Renata Néia: "Não me lembro de existir sem querer ser linda" - Mina
 
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Renata Néia: “Não me lembro de existir sem querer ser linda”

Usar o humor como ferramenta de beleza pode ser revolucionário. Em um passeio por seis fotos de diferentes fases da vida, a criadora de conteúdo Renata Néia conta como transformou o bullying durante a infância em autoaceitação, criatividade e muito deboche

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Quem nunca gargalhou com as sátiras feitas por Renata Néia é porque nunca entrou no instagram dela. Renata ficou conhecida nas redes sociais com as versões que faz das fotos de ricas e famosas. No lugar das poses em contextos glamorosos, mostra baldes, cestos lotados de roupa e a vida que leva como dona de casa e secretária de uma oficina mecânica na cidade de Colinas do Tocantins. 

“Um dia olhei para a minha vida e percebi que estava sufocada em uma rotina de lavar, passar, cuidar dos filhos pequenos. Senti que precisava fazer alguma coisa para mudar, pra me mostrar para o mundo, pra me divertir. Então comecei com as fotos”, conta.

Entre os quase 56 mil seguidores que coleciona no Instagram, estão desde a vizinha juíza, que aprova e comenta as criações, até a atriz Giovanna Antonelli, que inspirou a primeira foto de Renata, lá em 2018. Mas a lista de seguidores célebres é longa: Tatá Werneck, Grazi Massafera e Fátima Bernardes dentre outros que se divertem com nos comentários.

“Foi um tempo que era inocente, não me preocupava com estética”

Renata aos 6 anos, em Minas Gerais 

A forma como Renata encara o corpo e a vida hoje já passou por altos e baixos. Ela teve uma infância livre, com brincadeiras na rua e tardes assando biscoitos com as avós. Até os 7 anos de idade morou em Minas Gerais e são de lá suas melhores lembranças sobre si mesma. “Eu tenho uma memória feliz desses anos porque foi um tempo que era inocente, não me preocupava com estética, com julgamentos, não pensava em nada disso”, lembra. 

“A sociedade é que vai fazendo com que a gente duvide das nossas certezas”

 Aos 10 anos em passeio com a família pelo rio Tocantins 

A mãe de Renata era professora infantil e o pai dono de um armazém. Ela lembra com clareza de ficar olhando os bolos e tudo que estava nas prateleiras. “Eu sempre amei comer, em especial porque naquela época a alimentação não estava ligada a nenhuma culpa. Para mim aquele lugar era um paraíso”. Renata diz que sempre se achou linda e que a vontade de ser rica e famosa veio nessa época, quando assistiu a novela Carrossel. ‘’O sonho da minha vida era ser a Maria Joaquina. A diferença fisicamente entre nós era enorme, mas não na minha cabeça. Quando olho para trás, percebo que sempre gostei de mim. A sociedade é que vai fazendo com que a gente duvide das nossas certezas”.

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“Minha professora vivia dizendo que eu era gorda e que isso era feio”

Aos 17 anos, quando parou de comer para se encaixar nos padrões

Problemas financeiros fizeram com que a família toda tivesse que se mudar de Minas para o Tocantins. O pai começou a trabalhar na roça e ela já não tinha mais o perfume dos biscoitos das avós por perto para a acolher. Um dia, foi com os irmãos brincar em um parquinho e a imagem que tinha de si mesma mudou.  “Não me deixaram entrar no pula-pula. A moça que cuidava do brinquedo disse que eu era muito grande. Apontei uma garota mais alta lá dentro e ela falou que o problema é que eu era grande para os lados, que eu comia demais”, recorda. 

O bullying vinha até dos professores. “Minha professora de ciências vivia me dizendo que eu era gorda e que isso era feio. Na adolescência, comprar roupas era impossível, não existiam peças do meu tamanho que deixassem a barriga de fora, por exemplo. Eu não teria problema nenhum em mostrar a minha”, diverte-se.

“Passava dias com um tomate no estômago”

Aos 18 anos, com o namorado e atual marido, quando chegou a pesar menos de 50kg com 1,68m

Na juventude, os julgamentos ficaram piores e ela botou na cabeça que precisava emagrecer. “Passava dias com um tomate no estômago, me escondia no quarto depois do almoço para fazer polichinelo, desmaiava e, cheguei a ter que tomar soro no hospital algumas vezes.”

Depois de anos lutando contra a balança e sem conseguir ser modelo ela resolveu mudar a forma como levava a vida. Manteve os exercícios, mas parou com as dietas malucas. Estudou e se formou em Ciências Contábeis, em Letras e fez pós-graduação em Contabilidade Tributária. “Estudei muito, mas nunca algo que eu realmente gostava”, revela.

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Inspirada pela Preta Gil: “se ela pode eu também posso”

 Na formatura do curso de Ciências Contábeis quando desistiu de se enquadrar em um padrão 

Casada há 25 anos, Renata tem duas filhas, uma de 13 e outra de 5 anos, e conta que a grande virada na aceitação que tem em relação ao próprio corpo veio por influência da cantora Preta Gil. “Eu via ela na capa das revistas, na TV, toda linda, maravilhosa e gordinha e pensei: se ela pode eu também posso”. 

Hoje, com o corpo que a faz feliz e sem medo do julgamento das outras pessoas, vive leve e criativa. “Entendi que esse é o meu corpo normal. Agora sei que o legal da vida é ser diferente. Resgatei a minha cabeça de criança, voltei a me divertir e sou muito mais feliz. E olha só: Tô famosa!”

“Quero me mostrar pro mundo”

A primeira foto que fez sucesso em seu Instagram e atraiu milhares de seguidores

Renata conta que as mulheres de sua família sempre foram figuras fortes, mas não vaidosas. “Isso nasceu comigo. Não me lembro de existir sem querer ser linda. Eu tinha certeza que seria modelo ou atriz. Queria, e ainda quero, me mostrar para o mundo. No fundo, nunca vi minha gordura como algo feio. Os outros é que me cobravam isso”.

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