É uma sorte esse nosso relacionamento com o tempo. Desfrute
Carol Dieckmann começou o ano reflexiva, reparando que o tempo mudou de compasso e tentando entender como ela vai usufruir disso. Na sua coluna, ela convida você a fazer o mesmo
Um ano termina, outro começa… em looping, contínuo, sem pausa, como o tempo. Como o coração de quem nasce até o dia que morre. Como o meu, aqui escrevendo esse primeiro texto de 2024.
A vida é um sopro, dizem… um sopro com muito fôlego, claro. Toda vez que esse ciclo chamado ano fica em evidência, porque faz aniversário justo com a volta do mundo no Sol, a gente tenta parar um pouco pra pensar sobre o que fizemos e o que queremos fazer.
É natural, orgânico e comum tentar lançar uma perspectiva consciente sobre fins e inícios. Calcular os erros e estragos, prospectar os passos, mirar nos acertos… e quanto mais o tempo passa, ou quanto mais vida você tem pra avaliar, a matemática complica, né? O tempo, cada vez mais curto pra frente, na mesma medida em que parece mais rápido pra trás. E a urgência de viver num doce compasso com a calma que a maturidade traz.
Este ano e, óbvio, porque estou mais velha do que jamais estive, todos esses pensamentos tem me consumido mais que antes, ou mesmo do que nunca. Sinto essas mudanças no meu corpo; o olho menos ávido no foco, dores novas, uma ressaca que mais parece a gripe que eu nunca fui de ter.
Estar viva, lúcida, saudável, cheia de energia e sonhos é uma sensação cada vez mais presente
Vontade de sair menos e conhecer mais, como pode? A pilha de livros que ao invés de diminuir, só aumenta. Os exercícios que eu preciso fazer para dar conta em contraste com o terror de estar gastando tempo com isso. E ainda tem as coisas do coração, no estado físico e também no abstrato; cuidar do órgão pra que o afeto siga tendo casa e alguma longevidade.
Sei que todas essas coisas podem parecer pesadas, assim, enumeradas como problemas, e aqui eu preciso de uma grande ressalva, porque o prazer de poder falar e pensar sobre cada uma delas é imenso. Estar viva, lúcida, saudável, cheia de energia e sonhos é uma sensação cada vez mais presente também, até porque, quando se é jovem, nada disso parece ter a importância que um dia vimos que temos.
Essa vinda aqui, neste janeiro de vinte e quatro, é pra dizer que talvez a magia da vida esteja justamente nisso que todos temos em comum: esse relacionamento com o tempo. Uns com mais sabedoria, outros com mais pressa, alguns com menos consciência e ainda os que passam feito cometa, sem tempo com o tempo. Mas pra todos nós que estamos aqui, ainda na sorte de namorar esse senhor soberano, a chance existe. Não desperdice, a gente não vai ter outra.