Nascida e criada nas favelas do Rio de Janeiro, Carolina de Oliveira Lourenço começou a carreira aos 15 anos. Cantava em bailes e punha pra fora toda a história que a levou até ali. Preta, gorda e com fama de brigona, ela conquistou o público, lançou dois álbuns e participou de reality show. Seu último trabalho, Borogodó, foi lançado no ano passado: nas 12 faixas ela exalta a sexualidade feminina. Aqui, a cantora e compositora revisita sua história e conta como foi sua relação com o corpo ao longo da vida.
Através de 5 fotos, mergulhamos na trajetória de cicatrizes, aprendizados e vitórias que fez de Carolina MC Carol, uma das principais funkeiras do país.
“Só descobri essa foto quando reencontrei minha mãe, depois de 14 anos sem falar com ela”
Essa foto da bebê Carol aos 6 meses marca duplamente sua vida. Primeiro, porque é um dos raros registros dela com a mãe, com quem conviveu muito pouco. Depois, porque marca o reaproximação das duas: “Só descobri essa foto quando reencontrei minha mãe, depois de 14 anos sem falar com ela. Nem sabia que existia foto minha tão pequena. Me achei bonitinha”, conta. Criada pelos bisavós, a cantora só voltou a falar com a mãe há pouco tempo e, com essa aproximação, partes de sua história vieram à tona: “Meus pais se conheceram em um baile charme, eu não sabia. É louco pensar que a vida me levou pra música.”
“Percebi que as coisas seriam diferentes pra mim”
Carol sempre sonhou em ser a noivinha da quadrilha da festa junina da escola, e em 2001, quando tinha 8 anos, uma gincana foi proposta para escolher o casal. Dedicada, ela foi campeã e ficou toda contente em se vestir de branco. “Foi uma luta ter esse vestido, mas minha avó conseguiu fazer”, lembra. No dia da festa, um aprendizado que ficou marcado nela para sempre: “O noivinho, que era branco, não apareceu. Fiquei arrasada e ali, percebi que as coisas seriam diferentes pra mim.”
“Comecei a usar o medo que as pessoas tinham de mim a meu favor”
Carol conheceu o racismo e a gordofobia muito cedo. Mudou de escola diversas vezes por causa disso e se protegeu das formas que pode. “Teve uma época em que eu não saía da sala na hora do intervalo. Ficava lá pra não ser agredida.” Aos 14, na época da foto acima, encontrou um jeito de se defender: “Comecei a usar o medo que as pessoas tinham de mim a meu favor. Eu brigava muito, me impunha mesmo”, lembra. A imagem marca também outras duas fases de Carol, foi nessa idade que passou a morar sozinha e começou a frequentar bailes funk.
“Eu nunca gostei muito do meu cabelo”
Essa foto marca os últimos momentos da Carol antes dos palcos. O cabelo alisado e preso traz a história da menina que sofreu diversas violências racistas ao longo da infância. “Eu nunca gostei muito do meu cabelo, e, ainda pequena, quando ia pra escola, usava um lenço. Lembro que na hora do intervalo, as pessoas arrancavam ele da minha cabeça e me chamava de tia Nastácia, do Sítio do Pica Pau Amarelo. Isso me deixava muito triste. Assim que fiquei adolescente, comecei a alisar”. Um detalhe importante é que Carol sempre gostou de si: “Me via no espelho e me achava bonita, mas não era isso que ouvia na rua.”
“Uma mulher gorda, preta, periférica na capa de uma revista de moda: nunca imaginei.”
Durante a pandemia, a funkeira ficou sem pisar nos palcos. Ela conta que a falta da energia do público causou uma enorme tristeza. Com o lançamento do álbum Borogodó, no começo de 2021 um calorzinho no coração: ela foi convidada para ser capa da revista Elle em sua versão digital. Quebrou a internet. “Fiquei muito feliz, muito emocionada e adorei que me arrumaram toda. Foi lindo principalmente porque não tive referência de uma mulher como eu na TV ou nas capas de revista. Então essa representatividade, o fato de ter uma mulher gorda, preta, periférica na capa de uma revista de moda, é maravilhosa. Nunca imaginei.”