Beber, cair e levantar como se não houvesse amanhã. Ou, melhor ainda, como se houvesse garantia que o amanhã será produtivo e repleto de bem-estar após uma noitada de muita bebedeira. Essa é a promessa da Myrkl, pílula para ressaca que esgotou um dia após seu lançamento em julho no Reino Unido. Ela ainda não chegou no Brasil, mas nosso mercado também tem uma novidade nesse sentido: a Novvo, que promete te deixar zerado mesmo depois de enfiar os dois pés na jaca. Mas será que elas realmente funcionam?

Será o milagroso fim da ressaca?

Nas terras da rainha, a Myrkl deu o que falar, deixando muitos boêmios, notívagos e entusiastas dos bons gorós empolgados com a milagrosa perspectiva de beber à vontade sem sofrer dos males que costumam vir a galope na famigerada ressaca do dia seguinte. A criadora De Faire Medical diz que o produto atua no metabolismo reduzindo a quantidade de álcool ingerida em até 70%. Isso é: ao beber 10 copos de cerveja, o organismo irá metabolizar apenas o álcool presente em 3 deles.

Enquanto a pílula gringa é um fitoterápico probiótico, a brazuca é um suplemento alimentar 

Algumas pessoas, no entanto, torceram o nariz para a ideia de ficar menos bêbadas com o uso do Myrkl, alegando que a graça de beber está justamente no estado dionisíaco, sensorial e altinho que os efeitos do álcool oferecem. Ainda assim, a ideia da tal pílula da ressaca pode ser um bálsamo se for mesmo capaz de aliviar os sintomas mais fortes de mal-estar no organismo após o consumo elevado de bebidas – que, cá entre nós, pode acontecer sem muita consciência ou sem a reflexão a respeito do dia seguinte. 

É coisa nossa

Apesar de terem sido lançadas quase ao mesmo tempo, as pílulas anti-ressaca britânica e brasileira atuam de maneiras diferentes no nosso organismo. Enquanto a gringa é um fitoterápico probiótico composto pelas bactérias Bacillus Coagulans e Bacillus Subtilis, a brazuca é um suplemento alimentar que combina vários ativos naturais com altos valores nutritivos. 

Criadores do produto nacional, os irmãos Lucas e Felipe Rebelatto dizem que ele é inovador por conter um polímero natural extraído de vegetais com biotecnologia molecular. O suplemento conta ainda com Quitosana vegetal, que é fonte de fibra, auxilia na redução da absorção da gordura e na manutenção dos níveis de colesterol, colina, l-cisteína e vitaminas C, E, B6 e B12, garantindo a reposição de nutrientes, ação antioxidante e contribuindo para a metabolização do álcool no fígado.

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Então a pílula brasileira não só promete o fim do mal-estar da ressaca, como energia e saúde para o day after. Lucas e Felipe dizem que o produto não reduz a quantidade de álcool ingerida, nem inibe a bebedeira, mas também não permite que se chegue àquele último estágio do pileque, que vem geralmente acompanhado da frase: “devia ter parado de beber antes” e da sensação de ver a Terra rodar. 

E o Engov com isso?

Mas afinal, qual é a diferença das pílulas anti-ressaca para o nosso bom e velho Engov? Ficamos com essa pulga atrás da orelha e fomos direto no rótulo para entender. Diferentemente do fitoterápico britânico e do suplemento Novvo, o Engov é uma medicação que contém maleato de mepiramina, hidróxido de alumínio, ácido acetilsalicílico e cafeína. Com isso, age como analgésico, antiácido e estimula o Sistema Nervoso Central. 

Funciona mesmo? 

A hepatologista Natália Eugênio diz que, de fato, os componentes presentes na fórmula do Novvo podem funcionar na manutenção do bem-estar. No entanto, seriam necessários estudos clínicos mais aprofundados para afirmar com precisão se a pílula é realmente eficaz contra a ressaca. “Se o consumidor não tem a necessidade de suplementar vitaminas, não há a recomendação da utilização do produto”, destaca. 

Ainda assim, o Novvo tem conquistado clientes fiéis, como é o caso da cirurgiã dentista Gabriella Braga. Ela conta que utilizou 3 cápsulas por dia da pílula em um festival de música, não teve nenhum sintoma de ressaca, nem cansaço ou indisposição mesmo após dias seguidos de festa. 

Com ressaca ou não, beba sempre com moderação

Nós também resolvemos testar. A indicação é que se tome o suplemento antes do consumo de bebida alcoólica e que não ultrapasse a quantidade de 9 cápsulas por dia. Três pessoas da equipe tomaram 3 cápsula antes de uma noitada e as percepções foram distintas:

 “Enchi a cara, até misturei bebidas e, de fato, não tive ressaca. Mas também não senti o grau bater, cheguei em casa sóbria” Testadora 1, de 31 anos.

“Não tive ressaca. Mas fiz o pacote completo: caprichei na hidratação, forrei o estômago e descansei bastante” Testadora 2, de 42 anos.

“Achei que atrapalhou o pilequinho tradicional em casamentos e, como não dormi 9 horas, fiquei de ressaca normalmente” Testadora 3, de 44 anos.

O que o álcool pede é moderação

Parece maravilhosa a ideia de uma pílula que te garanta um dia seguinte livre de ressaca, mas fica a reflexão. Será que um produto assim, disponível para todos e que torna o álcool mais atrativo não pode trazer a reboque uma tendência de consumo ainda maior de bebidas alcoólicas do que já vemos nos dias atuais?

Dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) demonstram que, entre 2019 e 2010, o consumo abusivo de álcool saltou de 18,8% para 20,4%. Certamente, ter menos mal estar relacionados à ressaca pode ser algo verdadeiramente benéfico, mas a antiga e sábia dica de ouro ainda prevalece, com ressaca ou não, beba sempre com moderação.