Cristiana Oliveira: "Era muito elogiada como Juma, mas não bastava" - Mina
 
Seu Corpo / Arquivo Pessoal

Cristiana Oliveira: “Na pele de Juma, eu era elogiada por um país inteiro, mas, ainda assim, não era o bastante”

A atriz que encantou o Brasil ao interpretar a primeira versão de Juma Marruá, de "Pantanal", fala sobre os anos de luta para fazer as pazes com o próprio corpo, a convivência com distúrbios alimentares e a vida plena aos 58 anos

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Das praias do Rio de Janeiro, onde nasceu, para as águas calmas do Pantanal, onde virou estrela, foram 26 anos. Desde então, o olhar poderoso de Cristiana Oliveira, que encarnou Juma na primeira versão da novela, encantou o Brasil. Foi um salto rápido. Ela já  trabalhava como modelo e manequim quando resolveu fazer um curso do diretor Wolf Maya. Ouviu dele que a câmera a adorava e embarcou em testes para TV. Primeiro apresentou um programa de clipes, mas logo acabou diante da personagem que a alçaria à fama. “Foi um acaso mágico. A Juma era para ser minha”, diz. 

A carreira deslanchou: saiu da Manchete e foi para a Globo, trabalhou em dezenas novelas, foi capa da revista Playboy, rosto de inúmeros ensaios. E mesmo sendo dona de um dos corpos mais desejados do Brasil, teve que lidar com inseguranças até os 50 anos e ouviu críticas sobre seu peso de alguns diretores de TV. Essas e outras histórias sobre o resgate da autoestima ela conta no livro Cristiana Oliveira – Versões de Uma Vida, lançado em maio deste ano. A seguir, a atriz compartilha algumas delas em imagens que representam momentos diversos da sua trajetória.

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Com 6 anos, quando o corpo ainda não era uma preocupação (Foto: Arquivo pessoal)

“Odiava quando apertavam minhas bochechas”

Caçula entre nove irmãos, seis mulheres e dois homens, Cristiana conta que foi praticamente criada por eles, porque os pais viajavam muito. Na infância, ela se dividia entre o surfe, o skate e a dança, pela qual era apaixonada. “Nessa imagem, eu tinha uns 6 ou 7 anos e minhas sobrancelhas já eram ao estilo Juma Marruá”, diverte-se.

Durante esse período, o corpo não era uma preocupação. “Fui uma criança gordinha que odiava quando tias e primas queriam apertar a bochecha. Mas comia de tudo e até acho que era chatinha, mas nunca sofri nenhum tipo de bullying nesse período”, lembra. Aos 10 anos, ela já tinha 1,70m de altura e apesar de ser a mais alta da turma, isso nunca foi um problema. “Sempre soube me adaptar. Quando eu gostava de um menino mais baixo, eu namorava sentada e pronto.”

“Na adolescência, não me deixava fotografar e cheguei a fugir de casa para me esconder porque morria de vergonha de ter virado obesa”

Anorexia, bulimia e insatisfação 

Aos 13 anos, a relação com o próprio corpo sofreu uma reviravolta. “Minha professora de balé disse que eu jamais seria uma bailarina principal porque era muito pesada e derrubaria o meu parceiro”, conta. “Foi a primeira vez que olhei para o espelho e achei que tinha algum defeito. Passei a pensar que meu corpo era culpado por não conseguir realizar meu sonho de ser bailarina. Que para fazer o que eu queria teria que serrar meus ossos e não comer mais”, diz. 

Cristiana emagreceu, mas aos 15 voltou a engordar porque parou de dançar. Foi quando fez sua primeira dieta. “Minha mãe, que era bem vaidosa, me levou no cirurgião plástico dela. Ele me receitou remédios, que hoje sabemos que eram aquelas anfetaminas, e eu até perdi peso rápido, mas em seguida engordei muito mais”, conta. Com quase 50kg a mais, desenvolveu distúrbios como anorexia e bulimia. Ela também conta que não tem nenhuma foto dessa época, porque não se deixava fotografar. “Cheguei a fugir de casa para me esconder em São Paulo porque morria de vergonha de ter virado obesa”, compartilha. “O período até os meus 19 anos é tão complicado que tem momentos dessa fase que eu nem lembro”. 

