Foi difícil ficar longe da convivência social e da interação com outras pessoas durante os picos da pandemia, não foi? Os impactos desse afastamento seguem afetando o emocional de muita gente, mesmo depois de meses de volta aos encontros. Mas tem uma parcela da população que, de certa forma, já conhecia muito bem esse cenário muito antes da quarentena: os idosos. De acordo com o levantamento de 2017 da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, a solidão é o maior temor dos brasileiros na terceira idade. Então o que fazer para mudar esse quadro, ajudando a promover a vida social das pessoas mais velhas?
Se sentir solitário ou infeliz pode acelerar o envelhecimento do corpo em até um ano e oito meses
O papo é sério: a solidão e o isolamento social aumentam em até 30% morte por ataque cardíaco ou AVC (acidente vascular cerebral), segundo estudo publicado em agosto no Journal of the American Heart Association. Os cientistas apontam que programas de condicionamento físico, atividades recreativas e acompanhamento psicológico ajudam a reduzir o problema. De toda forma, a convivência segue sendo importante para o bem-estar e a saúde dos idosos, pois evita que eles tenham um envelhecimento acelerado. Um estudo feito pela Universidade de Standford, nos Estados Unidos, em parceria com a empresa chinesa Deep Longevity mostrou que Se sentir solitário ou infeliz pode fazer as pessoas perderem até um ano e oito meses de vida.
“Quando estão cercados de pessoas que prestam atenção neles, que oferece escuta, acolhimento e atividades para se sentirem ativos, eles deixam de estar acamados, cabisbaixos e se sentem potencializados”, destaca Simone Vieira, coordenadora do Programa Idosos, da organização social da Liga Solidária. Conveniado à Prefeitura de São Paulo, o projeto oferece atividades como coral, pilates, informática, fisioterapia, artesanato, teatro e música para pessoas acima de 60 anos em vulnerabilidade social.
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Uma das frequentadoras mais ativas é Maria Florinda Gonçalves, de 72 anos. São cerca de seis anos participando do programa e, atualmente, está se dedicando às aulas de dança, yoga e ginástica. “Quando entrei, tinha acabado de fazer duas cirurgias e me sentia muito só, então fui pra lá e me senti acolhida.” diz. Mãe de 4 filhos, avó de dezesseis netos e bisavó doze bisnetos, ela mora sozinha e considera importante ter relações para além da família. “Eles moram longe e, para além da atenção que me dão, para mim é importante socializar com pessoas da minha idade, porque compartilhamos as mesmas experiências”, conta.
É importante motivar os idosos a manter interesses pessoais e realizar tarefas coletivas
Simone destaca que os familiares precisam dar um empurrãozinho para que os mais velhos tenham uma rotina mais ativa. “Conheço idosos que a única atividade é ficar sentado, assistindo TV, e aí vem a depressão. A família tem que estar atenta e pensar em atividades para oferecer para eles.” Mesmo que não possa estar presente sempre, é importante reservar um tempo na agenda para conversar, ouvir queixas, propor ideias e dar motivação para que eles mantenham interesses pessoais e realizem tarefas coletivas que não dependam dos parentes de forma integral. “A mesma paciência que esse idoso teve para ensinar e ouvir no passado, precisa receber agora”, destaca a especialista.
Para os que não tem família, esse contato pode ser ainda mais importante. Dona Maria Cecília de Oliveira, de 75 anos, não teve filhos, mora sozinha por opção e vê no convívio do grupo que participa no bairro a socialização exata para preencher o que precisa. “Gosto muito de estar sozinha e me viro bem em casa, mas estar ali com os amigos, conversar e brincar uns com os outros, me faz muito bem”, diz.
O Programa Idoso é um bom espaço de integração, mas não é o único. Para além dos programas sociais, existe uma gama de possibilidades. Simone dá a letra: “Ele pode estar no grupo do condomínio, numa praça jogando bingo, na calçada conversando com o vizinho ou até mesmo compartilhando receitas de bolo, o importante é entender que ele tem um outro ritmo e ser mais paciente.” Então, que tal aproveitar o Dia Mundial do Idoso, para embarcar nessa ideia e buscar novas atividades e possibilidades de socialização para os idosos com quem convive?