas cobra mensagens e ligações do filho Lucas.

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