Os 40 anos e a liberdade da autoaceitação
Nossa colunista revela a mágica que acontece aos 40 anos e conversa com sua versão de 20
Outro dia, enquanto olhava para mim mesma no espelho, paralisei com uma sensação inesperada. Ali estava eu, aos 40 anos, com um olhar que misturava sabedoria e autoaceitação. As marcas no rosto não eram apenas sinais do tempo, mas sim testemunhos das experiências e desafios que moldaram quem sou hoje. De repente, a maturidade chegou, e com ela, uma nova perspectiva sobre a vida que, ao invés de pesar, me fez sentir mais leve. Mas não foi ontem que eu tinha 20?
Ah, os 20 anos… Parece que até ontem eu era uma jovem insegura, cheia de sonhos, planos, medos… Uma jovem que não sabia da sua potência e das guinadas que a vida daria nas próximas duas décadas. Ah se ela soubesse. Hoje, chegando aos 40, eu quero conversar com aquela menina, quero agradecer e contar como estamos.
Olho para aquela versão mais jovem com um sorriso de compreensão
“Amiga, a gente não se casou, mas calma, que tá tudo bem. O mundo anda meio complicado. Seguimos na mesma vibe apaixonada platônica de sempre, só que agora, aceitamos isso. Apesar do nosso coração já ter se machucado bastante. Você diria que ‘ainda não encontramos o homem da nossa vida’, sigo na busca, mas também me pergunto se existe isso de metade da laranja. Já choramos e nos decepcionamos muito, mas nos tornamos mais resilientes e temos ótimas histórias para contar. Nosso corpo mudou bastante, ganhamos alguns quilinhos. Porém, nunca nos achamos tão gatas, gostosas e poderosas. Acredite, é uma potência que nem a magreza dos 17 foi capaz de dar. Viramos jornalistas. Trabalhamos atrás e na frente das câmeras. Louco, né? Justo a gente que sempre sofreu tanto com a timidez”.
Com 40 anos, olho para aquela versão mais jovem com um sorriso de compreensão. Afinal, ela foi a base sobre a qual construí essa versão mais madura e confiante de mim mesma. Chegar aos 40 é entender que a vida é um eterno recálculo de rota e que bater na mola do fundo do poço pode nos alçar a voos maiores. Também é entender que é péssimo ser considerada “guerreira” ou uma “mulher forte”. É saber que existe um fardo da mulher preta resiliente e usar a nossa voz pra lutar contra ele.
O que será que acontece a partir de agora? Qual o próximo sonho? O próximo desafio? Quando eu alçar o voo mais bonito da minha vida, quem me chamará de amor, de gostosa e de querida? Quem vai me esperar em casa, polir a joia rara, ser o psdeudofruto…a pele do caju? Assim como bem canta Liniker, eu também carrego muitas dúvidas e incertezas no caminhar dessa nova fase. Faz parte.
Hoje, ao olhar para trás, vejo que não se trata apenas de ter envelhecido, mas de ter amadurecido. A confiança que agora carrego é fruto de anos de escolhas e experiências, boas e ruins. O corpo, com todas as suas marcas, é uma tela viva das minhas conquistas e aprendizados. Chegar aos 40 é como receber um presente recheado de paradoxos. Há uma inesperada liberdade na autoaceitação e uma paz que vem de saber quem somos e o que queremos.
Celebro hoje a segurança de entender quem eu sou, no corpo que tenho, na força da minha voz e na representatividade da cor da minha pele. Faço escolhas melhores. Sei o que quero e tenho certeza do que não quero. Me desafio diariamente, me exponho e, diante dos desafios futuros, sigo aberta às novas possibilidades que a vida tem a oferecer.