Alexandre Coimbra: "Precisamos valorizar o que produzimos além do trabalho, como bons momentos" - Mina
 
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Alexandre Coimbra: “Precisamos valorizar o que produzimos além do trabalho, como bons momentos”

O psicólogo alerta sobre os perigos de não separarmos a vida pessoal do trabalho e mostra caminhos para encontrar bem-estar nesse balanço

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Quem não está correndo contra os últimos dias úteis do ano para finalizar as pendências do trabalho ou está de férias ou ainda não iniciou sua vida no mercado. Uma pesquisa revela que 1 a cada 5 brasileiros de grandes corporações está esgotado. Para falar sobre trabalho e bem-estar, Angélica recebe Alexandre Coimbra, palestrante, psicólogo e escritor. 

“No século vinte, a sociedade tinha uma relação disciplinar com o trabalho, mas terminava quando a gente colocava o cartão de ponto. A gente só era incomodado com o chefe se tivesse acontecido uma grande tragédia”, lembra. Agora, com pausas cada vez mais rápidas e uma cobrança intensa por produtividade, a relação com o trabalho tem ficado cada vez mais estreita. 

“Sobretudo o smartphone foi o grande responsável por essa transição, que tem a ver com uma perda da fronteira entre o trabalho e o resto da vida”. Quem não confere o e-mail de trabalho pelo celular? Ou fala com o chefe pelo WhatsApp? Além do contato com a família, amigos, o acesso ao banco, à agenda… Então vida pessoal e profissional ficam misturadas, o que afeta as pausas, os nossos momentos de lazer e nossas relações. 

 “Bem-estar não é você colocar uma hora de meditação durante o trabalho”

Isso tudo, com as altas cobranças de desempenho, leva a quadros de esgotamento. “A OMS colocou neste ano o burnout como uma questão de cultura, não é mais uma questão do indivíduo”, sublinha Alexandre, que ressalta a importância do ócio para o nosso bem-estar. “Não fazer nada é produzir outras coisas para si. Reflexões, estados de encantamento com a vida, bons momentos para a gente”. 


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As mães que amamentam são um bom exemplo de como temos a ideia de que produção é sempre algo ligado ao trabalho, quando, na verdade, é algo mais plural. “Por que as brasileiras têm dificuldade de amamentar? Porque elas deixam de produzir para esse sistema do trabalho para produzir leite para os seus filhos”, pontua. Como só a primeira é premiada, a segunda acaba enfraquecida, mesmo sendo algo fundamental em nossas vidas. “Esse conceito da produção só para o mundo do trabalho esvazia tudo o que eu posso fazer por mim”. 

Para que as empresas garantam a segurança psicológica de seus empregados, Alexandre tem algumas sugestões: “Reconhecer que bem-estar não é você colocar uma hora de meditação durante o trabalho e continuar com práticas que vão levar ao burnout. Não adianta fazer medidas cosméticas sem realmente definir com muita precisão o que é horário de trabalho e o que não é, e deixar muito explícito pras pessoas da empresa que elas não serão mal vistas se cumprirem seu horário sem extrapolar”. 

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