Sarah Menezes: “O clima olímpico é sempre uma mistura de empolgação com ansiedade" - Mina
 
Nosso Mundo / Reportagem

Sarah Menezes: “O clima olímpico é sempre uma mistura de empolgação com ansiedade”

Em sua estreia como técnica da seleção feminina de judô, Sarah conta como estão os preparativos na França e afirma que ser treinadora se assemelha muito a ser mãe

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A judoca supercampeã Sarah Menezes, treinadora da seleção feminina de judô, está em Paris para o início dos Jogos. É sua estreia como técnica em Olimpiadas, já que assumiu a seleção no final de 2021. Sua delegação passou alguns dias tranquilos em Lisses, cidade vizinha a Paris, e segue hoje (25) para a vila Olímpica.

Os jogos, previstos para começarem amanhã, sexta-feira (26), marcam 16 anos da estreia de Sarah como atleta olímpica. Pequim, em 2008, foi palco da primeira competição da judoca, que, ela lembra, foi cheia de nervosismo. “Foi um momento muito delicado. Eu estava insegura, era iniciante demais”, conta. Sarah se refere à derrota que sofreu na luta de estreia e que culminou em sua eliminação precoce. 

“A adrenalina sempre chega, preciso controlá-la para acalmar o atleta”

Ela tinha 18 anos e batalhava para realizar o sonho de tornar o judô sua profissão. Lidou, à época, com a frustração e a ansiedade – sentimentos que a visitam até hoje, mas com bem menos intensidade. Seus aprendizados a ajudam a segurar as pontas. 

Só que agora, como está do outro lado do tatame, além de ter que lidar com sua própria ansiedade, Sarah precisa ser suporte para suas judocas. “Desde que eu era atleta, meu segredo para cuidar da ansiedade é o mesmo: respirar, respirar e respirar. A adrenalina sempre chega na hora do evento, preciso controlá-la para acalmar as atletas, passar confiança a elas”, conta.

Sarah sabe que foi a ansiedade que a impediu de fazer uma boa luta em 2008. Ela atribui à insegurança da idade a dificuldade que sentiu no confronto com a húngara Eva Csernoviczki. “Estava tão nervosa, que quase não consegui subir no tatame”, diz. 

Em 2012, entretanto, já madura e com uma Olimpíada na bagagem, Sarah conquistou seu feito inédito: se tornou a primeira judoca brasileira a dar um ouro para o Brasil em Jogos Olímpicos. Quatro anos separam a insegura jovem de 18 anos da mulher determinada que chegou ao primeiro lugar do pódio contra a campeã olímpica de 2008.

“Como mãe e como técnica, preciso expressar confiança e passar tranquilidade”

“O ouro foi me dando fama, e fui me adaptando a isso ao longo da carreira. Em 2012 tive uma série de bons gatilhos. Me senti forte e preparada, e o resultado veio. É isso que tento levar para as atletas hoje”, diz. Mas ela sabe que quando uma Olimpíada começa, tudo pode acontecer.

“O clima olímpico é sempre uma mistura de empolgação com ansiedade, mas as atletas estão superconfiantes e a comissão técnica também. Estamos fazendo nossa preparação e aguardando chegar o dia da nossa estreia”, afirma enquanto passeia pela cidade ainda tranquila antes da abertura. 

A maternidade e as mudanças

Sarah decidiu se aposentar dos tatames depois do nascimento de Nina, em 2020. Aprendeu a ser mãe e treinadora simultaneamente, e garante que esses dois papéis se cruzam.

Enquanto vê Nina crescer, ela se lembra da infância, onde teve o primeiro contato com o esporte. Sarah começou no judô aos nove anos, e aos 15 entrou na seleção brasileira. Natural de Teresina, no Piauí, ela é a mais nova entre quatro filhos, e sempre teve dos pais apoio para viver o esporte – desde que não abdicasse dos estudos. 

Durante as viagens, quem cuida de Nina é a família da judoca, que sempre se colocou como rede de apoio. 

Em 2023, Nina sofreu um acidente doméstico que resultou em queimaduras graves e Sarah  precisou se ausentar do esporte. “Na hora, eu fiquei sem acreditar. Foram noites acordadas com ela no colo e sem entender”, disse, à época, em entrevista para o Globo Esporte.

“Como mãe e como técnica, preciso me manter tranquila e focada. Pensar positivo é essencial. As duas funções são parecidas: tenho que expressar palavras de confiança e passar tranquilidade. Então, preciso equilíbrio. Por isso, volto ao segredo do início: respirar, respirar e respirar”, finaliza. 

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