Como superar o fim (de série que amamos) - Mina
 
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Como superar o fim (de série que amamos)

Passar meses ou anos acompanhando uma história que nos toca é uma experiência reconfortante. O problema é quando a narrativa chega ao fim e fica uma saudade digna de luto

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Há quase 2 meses, assisti ao capítulo final de This Is Us e fiquei emocionalmente devastada. A série de televisão, lançada em 2016, chegou à sexta e última temporada em maio. Ao longo desses anos, cresci, amadureci, mudei, passei por conquistas e perdas enquanto acompanhava as histórias da família Pearson. A trama era tão comum – e tão extraordinária – quanto a vida. O vínculo criado foi inevitável. Ao finalizar o último episódio, foi como se uma parte minha tivesse ido junto. Agora, só resta a saudade de Jack, Rebecca, Kate, Kevin, Randal e companhia. 

“A arte coloca legenda no que sentimos, nomeia o que está visível ou escondido”

Sei que não sou a única a passar por isso. Quem nunca sentiu aquela “deprê” após terminar um baita livro? São semanas, meses ou, até mesmo, anos mergulhando de cabeça em um universo paralelo, nos envolvemos com os personagens, sentimos as suas alegrias e dores. Quando essas narrativas terminam, fica um vazio. E quanto mais tempo passa acompanhando uma narrativa, mais difícil o final parece ser. 

Lembro como foi sofrido para alguns amigos o fim da saga Harry Potter nos cinemas em 2011. Aliás, nesse caso, uma geração inteira ficou com uma estranha sensação de luto. Afinal, foram dez anos acompanhando Harry, Rony e Hermione nas telonas, bem durante a adolescência, uma etapa extremamente importante da vida. Fora quem já tinha tido a companhia deles no fim da infância, lendo os livros. 

“A arte, seja qual for, coloca legenda no que sentimos, nomeia o que está visível ou escondido. Quantas vezes choramos diante de um episódio, mas não derramamos lágrimas por algo que acontece ao nosso lado? A arte, muitas vezes, nos protege. Como plateia, damos permissão para nossos sentimentos, porque não há envolvimento e desdobramentos”, explica a psicóloga Teresa Gouvea, especialista em luto e responsável pelo perfil @lacoselutos_. “Me conte os livros que gosta, as séries e filmes que te mobilizam, e ali estará você”.

Para Carolina Ruhman Sandler, biblioterapeuta na The School of Life Brasil, essa ligação forte que estabelecemos acontece porque a ficção é um espelho da realidade. “Quanto mais potente a obra, maior a nossa identificação com os personagens. E, se ficamos com saudades, é prova de que eles falaram profundamente conosco, que os dilemas que encararam não são tão diferentes daqueles que enfrentamos em nossas próprias vidas”, diz. 

Como lidar com a tristeza do fim

E o que fazer com aquela tristeza pela companhia que cessa? Como cuidar do vazio estranho que nos invade, trazendo a sensação de que nada mais nos acomodará tão confortavelmente? Em primeiro lugar, essa tristeza deve ser respeitada, afirma Carolina. Depois, a profissional sugere que se faça uma reflexão sobre o livro ou série para entender por qual razão ele falou tão profundamente com você. “O que ele me fez enxergar de outra forma? Quais aspectos meus descobri com aquela obra? Uma ideia interessante é escrever um pouco sobre isso em um caderno de leituras, por exemplo. Essa é uma forma de analisar e processar a experiência”, recomenda. 

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Outra ideia é encorajar amigos e familiares a lerem o livro ou assistirem à série. Assim, juntos, vocês podem comentar a história e falar sobre os personagens como se fossem amigos em comum. É muito interessante ficar obcecado por uma obra com alguém que também se viu encantado pelo mesmo mundo ficcional. Gera identificação e boas reflexões.

Por fim, chega a hora de escolher um novo livro, filme ou série para se apaixonar – ainda que seja impossível de isso acontecer em todas as escolhas. “Para tal, a obra tem que tocar em lugares profundos nossos. Ainda bem: não precisa ser tudo sempre tão pesado e intenso, ou recorrentemente leve e passageiro. É a mistura de tipos de experiência que deixa a vida mais interessante”, diz Carolina. 

“Se algo te deixa triste quando acaba, deve ter sido maravilhoso quando estava acontecendo” 

Enquanto outra trama não cativa a minha atenção por completo depois do encantamento por This Is Us, sigo grata pelos aprendizados obtidos e certa de que há um universo imenso de novas histórias me esperando para serem exploradas. Também sigo o conselho da psicóloga Teresa: “Tudo o que foi oferecido agregou, fará morada em você. Siga melhor. Se a despedida é difícil, é porque somou. Amanheça para o que te espera, no tempo que o coração precisar”. E, como bem disse o personagem Willia, no último episódio de This Is Us: “se algo te deixa triste quando acaba, deve ter sido maravilhoso quando estava acontecendo. O fim não é triste, é só o começo da próxima coisa incrivelmente bonita”. 

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