Cristiana fez todos os regimes apontados pelas revistas de dieta da época. De uma maneira nada saudável, conseguiu emagrecer tanto que acabou ficando até abaixo do peso original. Virou modelo e, mesmo do alto de seus 1,76m, desfilando em passarelas internacionais, seguia se comparando com as outras garotas porque achava que deveria ter um corpo com menos curvas. “Minha vida toda foi uma grande tentativa de tentar corresponder a um padrão que me diziam ser o certo”. 

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Com 6 anos, quando o corpo ainda não era uma preocupação (Foto: Arquivo pessoal)

“Até hoje não sei o que aconteceu ali”

Dos comerciais de TV para se tornar paixão nacional com olhar selvagem da menina que vira onça foi um pulo. “Até hoje não sei o que aconteceu ali. Foi um acaso mágico. A Juma era para ser minha”, comenta. Na época da novela Cristiana era bem urbana, completamente diferente da personagem, mas um ponto unia as duas. “A ingenuidade dela era a minha ingenuidade. Mesmo já casada e com uma filha, ainda tinha uma visão muito pura da vida. Eu também estava descobrindo as coisas”, diz. 

A atriz relata que a sensualidade da personagem fluiu de forma natural e que todos os complexos com o corpo desapareciam ao encarnar Juma. “Quando estava na pele dela, eu era livre e não me preocupava com nada disso. Era como se aquele corpo fosse dela, e não meu. Mas, se no dia seguinte, tivesse que fotografar para uma capa de revista como Cristiana, já voltava a odiar meu bumbum, minha coxa, meus braços”. 

O sucesso retumbante da Marruá não foi o bastante para acabar com os complexos em relação à autoimagem. “O amor das pessoas até elevava a minha autoestima em alguns momentos, mas por dentro eu ainda tinha muitas inseguranças. Eu era elogiada por um país inteiro, as pessoas diziam que eu era linda, talentosa… Mas isso não era o bastante”, desabafa. 

O ensaio para a Playboy, em 1992, foi clicado por JR Duran na Jamaica

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Na pele de Araci, de Insensato Coração, em 2011 (Foto: Globo)

“Engordei 20kg e nunca fui tão cantada. Por homens e mulheres”

Cristiana conseguiu superar os distúrbios alimentares, e ainda assim seguiu magra até os 37 anos, quando voltou a ter seu corpo criticado por diretores de TV. “Quando vivemos de talento ligado a imagem, qualquer comentário negativo abala a autoestima de forma profunda”, lembra. Mas isso não a impediu de atravessar as inseguranças em nome do ofício. Quando interpretou a presidiária Araci, em Insensato Coração, deixou de lado a luta contra a balança. Optou por engordar e ficar forte para dar um ar mais real à personagem. E apesar de estar com o corpo do qual tentou escapar a vida toda, Cristiana lembra dessa época entre gargalhadas:  “Meu coxão fazia sucesso! Engordei 20kg e nunca fui tão cantada na minha vida. Por homens e mulheres”, diz. Depois disso, foram 2 anos para recuperar o peso de antes da novela. 

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Recentemente, Cristiana percebeu que espiritualidade e saúde se transformam em beleza

“Toquei o dane-se e nunca fui tão feliz”

Aos 58 anos, a atriz e, atualmente, empresária do ramo da beleza diz que a maturidade foi libertadora, fazendo com que o olhar e os cuidados com o próprio corpo mudassem.  “Faço botox desde os 34 anos, tirei o silicone que tinha desde 1992, fiz mamoplastia e amei. Hoje sou contra aquilo que tira a minha identidade ou é feito a partir do julgamento do outro. Mas sou a favor daquilo que me ajuda a me sentir bem”, declara.

Suas prioridades agora são a alimentação, o lado espiritual e a saúde. Ela conta que finalmente descobriu que isso acaba se transformando em beleza física. “Hoje assumi meu corpão, minha coxa, minha bunda. Não tenho nem idade, nem paciência para ligar para a opinião dos outros. A maturidade é libertadora. Mais do que ser uma mulher bonita, hoje eu me acho uma pessoa bonita. Alguém com brilho nos olhos, respeito pelo próximo e amor para dar. Aos 50, toquei o dane-se e nunca fui tão feliz.”

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