Cobrar ações e políticas públicas que nos protejam de eventos climáticos extremos e também diminuam o efeito da ação humana no meio ambiente é fundamental. Pra isso, precisamos entender o que tem sido proposto, pensado e também colocado em prática por quem já está neste assunto há muito tempo. Explicamos aqui as principais expressões que têm aparecido para o grande público depois do desastre climático no Rio Grande do Sul para que tenhamos ferramentas para discutir, cobrar e votar.
Parques alagáveis
São espaços abertos urbanos projetados especialmente para serem inundados com o excesso de água das chuvas. A ideia é usar a capacidade natural de árvores, arbustos, solo e galerias pluviais para permitir o escoamento da água para locais onde ela não destrua nada. É um espaço projetado para receber pessoas durante a seca e temporariamente bloqueado durante enchentes, para concentrar um grande volume de água e evitar que a água invada a cidade, como no Rio Grande do Sul. Esse tipo de solução que une urbanismo sustentável e preservação ambiental, torna as cidades mais preparadas para os efeitos das mudanças climáticas. Além disso, a vegetação e o solo nos parques alagados podem filtrar a água, removendo poluentes e melhorando a qualidade do que volta para os lençóis freáticos. Cidades como Rotterdam, na Holanda, e Copenhague, na Dinamarca, já têm parques alagados.
Cidades-esponja
Esse é um conceito urbanístico criado pelo arquiteto chinês Kongjian Yu, que desenvolve uma infraestrutura verde nas cidades com a imlantação de parques alagáveis, jardins de chuva e solos permeáveis para absorver, armazenar e utilizar a água das chuvas. É possível, por exemplo, guardar água de períodos de chuva intensa e reutilizar depois, durante os períodos de seca. O objetivo é combater problemas como enchentes e alagamentos e prevenir catástrofes climáticas como a que estamos vivendo atualmente no Brasil. Principalmente porque esses eventos estão ficando cada vez mais extremos e recorrentes. A captação e reutilização da água contribui também para o reabastecimento de lençóis freáticos e para a melhoria da qualidade do ar e também do ambiente, já que aumenta a biodiversidade e garante mais espaços de lazer para a população.
Bio-Planning
O termo em inglês para as SbN, Soluções Baseadas na Natureza. Ou seja, projetar cidades com um design urbano inspirado, apoiado ou copiado da natureza e que visam atender simultaneamente objetivos ambientais, sociais e econômicos. O Brasil está entre os países com maior biodiversidade do mundo, mas o processo de urbanização acelerado transformou nossas paisagens de forma radical. As cidades seguem sendo planejadas por planos diretor insustentáveis, que promovem baixa qualidade de vida, alteram profundamente os fluxos e processos naturais e geram um território com altos índices de desigualdade e vulnerabilidade social, ecológica e econômica.As cidades-esponja e os parques alagados são alguns exemplos de ações assim.
Refugiados Climáticos
Por conta das mudanças climáticas, milhões de pessoas ao redor do mundo estão sendo forçadas a deixar suas casas para fugir de enchentes, secas, furacões e aumento do nível do mar. Parece coisa de filme, mas há refugiados climáticos – ou migrantes do clima – em muitos países, inclusive no Brasil. Os eventos climáticos estão cada vez mais extremos, tornando algumas áreas inabitáveis, aumentando a pobreza, diminuindo os meios de subsistência e ameaçando os direitos humanos. A perda de colheitas, a escassez de água e a degradação do solo estão forçando famílias a migrarem – dentro ou fora de seus países – em busca de sobrevivência, segurança e novas oportunidades. Comunidades indígenas, agricultores e pescadores estão na linha de frente desta crise, principalmente nos países em desenvolvimento.
Negacionismo Climático
Apesar das evidências científicas claras e alarmantes sobre as mudanças climáticas, ainda existem pessoas e grupos que negam essa realidade. São os negacionistas climáticos, que ainda custam a aceitar que nós, seres humanos, temos um papel central nessa problemática. E, pior, frequentemente compartilham informações incorretas, alegando que o aquecimento global é um mito ou que suas consequências são exageradas. O maior perigo nisso é que esse movimento pode impedir a adoção de políticas e medidas necessárias para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Sem contar que espalhar desinformação confunde as pessoas. Nessas horas, o melhor é apoiar a ciência e compartilhar estudos e dados de fontes confiáveis, como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Plano de Emergência Climática
A sensação é que estamos perto do fim do mundo (pelo menos do mundo que a gente conhece). Mas a verdade é que existem soluções possíveis para frear os impactos da crise climática, o problema é que muitas delas não estão sendo colocadas em prática. Um Plano de Emergência Climática é um instrumento de prevenção formado por um conjunto de ações para reduzir a emissão de gases de efeito estufa, promover a sustentabilidade e preparar comunidades para os efeitos dessas mudanças. Entre as ações estão a adoção de energias renováveis, proteção de florestas e recuperação de áreas degradadas para preservar a biodiversidade, construção de infraestrutura verde (como as cidades-esponja) e educação sobre o tema. No Brasil, o foco principal está na redução no desmatamento e na transição para a economia de baixo carbono rumo à neutralidade climática, no entanto, poucos projetos são colocados em prática a partir do Fundo Nacional sobre as Mudanças do Clima e ainda falta muito para que todos os estados tenham um plano efetivo de adaptação.
Descarbonização da Economia
A emergência climática em que vivemos não é apenas uma questão ambiental, mas também econômica e social. Daí vem a ideia de se construir uma economia mais verde. Já existe, inclusive, um acordo feito entre 195 países (incluindo o Brasil) para limitar o aquecimento global em 1,5°C, limite considerado seguro pelo Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (PIAC). Chama: Acordo de Paris e tem o objetivo de atingir uma neutralidade das emissões de carbono até 2050. É fundamental que esse pacto seja global, entre governos, empresas e sociedade civil. Alguns caminhos para isso acontecer são substituir combustíveis fósseis, extremamente poluentes, por fontes de energia limpa como solar, eólica e hidrelétrica; melhorar a eficiência energética em todos os setores, desde a construção de edifícios até o transporte; promover uma mobilidade sustentável com o uso de transportes públicos, bicicletas, veículos elétricos; adotar práticas agrícolas que reduzam as emissões e capturem carbono, como o plantio direto e agroflorestas e incentivar o consumo consciente.