Pressão estética sobre as meninas - Mina
 
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Caderno, estojo e uma nécessaire lotada de produtos de beleza

Precisamos falar sobre a mochila das meninas e a volta de uma preocupação com a perfeição que é a mais pura pressão estética

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O interesse de meninas muito novas por produtos de beleza e cuidados com a pele tem me chamado atenção. No Tik Tok, garotas de 12 anos compartilham sua rotina de skincare e a preocupação com o cabelo e com a pele tem começado cada vez mais cedo. É louco pensar que a gente passou muito rápido de uma época de conquistas, onde as meninas questionaram depilação, alisamento do cabelo e excesso de maquiagem, para um momento em que as nécessaires estão repletas de produtos e são item básico na mochila da escola. O tempo de dedicação para a beleza só cresce. Nesse contexto, não é de se estranhar que até os cabelos afros alisados voltaram com força. 

De repente, parece que tudo que rolou na pandemia se dissolveu. Vocês lembram que com o isolamento falávamos do aprendizado em viver com menos? Pra onde ele foi? Hoje, a preocupação com “ser bonita” de acordo com aquele velho padrão parece ter voltado com tudo.

Tenho pensado muito em como promover uma relação saudável com a beleza nesse contexto

E é claro que aqui entra o impacto das redes sociais. A insistente exposição a influenciadores de beleza online parece ser o fator número um para que essa tendência se estabeleça. Só que estamos falando de jovens buscando a perfeição estética cada vez mais cedo e com isso, claro, sendo impactadas pela pressão e pelos males que isso causa cada vez mais cedo também. É a cultura da perfeição e do consumo desenfreado virando prioridade para nossas meninas. Parece um filme que a gente já viu, só que piorado. 

Fica difícil dizer quem veio primeiro, o ovo ou a galinha, mas ao mesmo tempo vemos a volta da moda do anos 2000, que tinha a magreza extrema como lema. E quando uma tendência volta, ela toma as redes, as ruas, as propagandas e, claro, nossa cabeça. Parecia tanto que a gente tinha evoluído, que a diversidade tinha vindo pra ficar e que poderíamos acentuar cada vez mais o lema do corpo livre. Me pego pensando como a gente veio parar aqui. 

Para apimentar um pouco mais essa história, temos a Inteligência Artificial, que começou criando filtros e agora cria pessoas inteiras “perfeitas”, padronizadas e irreais. Uma pesquisa da Dove mostrou que uma em cada duas meninas no Brasil quer mudar algo na aparência. Garotas que não deveriam nem estar preocupadas com o que veem no espelho. É grave. A gente já era o país campeão em cirurgia estética, fico pensando o que vai acontecer agora. Pra onde estamos indo?

Sei que a batalha parece inglória, mas tenho pensado muito em como vamos promover uma relação saudável com a beleza nesse contexto. Nossa briga não é mais com a tendência de mercado, ela é contra o mercado, os algoritmos e as big techs. Puxado. Mas a constatação é importante para que a gente entenda que falar de tendência de beleza hoje exige uma responsabilidade tremenda. 

Eu, como uma mulher que foge aos padrões, me sinto na obrigação de mostrar outras visões, outro corpo e toda vida, potência e felicidade que ele pode conter. Porque no fim da linha não estamos falando só de corpo, cabelo e unha, estamos falando da saúde mental de quem não se encaixa e passa a achar que só vai dar pra ser feliz magra, alisada, sem espinha e com esse ou aquele nariz. A disforia de imagem é uma coisa muito perigosa e vem como consequência desse mundo onde a tendência é a tal perfeição pregada nas redes. 

Essa é uma batalha que vai exigir união de forças. A começar pelas marcas que vão precisar se agarrar na ética da diversidade e marcar posição. Precisamos nos posicionar de forma responsável e pra isso, talvez, a gente precise até rever o conceito de tendência. 

Será que estamos prontas? Prefiro acreditar que sim, porque a outra opção é sentar e chorar.  

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