Luto, um misto de tristeza e força - Mina
 
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Luto, um misto de tristeza e força

Carolina Dieckmann fala sobre a recente perda da avó e de como tem transformado a saudade e a dor em energia de vida

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Fazer anos sempre me faz ficar pensativa. Mas ano passado, assustada pela repercussão de um post que eu fiz, acabei passando batido pelo esmiuçar profundo que esse tipo de reflexão gera. Ao me defender dos ataques etaristas, deixei de lado o pensamento sobre o tempo, coisa que me fascina há anos. E é porque eu sei que tenho menos tempo que ontem, que o que me sobra, tem muito, muito valor… aliás, mais a cada dia.

Esse ano me dei conta de que após cinco anos da morte da minha mãe, veio a morte da minha avó, com um dia de diferença, e uma estranha semelhança: ambas morreram no que a astrologia chama de inferno astral. Nada mais a cara do tempo do que perder alguém perto do nosso aniversário. É como vivenciar uma força oposta, uma pulsão de vida e morte, só que juntas. Acho tudo muito estranho, não tenho mesmo outra palavra.

“Vim falar mais uma vez da força que nasce oculta no que chamamos de dor”

Estava me preparando pra edificar o luto pela minha mãe, passar de fase, e veio a perda da que é minha segunda mãe, a que me deu colo pela partida da primeira, e que agora, me deixaria órfã de vez. Foi um golpe duplo, duro demais.

Mas eu não vim chorar pitangas… vim falar mais uma vez da força que nasce oculta no que chamamos de dor. E do aprendizado que dá sentido a tudo.

Não há outro jeito; nem mesmo ver e se afetar pelo sofrimento do outro. Nada supera a experiência. Mas há algo de bonito no reconhecimento coletivo daquilo que passamos. Algo que nos diz que não estamos sozinhas e que toca a nossa alma de um jeito único. 

Sinto que me curei muito escrevendo. E pra além disso, percebi a potência dessa cura se multiplicar cada vez que eu via que, com as minhas palavras, tinha descrito o que muitas pessoas também estavam sentindo. Cada vez que isso acontecia, eu sentia meu ‘exército’ crescer. Aos poucos, me tornei uma multidão. Hoje, não consigo me separar de tantos relatos de pessoas que perderam alguém e que se identificaram com o meu luto e meu jeito de processá-lo. E foi justo o tempo que me fez enxergar isso. Não foi imediato, acho que nunca é. O tempo sempre precisa de tempo.

A gente precisa de tempo pra entender o passar de um ano, e mais ainda pra compreender uma morte. E o mais estranho é que essas duas coisas, tão diferentes entre si, contêm exatamente a mesma lição: o tempo que temos entre nascer e morrer, e que chamamos de vida, é uma permissão misteriosa e a mais valiosa de todas. Apenas enquanto há vida temos tempo, mas só entendemos o quão grandioso e definitivo isso é diante da morte.

Ah, se a gente soubesse qual o dia do último abraço…

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