Neyzona: Evitava batom vermelho devido ao estereótipo da nega maluca - Mina
 
Seu Corpo / Arquivo Pessoal

Neyzona: “Não usava batom vermelho por medo do estereótipo da nega maluca”

Luana Nascimento saiu da Bahia para tentar ser modelo, mas foi depois de fazer um curso de tendências que descobriu seu verdadeiro lugar dentro da moda. Dona da marca DressCoração, a criadora de conteúdo e empresária compartilha sua trajetória com a Mina.

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Modelo, empresária e criadora de conteúdo, Luana Nascimento, também conhecida como Neyzona, como aparece nas redes sociais, abriu o coração para falar sobre sua vida. Com 1,83 de altura, ela confessa que nunca teve o sonho de ser modelo, mas foi ingressando na carreira, que sua vida mudou. Hoje, aos 35 anos, ela é dona de uma marca de roupas que celebra a ancestralidade negra e compartilha looks e vivências em seu perfil do Instagram. Por meio de cinco fotos, mergulhamos na história da soteropolitana apaixonada por estampas e batom vermelho.

Na festa de 5 anos as bonecas foram pintadas uma a uma para se parecerem com ela

“Minha mãe fazia questão que tivéssemos brinquedos que se parecessem com a gente”

Neyzona não fez aula de balé, mas seguindo a tradição da família de festas sempre temáticas, comemorou os seus cinco anos vestida de bailarina na casa dos avós. A mãe e as tias, sempre estiveram ligadas à questão da representatividade negra e faziam de tudo para estimular sua autoestima. “Minhas tias fizeram réplicas de mim. As lembrancinhas eram bonecas vestidas de bailarina e, como não tinha bonecas pretas, elas  pintaram de tinta marrom.”

A recordação desse aniversário traz uma sensação gostosa de quem se sente empoderada desde pequenininha. Ali, ela se sentiu uma princesa e essa sensação se prolongava no dia a dia, uma vez que sua família cultivava diariamente suas noções de representatividade e pertencimento. ”Boneca era essencial, minha mãe dizia que a gente tinha que ter brinquedos que se parecessem com a gente.”

Após um curso de modelagem na escola aos 15 anos

“Adolescência é uma fase cruel, ainda mais para uma preta retinta”

Mesmo com todo esse trabalho da família, na adolescência começaram a surgir problemas de auto estima. “É uma fase cruel da vida, ainda mais para uma preta retinta. É a época que meninas querem se sentir bonitas e desejadas e eu não recebia esses olhares”, desabafa. Foi então que ela teve contato com um curso de modelagem que ocorreu na sua escola, e isso mudou tudo.  Curiosa em saber no que a nova empreitada poderia dar, montou seu primeiro book, com as próprias roupas, e conquistou os primeiros trabalhos. “Modelar me ajudou a ter domínio do meu corpo. E foi aí que entendi que não tinha nada errado comigo. Não era nem alta e nem magra demais. Eu era do meu jeito. Foi um processo especial como pessoa e não só como modelo. Ali era o meu mundo.”

Prestes a fazer 18 anos, durante uma estadia em São Paulo para modelar

“Chegaram a me mandar para um cirurgião e eu não quis” 

Dentro do mundo das modelos, Luana entendeu que a nova carreira poderia dar independência.  Rendida ao novo mundo, em que se sentia bonita e segura, ela se permitiu ser protagonista da própria vida e após o curso, conseguiu viajou  para São Paulo meses depois de completar 18 anos. ”Fiquei assustada com a narrativa após completar a maioridade, que era de casar, comprar um terreno e ter um filho e não poderia fazer isso com a minha vida.”

A estadia na capital durou cerca de nove meses e foi tempo o suficiente para Neyzona perceber que ser modelo de passarela não era pra ela. Ali, sofria constantes pressões estéticas para modificar o seu corpo. “Eu não aceitava toda aquela cobrança, porque não era tão magra quanto precisava, ou que a minha coxa era grossa, que meus seios eram grandes e que tinha que dimuir, chegaram a me mandar para um cirurgião e eu não quis.”

Com uma vida cheia de viradas, Neyzona não esperava que sua busca por inspirações a levasse tão longe

“Depois de ter criado o blog, eu comprei meu primeiro batom vermelho” 

Aos 26 anos, com os trabalhos de publicidade caminhando, mas sempre numa montanha russa, foi trabalhar como vendedora em uma loja de grife. O emprego deu uma estabilidade financeira para fazer um curso de tendências. Ela já buscava referências de roupas e maquiagens para si mesma, mas o estudo a motivou a compartilhar seus conhecimentos em um blog, o DressCoração. “Não tinha muitas meninas pretas fazendo esse trabalho, e foi só depois de começar a escrever na internet que comprei o meu primeiro batom vermelho. Estava tão presa ao estereótipo da nega maluca, que me recusava a ter um – depois disso usei ele todos os dias.” 

O sucesso foi tanto que o blog migrou para uma página no Facebook, quando a rede social estava no auge, e só cresceu. A troca com outras mulheres pretas foi mágica. Com o simples botão “compartilhar” na rede social, a troca de afetos e experiências tomou outra proporção. “Virou algo tão gigante que pensei que tinha que monetizar todo esse trabalho e foi aí que lancei as camisetas ‘eu amo meu cabelo’ e ‘mamãe passou dendê em mim’. Encontrava as compradoras no metrô.” 

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