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Seu Corpo / Arquivo Pessoal

Clara Averbuck: “Transtorno alimentar é algo pra vida toda, então fico sempre ligada”

Cobrada desde muito nova a emagrecer, a escritora desenvolveu um transtorno que pautou grande parte de sua vida. Por meio de seis fotos, ela revela como entrou – e como saiu – dessa.

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Neste mundo inundado por todo tipo de blogueirinhas, Clara Averbuck carrega um título importante: foi uma das primeiras blogueiras do país e, repara que naquele tempo, blogueira era quem escrevia um blog mesmo. Hoje, Clara tem nove livros publicados e já colaborou com a sua opinião forte e destemida para diversos veículos de imprensa. Nascida no Rio de Grande Sul, e moradora de São Paulo há mais de 20 anos, ela entendeu desde muito nova o quão machista e misógino é o mundo. Ao longo de sua história ela sentiu na própria pele a pressão pelo padrão que se exige de meninas e mulheres.

Filha de pais artistas, Clara sempre teve muita liberdade para ser quem é, porém ao crescer, foi percebendo que até os próprio pais passaram a falar sobre seu corpo que era considerado ‘fora do padrão’. “No Rio Grande do Sul, se você não é tipo a Barbie, você já é fora do padrão, então eu sabia que não era padrão, apesar de ser”, diz.

Antes de completar 15 anos, Clara foi violentada sexualmente por três colegas da escola e ao invés de receber o apoio necessário, foi responsabilizada pelo abuso. “Percebi que todos estavam errados e mandei todo mundo se fuder. Anos depois, encontrei um dos caras que me violentou e dei uma surra nele”, conta. Por meio de seis  fotos, a escritora nos conta como foi sua relação com o corpo ao longo dos seus 44 anos.

Aos 3 anos: Foi apenas na infância que Clara viveu sem “ter problemas com a comida”  | Arquivo Pessoal

“Sempre fui uma criança expansiva, mas eu era solitária”

Aos 3 anos, Clara já entendia que sua família era diferente da dos demais colegas. Filha de pai ator e músico e mãe fotógrafa, a gaúcha cresceu rodeada de artistas. “Sempre fui uma criança expansiva, mas eu era solitária porque os meus amigos não frequentavam a minha casa nessa época”, relembra. A escritora também se recorda que durante sua primeira infância, entendeu que os pais eram vegetarianos, mas não a criaram assim, ela sempre comeu de um tudo um pouco. “Nunca tive problema com comida na infância, ele começou na adolescência.” 

Aos 10 anos: Quando começou a entender que ser mulher no mundo não era tarefa fácil | Arquivo Pessoal

“De tanto as pessoas falarem, meu corpo foi se tornando um problema pra mim”

Clara conta que na escola, ela não costumava levar desaforo para casa. Sua mãe a ensinou a não aceitar de forma pacífica o que era determinado como comportamentos femininos. Aos 10 anos, no ensino fundamental, passou a ouvir que precisava emagrecer. “De tanto as pessoas falarem, meu corpo foi se tornando um problema pra mim”. Foi nessa época que ela entendeu que ser mulher no mundo não era algo fácil, mas, mesmo assim, sabia que precisava se impor. “No Rio Grande do Sul, se você não é tipo a Barbie, você já é fora do padrão, então eu percebia que não era padrão, apesar de ser”, diz.

Aos 13 anos: quando fez sua primeira tatuagem | Arquivo Pessoal

“Percebi que estavam todos errados e mandei todo mundo se fuder”

Aos 13 anos, com autorização da mãe, Clara fez sua primeira tatuagem e percebeu que os comentários sobre seu corpo ficaram cada vez mais frequentes e invasivos. “Passaram a vir de casa, dos meus pais”, conta. Nesse período de adolescência (cerca de dois anos depois desta foto) a autora foi violentada sexualmente por três colegas dentro do ambiente escolar. “As pessoas colocaram a culpa em mim porque eu tinha bebido”, relembra. Lidar com a situação sem o apoio da família, e sem os adultos saberem o que fazer para ampará-la, fez com que a escritora tentasse se proteger como dava. “Percebi que estavam todos errados e mandei todo mundo se fuder. Anos depois, encontrei um dos caras que me violentou e dei uma surra nele”, conta.

O estupro reverberou na forma como ela passou a lidar também com a própria sexualidade. “Depois de ter sido violentada, comecei a transar de forma compulsiva. Era cedo ainda, achava que essa era uma forma de retomar poder sobre mim”.

Aos 17 anos: Quando passou a entender que o sexo pode ser prazeroso  | Arquivo Pessoal

“Nunca me relacionei com homens da minha idade”

Depois da violência que sofreu, a relação de Clara com o próprio corpo ficou ainda mais delicada. “Meu corpo era uma sanfona, engordava e depois emagrecia muito e meus pais buscavam remédio para eu emagrecer”, lembra. Clara conta que não tinha problemas para se relacionar: “Nunca me relacionei com homens da minha idade, e nessa época comecei gostar de transar, porque antes era compulsivo. Lembro que gozei pela primeira vez com 16 anos”, diz.

Aos 29 anos: Uma escritora de sucesso em depressão – mas feliz por estar magra | Arquivo Pessoal

Pra mim a felicidade era sinônimo de magreza, as marcas do corpo não vem dos momentos bons”

Aos 29 anos, a escritora estava no seu terceiro casamento e em uma crise de depressão profunda. Era uma mulher culta, tinha um trabalho e uma filha de 5 anos, mas a única coisa que lhe trazia felicidade era estar magra, algo decorrente do efeito da doença. “Pensava ‘finalmente estou magra’. Lembro que na época fui entrevistada por site gringo sobre ser uma das mulheres mais influentes da internet, mas não lembro de nada porque estava chapada de remédios”, diz. Mas ela estava finalmente magérrima, algo que desejou (e desejaram dela). “Pra mim a felicidade era sinônimo de magreza, as marcas do corpo não vem dos momentos bons”, confessa. 

Hoje aos 44 anos: O pole dance foi uma forma de redescoberta do próprio corpo  | Arquivo Pessoal

“Quem tem transtorno alimentar, tem para vida toda”

Para se reorganizar, Clara foi focando no trabalho e saiu do seu quarto casamento. Mas foi com a prática do pole dance, que começou aos 39 anos, que a escritora começou a ter uma relação mais saudável com o próprio corpo. “Foi uma revolução na minha vida, comecei a ver meu corpo como um lugar que habito. Saber que sou capaz de ficar pendurada pela virilha de cabeça pra baixo me deu segurança”, diz. Sensualizar na barra a fez se sentir empoderada de verdade e também melhorou o sexo. Mas ela está sempre atenta ao transtorno alimentar que a acompanha desde a adolescência. “Quem tem transtorno alimentar, tem para vida toda, então fico sempre ligada pra não cair em ciladas”, diz. 

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