Na era digital, até o sono tem tido o suporte da tecnologia. No TikTok e no X (antigo Twitter), viralizaram vídeos de pessoas ensinando a usar o Chat GPT para buscar o sono perfeito. E a resposta, como sempre na IA, está a apenas alguns cliques de distância. Mas será que ela realmente funciona?
Segundo o Arthur H. Danila, Coordenador do Programa de Mudança de Hábito e Estilo de Vida do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, a tecnologia não é tão assertiva. “A Inteligência Artificial baseia suas respostas em informações disponíveis em sua base de dados, que são médias populacionais e conceitos gerais. Ela não leva em consideração variações individuais. E no sono, isso faz toda diferença”, diz.
“Não tem base científica a teoria de que se a pessoa acordar no meio do ciclo pela manhã não vai acordar bem”
Rosa Hasan, coordenadora do Laboratório do Sono do IPq – Instituto de Psiquiatria da USP, faz coro com Arthur, afirma que o Chat GPT até explica direitinho como funcionam os ciclos, mas não considera as individualidades de cada um. “Existem pessoas que são mais sensíveis à privação de sono, outras menos. Umas que precisam dormir mais e outras menos. A duração de cada ciclo também depende de muitos fatores, como idade, saúde, estresse, alimentação, atividade física e condições ambientais. “, diz.
Uma busca rápida revela que as pessoas querem saber de tudo: desde as fases do sono até os segredos para dormir melhor, e como um bom robô, o Chat GPT explica pacientemente que o sono é dividido em ciclos, com fases que vão do sono leve ao famoso sono REM, aquele estágio mais profundo, em que o corpo chega em total relaxamento.
O Chat GPT ensina direitinho também que os ciclos do sono têm uma duração de em média 90 minutos para um adulto. Mais precisamente, ele pode variar entre 70 e 110 minutos dependendo da pessoa. “Um jovem adulto saudável, que segue uma rotina equilibrada de alimentação e atividade física, geralmente passa por 4 a 6 ciclos de sono por noite, assumindo um total de 7 a 9 horas de sono”, diz o Dr. Arthur.
E a pergunta que não quer calar:
Acordar no fim de um ciclo realmente faz diferença?
O que mais viralizou nessa história, é que ao despertarem no fim de um ciclo de 90 minutos as pessoas disseram acordar mais dispostas. Mas segundo a especialista, não é exatamente assim que funciona. “Isso é bobagem, não tem uma explicação científica que vai garantir que se a pessoa acordar no meio do ciclo, ela não vai acordar bem. Tudo depende da fase de sono que ela estava e se a quantidade de sono que ela teve foi o suficiente pra ela”, diz.
Por mais bem intencionado que o Chat GPT ou seus usuários estejam, a falta de precisão pode deixar as pessoas apreensivas. “Basear-se unicamente nessas informações pode levar a expectativas irrealistas e frustrações, além de não abordar possíveis problemas que requerem atenção médica”, diz Arthur. Ele ainda alerta que a preocupação em dormir bem pode levar algumas pessoas a, justamente, não dormirem bem.
Acordar várias vezes durante a noite, seja pra fazer xixi ou preocupada com o próprio sono, não é nada bom. “Interromper constantemente os ciclos de sono mais profundos pode levar a problemas como fadiga crônica, dificuldades cognitivas, distúrbios metabólicos e aumento do risco de doenças cardiovasculares”, afirma Arthur. Mas isso não tem nada a ver com interromper as fases finais do sono, depois de várias horas dormindo, ok?
O que todo mundo concorda é que cuidar do nosso sono é positivo. A ciência já comprovou que uma numa noite bem dormida ajuda na recuperação física e mental e também fortalece o sistema imunológico, melhora a regulação hormonal e auxilia na memória.