Solitude é escolher a si mesma
Se para conquistar os outros a gente abre um vinho ou faz um jantar, fica a pergunta: o que você está fazendo para se conquistar?
Não é simples, mas conseguir virar a chave e perceber que somos a nossa melhor companhia é maravilhoso. E é exatamente isso que transforma solidão em solitude. Quando o estar sozinha representa uma pausa necessária, um tempo que você tira só pra você, sem pressa, sem culpa e principalmente, sem dor.
Me lembro de quando, lá pelos 20 e poucos anos, uma taróloga me disse que meu número era o 7, o número da solidão. Imagina o choque de uma jovem romântica, cheia de expectativas sobre o amor, ouvindo aquilo? Mas, antes que eu entrasse em pânico, ela me tranquilizou: “Você não vai ficar só, mas precisa aprender a ser feliz sozinha.” Naquele momento, eu ainda não sabia, mas o conceito de solitude estava batendo na porta.
Solitude é deixa de suportar os momentos em que está sozinha e passar a curti-los
Hoje, aos 40, encho a boca pra dizer: eu amo minha própria companhia. E consegui entender que estar só é muito mais do que sobreviver sem alguém ao lado. É aprender a estar em paz comigo mesma e minimizar aquele sentimento de “preciso de alguém”. Solitude é escolher a si mesma. É o prazer de sentar no sofá com um bom livro, curtir um café devagarzinho na varanda e se sentir completa neste momento.
Isso não significa querer estar sozinha sempre e nem que eu não queria encontrar uma parceria longeva, mas significa, sim, que aprendi a ser feliz comigo mesma. Quando a gente deixa de suportar os momentos em que está sozinha para curti-los, muita coisa fica diferente e o mundo fica todo mais leve. E, olha, isso tem tudo a ver com se valorizar. Parar de depositar a nossa alegria no outro e começar a transbordar por conta própria. Tem alguém ao lado, ótimo. Não tem, tudo bem também.
Solitude não é ser só. É a plenitude de estar só. Optar pela solitude é optar por si. Principalmente quando ela significa não entrar em grandes roubadas ou gastar energia com relacionamentos que não nos fazem bem. Aquietar-se de maneira cautelosa e saudável em nosso próprio eu nos deixa mais fortes até para avaliar as companhias que aparecem. Elas valem a pena? Eu quero mesmo? Porque, se curtimos nossa solitude… precisar, não precisamos.
Há quem diga que a solitude é a irmã mais nova e boazinha da velha e malvada solidão. E as diferenças são enormes. Solidão é o estado de espírito de se sentir só até quando estamos no meio de uma multidão. Solidão é aquele vazio no peito, independente de estarmos de fato sozinhas ou não. Já a solitude envolve estar sozinha de verdade e preencher esse espaço com a alegria da nossa própria companhia. A solidão é a ausência de vida. A solitude é a vida na ausência de pessoas.
Mas aí vocês me perguntam: como eu coloco solitude onde só sinto solidão? Aprender a gostar de estar comigo mesma foi um processo longo, cheio de altos e baixos e de muito amadurecimento. Várias vezes me coloquei à prova ao lado da minha própria companhia. Sou daquelas que vai ao cinema sozinha, que viaja sozinha, que sai sozinha e me sinto bem com isso. Gosto da minha companhia.
Só que para gostar de ficar com nós mesmas é preciso treinar e testar. A gente não abre um vinho, faz uma comida gostosa e coloca uma música boa quando quer agradar alguém? Pois é isso que precisamos fazer com nós mesmas. E veja, isso não significa que a solidão não vai nunca mais bater na sua porta. O vazio às vezes vem, a diferença é que ele não vem sempre que estou sozinha. Ele vem quando tem alguma dor e daí, eu cuido dela.
Com o passar dos anos, vamos naturalmente aprendendo que não precisamos de plateia para nos sentirmos completas. As pessoas vêm e vão, as dores e os vazios vêm e vão. Mas sentir que nossa melhor parceria é com a gente mesma, muda tudo. A solitude é um presente que a gente dá pra si, é um respiro no meio do caos. E quer saber? Você merece.