Valesca Popozuda: “Fiquei muito mais segura depois dos 40 anos” - Mina
 
Seu Corpo / Arquivo Pessoal

Valesca Popozuda: “Fiquei muito mais segura depois dos 40 anos”

A cantora conta por meio de cinco fotos a sua trajetória até chegar aos seus 45 anos com seu mais novo trabalho

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Se você não conhece de cor alguma música da Valesca Reis Santos, a Valesca Popozuda, é porque nasceu depois dos anos 2000. Nascida e criada na baixada carioca, a cantora ficou popularmente conhecida como vocalista do Grupo Gaiola das Popozudas, que rapidamente se tornou um fenômeno no cenário do funk carioca e depois do país. 

Naquela época, eram raras as mulheres que cantavam os famosos “proibidões”, (músicas com linguagem explícita) sob a perspectiva feminina. Valesca quebrou paradigmas e emplacou sucessos como “Late que tô passando”, e “Agora eu sou solteira”. Mãe de Pablo, seu único filho, a cantora causou impacto no cenário musical e se tornou um ícone do empoderamento feminino. Em entrevista à Mina, a artista usa 7 fotos tiradas ao longo da vida para contar sua trajetória e como se relacionou com corpo e mente durante o percurso, que tem sucesso, depressão, cancelamento e aceitação. 

Com 9 anos, na primeira comunhão. Ir à igreja era um ritual com a sua avó | Arquivo Pessoal

“Minha mãe fazia eu vestir roupas até o joelho” 

A mais velha de quatro irmãos, Valesca frequentava a igreja com a família. Aos 9 anos fez sua celebrada primeira comunhão.  “Ia todo domingo à missa com a minha avó, eu gostava”. Sua infância foi regada a brincadeiras: boneca, casinha, queimada. E o maior inimigo de Valesca nesta época eram os piolhos. “Sempre tive um cabelão enorme e minha mãe cortava bem curtinho por causa dos piolhos. Parecia até o penteado do chitãozinho e chororó”, diz. 

Aos 12 anos, Valesca começou a gostar de um estilo com roupas mais curtas e coladinhas, mas sua mãe não a deixava usar.  “Ela que me vestia e como não gostava que eu usasse roupas curtas e justas, me fazia uns shorts até o joelho”, conta.

Aos 15 anos, quando saiu de casa em busca de liberdade | Arquivo Pessoal

“Fui embora pra não me submeter ao meu padrasto” 

Na adolescência, Valesca se mudou com a família diversas vezes. O padrasto trabalhava com construção e a família mudava a cada nova obra. Uma lembrança forte era a necessidade de cuidar da irmã mais nova. “Eu já namorava, e tinha que levá-la junto”, conta. Aos 15 anos, Valesca passou a ter atritos mais frequentes com o padrasto, ele queria que ela deixasse a casa organizada e implicava quando saía para rua. Pra não se submeter a ele, preferiu sair de casa. 

Se mudou para casa do namorado. “Menti dizendo que eu ia morar com o meu pai biológico, mas depois minha mãe descobriu”, conta. “Morei com ele por um bom tempo, mas dormimos em quartos separados e só perdi minha virgindade bem depois”, diz. 

Foto do seu primeiro book, na época em que fazia figuração na Rede Globo, aos 20 anos | Arquivo Pessoal

“Engordei 20kg na gravidez por causa  de estresse e ansiedade”

Foi aos 20 anos, que tudo começou a mudar. Ao sair da casa deste namorado, Valesca começou a trabalhar com figuração na Globo. Depois disso, conseguiu uma bolsa de estudos de três meses para fazer teatro e foi chamada para fazer um book. “Depois dessa foto, descobri que estava grávida de três meses”, diz. 

Sem um emprego fixo e sem uma relação séria com o pai da criança, Valesca cogitou o aborto. “Pensei em tirar, mas minha mãe me garantiu que eu não estava sozinha, por isso mantive a gravidez”. Com estresse da gravidez inesperada, Valesca teve um descolamento da placenta e ficou impossibilitada de trabalhar. “Engordei 20kg por causa  de estresse, ansiedade e desespero, mas isso era o menor dos meus problemas, o que me aterrorizava era pensar que o meu destino seria ser dona de casa”, relembra. 

Após recusar inúmeras vezes o convite para participar da Gaiola, Valesca se destaca entre as dançarinas | Arquivo Pessoal

“Usava roupa de sexy shop era quase um stripper”

Após o nascimento do seu único filho, Pablo, Valesca começou a trabalhar num posto de gasolina. Emagreceu muito por conta da correria e sua única preocupação era levar o sustento para casa. “A gente ouvia várias cantadas dos homens no posto, mas tinha que fazer a egípcia, porque o cliente sempre tinha razão.” 

