Poucas casas são mais munidas de nutrientes que o lar das abelhas. Entre outras finalidades, as colmeias estocam mel, que é fonte de energia, vitaminas e minerais para toda a comunidade, e geleia real, secreção rica em proteínas que alimenta a rainha. Tanta comida assim acaba despertando inveja de vizinhos. Então, para proteger os favos, as abelhas revestem seu cantinho com o famoso própolis, uma cera pegajosa que inibe a entrada de fungos, bactérias e outros insetos. Sim, esse escudo é riquíssimo em nutrientes e traz benefícios para a saúde humana.
Como o própolis é produzido?
As abelhas voam de flor em flor sugando tudo que podem para depois metabolizar esses ingredientes de formas diversas. No caso do própolis, elas utilizam resina de brotos, flores, folhas e cascas de plantas misturadas com a própria saliva. Estima-se que o composto tenha em torno de 50% de resinas vegetais, 30% de cera de abelha, 10% de óleos essenciais, 5% de pólen e 5% de detritos de madeira e terra. Um verdadeiro elixir.
+ Leia também: Aromaterapia: os benefícios dos óleos essenciais
+ Leia também: Os benefícios do chá
Para produzir extrato de própolis para consumo humano, o apicultor faz uma raspagem da colmeia. Ela é realizada a cada 15 dias, preferencialmente na primavera, já que esse material também ajuda a proteger a colônia do frio. Ele então é filtrado para retirar as impurezas e, normalmente, macerado com álcool, já que é pouco solúvel em água. O selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF) garante a qualidade do produto. É bom ficar de olho!
Os benefícios do própolis
Apesar de não ser produzido pelas abelhas para ser alimento, o própolis tem densa carga nutricional, contendo cobre, manganês, cálcio, ferro, vitaminas C e E, ácidos fenólicos e flavonoides, explica a nutricionista Andressa Troles, do Hospital Marcelino Champagnat, de Curitiba.
Diversos estudos sobre suas propriedades ainda estão em andamento, mas a ciência já comprovou alguns benefícios para os humanos por sua ação antibacteriana, antiviral, antifúngica e anti-inflamatória. São eles:
- Acelera a cicatrização de feridas
- Ajuda a tratar herpes
- Contribui para a saúde bucal
- Fortalece o sistema imunológico
- Combate inflamações
- Controla alergias
É por essa reserva toda que ele é usado na produção de sprays, pomadas, cápsulas e produtos em gotas. A farmacêutica e bioquímica Joceline Franco, professora na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), no entanto, alerta: o própolis é um alimento funcional, não um medicamento. Assim, pode muito bem ser usado como coadjuvante no tratamento de diversas condições, mas não dispensa acompanhamento médico.
Própolis é tudo igual?
Se o própolis é composto pela saliva das abelhas e vestígios de vegetais de onde elas sugam a seiva, dá para imaginar que a fórmula dessa cera vai variar conforme o local e as condições ambientais em que o inseto buscou seu alimento. Aí nascem diversas variações dela, conforme explica a bióloga Ana Carolina Roque Cardoso, doutoranda em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP).
O própolis vermelho é comum nas regiões Norte e Nordeste e seu ponto forte é o teor antinflamatório. O marrom é muito encontrado nas regiões Sul e Sudeste e se destaca pelo efeito antibacteriano. O verde aparece no Sul de Minas Gerais e apresenta substâncias fenólicas com efeito antioxidante. Há também o própolis preto, encontrado majoritariamente no Nordeste e cujas propriedades medicinais específicas ainda têm sido estudadas.
Todo mundo pode consumir própolis?
Não. E é necessário ter cautela. Durante a gravidez ou lactação, o própolis só deve ser usado sob orientação médica, reforça a bióloga. Ele também é contraindicado para crianças menores de um ano, pacientes alérgicos a pólen, abelhas e ao próprio própolis.
Outro alerta importante diz respeito à quantidade a ser ingerida. Segundo a Cooperativa Nacional de Apicultura (Conap), o limite indicado para adultos é de 15 gotas diárias. Para crianças, é metade disso. “Muita gente pensa que porque algo é natural pode ser consumido sem dó, o que não é verdade. Todo cuidado é pouco para evitar excessos”, reforça a farmacêutica Joceline.