Qual a diferença entre pessoa tóxica e atitude tóxica? - Mina
 
Trisal

 Qual a diferença entre pessoa tóxica e atitude tóxica?

Mina se une ao psicólogo Alexandre Coimbra Amaral e ao psiquiatra Filipe Batista para entender o que é essa toxicidade toda sobre a qual falamos nos dias atuais

Por:
3 minutos |

Mina Bem-estar

Apontar comportamentos tóxicos é uma conquista social, principalmente das mulheres e de grupos minorizados, mas daí a colocar aquela pessoa que nos disse umas verdades ou alguém com quem tivemos um atrito específico como pessoa tóxica são outros quinhentos. 

Neste momento de conquista é muito importante entender bem os conceitos para não jogar na vala dos abusadores e pessoas altamente nocivas, alguém com quem tivemos um descompasso. Para isso, chamamos dois experts no assunto para responder essa pergunta de milhões!

Alexandre Coimbra Amaral

No geral, ‘atitude tóxica’ é uma expressão melhor para que as pessoas entendam do que estamos falando. Já que quando falamos de uma ‘pessoa tóxica’ a gente pode correr o risco de rotular outro. Porque o que acontece, de fato, é que a toxicidade faz parte da natureza humana, está em cada um de nós. 

É óbvio que numa sociedade desigual isso também tem a ver com os privilégios: as pessoas que ocupam posições de poder na sociedade tem mais capacidade e possibilidade de desenvolver ‘atitudes tóxicas’: aproveitam de uma condição desigual hierárquica para oprimir e violentar quem está numa posição inferiorizada.

A atitude tóxica muitas vezes vem de uma pessoa que amamos, alguém com quem queremos manter a relação 

Nessa interação, quem se sente humilhado, envergonhado, irado e culpado, muitas vezes só entende esse sentimento depois. Não é incomum a pessoa levar tempo pra compreender o que ela viveu naquela situação tóxica. O fato de termos sido forjados nesta sociedade que naturaliza a violência faz com que as vezes a ficha demore para cair. Até porque, muitas vezes ela vem de uma pessoa que amamos, que respeitamos, alguém inclusive com quem queremos manter a relação. 

Mas o fundamental é que quando estamos diante de uma ‘atitude tóxica’, precisamos falar disso. Foi-se o tempo em que a gente era ensinado a abafar violências porque era o amigo, o tio ou o marido. 

Não podemos esquecer que a cultura violenta nos ensinou, inclusive, a abafar a nossa indignação em casos de ‘atitudes tóxicas’. Então é essa voz abafada que vai nos fazer sentar e conversar com a pessoa e dizer: “olha isso que você fez comigo foi tóxico, fez com que eu me sentisse dessa forma e não admito. Para que a gente continue a nossa relação, isso não poderá se repetir”. 

Filipe Batista

Você pode não ser ou não conviver com uma ‘pessoa tóxica’, mas dificilmente conseguirá escapar de ‘atitudes tóxicas’. A hipótese de pessoas totalmente identificadas uma com a outra, numa unidade unânime e apaziguadora, é irreal. Em toda relação estão contidos o atrito e a divergência, que podem eventualmente culminar numa ‘atitude tóxica’.

Quando ocorre alienação e sofrimento de maneira reiterada estamos diante de uma ‘pessoa tóxica’.

Se não é possível atendermos (ou sermos atendidos) inteiramente quanto às nossas expectativas, a outra pessoa torna-se um obstáculo, um entrave. Mas é exatamente nesse (des)encaixe — sempre assimétrico e desigual, em alguma medida — que as relações são nutridas, e isso acaba gerando um impasse. Ao mesmo tempo que nos sentimos repelidos, somos atraídos por algum tipo de conexão que nos mantém atrelados. 

Lidar com essas tensões é parte natural da construção dos laços. Às vezes, porém, esse desequilíbrio salta aos olhos, e algumas pessoas exercem sobre outras poder e manipulação capazes de levar ao falseamento da realidade subjetiva e externa – além de profunda alienação e sofrimento. Quando isso acontece de maneira consistente e reiterada aí sim, estamos diante do que podemos chamar de uma ‘pessoa tóxica’.

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