Dá para ser autêntica fora do trabalho. E dentro também - Mina
 
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Dá para ser autêntica fora do trabalho. E dentro também

Quem é você nas horas vagas? Maíra Blasi acredita que trazer essa pessoa para dentro do seu universo profissional pode te levar além

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Falar sobre autenticidade está em alta, mas olhando para as redes sociais percebo que esse discurso ainda está descolado da prática. Muita gente usa o “melhores amigos” do Instagram para postar umas bobagens que não quer que o chefe ou os colegas de trabalho vejam. Tem ainda quem crie um perfil paralelo fechado para postar fotos na praia, na balada ou em qualquer outro lugar casual sem correr o risco de se expor. Fora as pessoas que mantêm o LinkedIn atualizado, mas reclamam dele no Twitter. Vivemos fragmentados, cada plataforma abrigando uma persona. 

O mundo do trabalho sempre clama por inovação, por gente que “pense fora da caixa”, mas quem consegue oferecer isso quando crescemos aprendendo justamente o contrário? Ao longo da vida, muitas caixinhas nos são apresentadas como opções simples a serem seguidas, basta se encaixar e não esquentar a cabeça com elaborações mais profundas. Aprendemos cedo que existe uma separação entre “pessoal e profissional”, que precisamos ter determinação e demonstrar força no trabalho, e que as dúvidas e incertezas têm que ser deixadas em casa. Cada coisa no seu quadrado.

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E se não houvesse um “mundo do trabalho”? E se a gente vivesse num mundo em que pudéssemos ser nós mesmas o tempo todo, sem nóias? Em que os nossos gostos e personalidades fossem vistos como um diferencial profissional? Em que ninguém precisasse inventar histórias ou romantizar o cotidiano para provar algo para o outro? Um mundo que valorizasse a integralidade.

Por integralidade me refiro à união de todas as partes que formam um todo, a completude. Uma engenheira de cabelo raspado que brilha nas pistas de forró. Um piloto de avião bissexual que arrasa em rodas de capoeira tocando berimbau. Uma advogada mãe-solo que prepara um drink como ninguém. Sem essa de vestir uma fantasia profissional para ir ao trabalho escondendo completamente quem se é nas horas vagas. Se você ainda passa por isso, provavelmente não está trabalhando em uma organização integral – e todo mundo sai perdendo.

E se a gente vivesse num mundo em que pudéssemos ser nós mesmas o tempo todo? 

Quando analisamos as pessoas que realizaram feitos importantes no mundo, encontramos grandes esquisitices e comportamentos improváveis, muitas vezes acompanhados de uma dose de polêmica. Nossa história é repleta de pessoas que realizaram transformações justamente por quebrar padrões e expectativas de suas épocas. Líderes como Gandhi, Mandela, Angela Davis e Rosa Parks desafiaram o sistema e subverteram a estrutura que estava posta, sem pedir autorização.

Essas pessoas sempre me inspiraram muito. Eu vivi uma vida corporativa bem padrão até os 29 anos e, apesar de tecnicamente estar tudo certo, sentia que havia algo de errado. Minha vida parecia sem graça e eu estava me machucando muito ao tentar atingir as expectativas alheias e ser igual a todo mundo. Depois de alguns anos como foliã do carnaval carioca, resolvi integrar esse aspecto da minha vida no todo. Primeiro juntei dinheiro e, quando me senti segura financeiramente, fui atrás de um lugar onde pudesse ser realmente eu e isso fosse considerado bom. 

Mudei de emprego, mas o que me mudou mesmo foi a decisão de começar a ser ruim em algo novo. Explico: aprendi a tocar saxofone depois dos 30. Graças a esse salto de coragem, hoje tenho a minha própria consultoria e consigo conciliar isso com a vida de saxofonista, ganhando tanto para dar aulas e palestras sobre trabalho por aí, quanto para fazer shows com uma banda somente de mulheres.

Você já é tudo aquilo que está procurando

É difícil assumir que de vez em quando uma frase de coach soa bem, mas tem algumas que funcionam para mim e quero compartilhar com você a última que me deu um certo baque: “só aquilo que realmente somos tem o poder de nos curar”. Não achei a autora, talvez seja sabedoria popular – aquele tipo de clichê sobre a vida que só o tempo e a maturidade podem nos mostrar que fazem sentido demais. Seja como for, o fato é que existe um poder em a gente ser quem a gente é, mas parece que ele só se revela com um pouco de audácia e teimosia. 

Viver de forma autêntica pode parecer meio perigoso e dar frio na barriga, mas posso garantir que você já é tudo aquilo que está procurando. E é a liberdade para sermos cada vez mais inteiros em todos os ambientes (reais ou virtuais), que vai mudar as coisas.

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