Minha relação com sexo sempre foi muito peculiar. Eu sentia quase tanto prazer na noite, quanto contando tudo para minhas amigas no dia seguinte. Sob uma lente de sarcasmo e cinismo, a história erótica virava uma comédia pastelão ou, ao menos, um episódio de Friends – se Friends tivesse pessoas gordas com vida sexual ativa.
Todos os caminhos me levavam à cama. Ou a um banco de carro. Ou um banheiro de balada. Ou a uma árvore no meio de uma praça na Ilha Grande. Não procurava aprovação desse comportamento, nem achava que todo mundo tinha que ser como eu.
Quando me mudei para São Paulo estava muito focada no meu trabalho, solteira há um ano mas ainda muito ferida para reconhecer qualquer pessoa como boa pra mim. Tudo que via e buscava era sexo. E o processo seletivo não era seletivo, era só um processo: achar a pessoa no aplicativo, fingir me interessar por cerveja artesanal, punk rock ou óleo de motor (qualquer coisa do pacote homem-hétero-básico), tomar todas no bar pra entrar no clima (já que o cara não para de falar sobre a banda de reggae dele e não perguntou nada de mim), inventar um motivo pra ir pra minha casa, implorar pra usarmos camisinha e… FINALMENTE TRANSAR.
Chegar numa casa de swing sem um homem é como chegar num churrasco sem levar uma cerveja
Meu deus, quanta burocracia. Mas e um vibrador, não era mais prático? Era, mas eu queria algo além de gozar, só não sabia bem o quê. Um dia, um estalo. E se eu fosse a uma casa de swing? Sozinha? Sim, sozinha. Pensei que seria mais seguro transar com estranhos, num ambiente protegido e surubesco, do que levar estranhos pra minha casa – e sempre, pela manhã, conferir se ainda tinha smartphone, laptop e televisão.
Já tinha ido a casas de swing quando namorava, em busca de moças para fazer ménage. Sim, caso clássico do namorado hétero achando que a sexualidade da namorada bi era um brinquedo, para ser usado exclusivamente em função do prazer dele. Nunca conseguimos encontrar essas moças lá. Pensei: serei eu essa guerreira! Uma jovem destemida bissexual, que será disputada por casais como prêmio de uma prova de um Power Couple pornô.
Cheguei na balada (não digo o nome porque não é publi, mas tinha um ônibus lá dentro): música péssima meio de tiozão, pessoas comuns de todas as idades, entrada de 60 reais convertida em consumação de caipirinhas aguadas e meio amargas. Zero glamour.
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Pra minha surpresa, percebi que a escassez de solteiras no swing não era falta de ousadia, mas excesso de heteronormatividade. A galera quer mais troca-troca que ménage. As interações entre mulheres muitas vezes são mais pra excitar os parceiros que pelo prazer feminino. Assim, aprendi que chegar numa casa de swing sem um homem é como chegar num churrasco sem levar uma cerveja, querendo beber a Heineken dos outros. Talvez até deixem por educação, mas não convidam de novo.
Por isso, apesar de receber olhares, as investidas foram parcas. Andei por toda a casa e, numa dessas voltas, seguraram na minha mão – como um convite, existe uma etiqueta respeitosa na suruba. Mas ainda não tava me sentindo confortável. Depois das caipirinhas, entrei no busão. Rolou. Não rolou nada com nenhuma mulher, mas rolou o que tinha que rolar. Sem glamour, porém com camisinha. Ah, em respeito à minha própria linha editorial, o ato não será graficamente descrito.
O importante foi como eu me senti: satisfeita.
Cheguei, gozei, fui embora. Curiosamente, nunca me senti tão pouco exposta. Não tinha aberto minha casa ou meu coração pra ninguém, só as pernas. Isso fez minha cabeça rodar. Me fez pensar mil vezes antes de marcar um date que eu sabia que seria ruim. Se eu quisesse SÓ transar, tinha a casa de swing. Foi das experiências mais ousadas da minha vida e, curiosamente, me fez ficar mais criteriosa, atenta e respeitosa com minhas vontades e necessidades afetivas.
Não voltei para a casa de swing. Agora eu estou em um relacionamento monogâmico, morando junto, feliz. A moral não é que a gente só precisa de UMA loucura pra se encontrar. A casa de swing foi só mais uma experiência que pode parecer maluca, mas fez todo o sentido pra mim. Se ficar solteira de novo, não vou hesitar em voltar lá. O que aprendi a evitar foram as conversas sobre óleo de motor.
* Babu Carreira é atriz, humorista, podcaster e autora do livro “Solteira Sim, Sozinha Também”.