Até que em um desses atendimentos, surgiu um empresário que a fez uma proposta incerta: montar um grupo de mulheres dançarinas inspirado no filme Gaiola das Loucas. O nome do grupo seria Gaiola das Popozudas. “Demorei para aceitar o convite porque estavam começando, desconfiei. Mas ele passava no posto sempre, e uma hora que aceitei pensando que seria um jeito de tirar um extra de grana.” 

Seu início como dançarina de funk não foram flores. “Achei que seria fácil dançar, porque sempre dancei, mas travei. Usávamos roupa de sexy shop, de bombeiro, enfermeira, colegial e a gente fazia quase um stripp mesmo. Era todo um jogo de sedução”. Mas depois que ela se habituou, Valesca voou.  

Aos 27 anos, com um dos figurinos do Gaiola feito com fantasias de sexy shop | Arquivo Pessoal

 “Usei anabolizantes, fazia os ciclos e tinha muito medo de dar algum problema”

Após assumir o posto de cantora do grupo, Valesca começou fazer músicas em respostas aos funks dos colegas Mcs, que falavam de forma machista sobre o que a mulher gostava na cama. Eram poucas mulheres dentro do gênero que tinham essa liberdade. “Se eles podiam falar dos desejos deles, a gente também podia, eu queria cantar para elas ”, diz. 

A funkeira conta que sempre foi desiniba para falar de sexo, do seu prazer como mulher e que isso nunca foi um tabu, mesmo na sua vida pessoal. “Era tímida e quieta no meu canto, mas o sexo sempre esteve muito presente, tanto no meu cpf e no meu cnpj”. Hoje, Valesca percebe que desde aquela época era feiminsta, coisa que só descobriu o que significava bem depois. 

Quando assumiu o posto de cantora do grupo, Valesca se viu na obrigação de estar com o corpo totalmente em dia. “Meu empresário falava o tempo todo que eu tinha que malhar”, conta. E ela seguiu à risca essa ordem, sua dieta era bastante restrita, e passou também a fazer uso do famoso “suco”. “Pra chegar no corpo que o trabalho exigia usei anabolizantes. Tinha muito medo de dar algum problema, engrossar a voz, mas era o único jeito de chegar no corpão”, diz. A dieta era à base de frango, batata doce e ovo. “Nessa época, passei muita vontade de comer as coisas. Era um sofrimento”.  

Aos 35 anos, Valesca lançava um dos maiores hits da sua carreira, “Beijinho no Ombro” foi um enorme sucesso | Arquivo Pessoal

 “Meu biotipo era de ter um corpão, mas a pressão estética me pegou”

Após sair do grupo que a lançou, Valesca decidiu seguir carreira solo. Nos primeiros anos dessa nova etapa lançou a música “Beijinho no Ombro”. O single foi um hit e com isso vieram muitas entrevistas e capas de revistas. “Sempre tive um corpão e para fazer as capas, tinha que ser magra, muito magra, não era meu biotipo. Aí, por pressão estética, fiz um hidrolipo nas pernas e deu muito errado.”

Valesca conta que foi uma cirurgia sem nenhuma necessidade. “Parte de uma das minhas pernas necrosou, ficou com uma mancha preta por meses e só conseguia usar macacão. Daí veio a depressão, foi um período bem difícil” 

Capa do álbum ‘De Volta Pra Gaiola’, seu mais novo trabalho | Arquivo Pessoal

“Não quero sucumbir aos desejos dos outros” 

Hoje, aos 45 anos, Valesca lançou um novo trabalho, o álbum De Volta Pra Gaiola, que conta com participações de vários artistas e celebra o funk no início dos anos 2000. A artista fez, inclusive, versão light de proibição. “Se cada vez mais podemos falar abertamente sobre nossa liberdade sexual, e sem precisar usar termos vulgares ou machistas, devemos isso ao funk”, conta.

Valesca garante que pensa no envelhecimento e cuida da beleza, mas sem (muitas) neuras. “Faço procedimentos estéticos com colágeno, por exemplo, mas se eu engordar ou emagrecer, é por mim. Não quero sucumbir aos desejos dos outros. Quem quiser gostar de mim, vai ter que ser do jeito que eu sou. Não vou me encaixar na política da mulher padrão”, afirma. E isso veio com o amadurecimento: “Me sinto uma loba, muito mais segura, e muito mais mulher, depois 40”. 

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