Luana Genót: “A moda me deu autoestima e cultura, mas sei que recebi menos dinheiro por ser negra" - Mina
 
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Luana Genót: “A moda me deu autoestima e cultura, mas sei que recebi menos dinheiro por ser negra”

Da infância, atravessada pelo racismo, passando pelo mundo da moda, onde ganhou confiança: a empresária e ativista Luana Genót conta sua história através de cinco fotos e mostra como conseguiu ser a mudança que deseja para o mundo

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Nascida no Rio de Janeiro e criada na Penha, Luana Génot, 33 anos, é fundadora e diretora-executiva do Instituto Identidades do Brasil (IND BR). Recentemente lançou o livro Sim à igualdade racial, onde fala sobre raça e o mercado de trabalho.Ativista por um país antirracista, a empresaria foi reconhecida no Top Voice 2019 no Linkedin e tambem já foi voluntária na campanha do ex-presidente norte-americano, Barack Obama. Em um bate papo sincero, ela revela o quanto a família foi importante para estimular sua autoestima, mesmo que o mundo lá fora fosse cruel. Ao se estabelecer no mundo da moda e depois fazer universidade, Luana viu o tamanho de sua potência e passou a agir. Eu achava que era ruim ser negra, mas depois fui entender que era o sistema que me fazia pensar assim”, diz. 

Ensaio com fotógrafo profissional, aos 6 anos

“Nesse ensaio, me vi como uma pessoa bonita, foi um marco”
A infância da empresária foi no bairro da Penha, zona norte do Rio de Janeiro. A carioca conta que suas brincadeiras aconteciam mais dentro de casa, a mãe tinha medo dela estar em perigo. Na escola, a pequena Luana já sabia o que era racismo, mais um motivo pra se fechar num lugar seguro onde não era intimidada. “Dentro de casa, eu era muito faladeira, mas fora, ficava mais acanhada, me escondia na barra da saia da minha mãe”, diz. E era ali, sob os argumentos da mãe, que sua autoestima foi sendo construída. Na escola, nunca era colocada no lugar de bonita. Por isso, esse ensaio fotográfico foi um marco: “não me lembro direito porque ele aconteceu, mas foi importante para minha autoestima me ver como bonita. Foi também uma decisão importante da minha mãe.” 

Pronta para tocar na banda da escola, aos 13 anos 

“Quanto mais atenção eu chamava, mais insultos eu recebia” 
No início da adolescência, Luana participava da banda da escola e sempre se destacou por seu espírito de liderança, por tirar as melhores notas e também por ser alta. A empresária puxou seu pai que tem mais de 1.80 de altura. “Fui eleita a representante da turma, mas queria colocar a cabeça na terra igual um avestruz, porque pra mim, quanto mais atenção eu chamava, mais insultos eu recebia.” A carioca também se recorda que nunca esteve na lista de a mais bonita da sala. “Foi uma fase dura porque tinha a questão de manter o cabelo pra baixo, de não poder entrar na piscina e de muitos questionamentos que se resumiam em achar que era ruim ser negra e me questionar o porque a mulher negra tem que sofrer tanto. Depois fui entender que era o sistema que fazia isso”. 

Na adolescência, em foto que fez sucesso nas redes sociais

“Detestava ser chamada de ‘exótica’, porque é adjetivo de bicho” 
Aos 16 anos, Luana viu uma melhora nas relações. Começaram as primeiras paqueras e amizades mais fortificadas. Estudando mais longe de casa, ela passou a conhecer mais a sua cidade maravilhosa. Foi nesse período que deu seu primeiro beijo e começou a namorar. “Eu já estava com autoestima melhor, já tinha um peitinho e corpo. Coloquei essa foto numa rede social da época e recebi vários coraçõezinhos. Ao mesmo tempo, quando elogiada, eu era frequentemente chamada de “exótica”, detestava porque é adjetivo de bicho.” Durante a adolescência, começaram a surgir os primeiros questionamentos sobre ser modelo. “As pessoas me perguntavam se eu sabia sambar, quando eu dizia que não, falavam para eu ser modelo.”

Aos 21 anos, quando assumiu seu cabelo crespo na moda

“A moda me deu postura: as pessoas achavam que eu era a filha do Joaquim Barbosa”
Foi ao completar os 18 anos que Luana deu seus primeiros passos na carreira de modelo. Sabia que era um dos poucos rostos negros desfilando e isso a colocava pra pensar. “A moda me deu autoestima, cultura e foi importante, mas ainda assim recebi menos dinheiro e tive menos oportunidades por ser negra”. Aos 21 ela já estava quase se aposentando e colocou foco no curso de Comunicação Social e Publicidade. Foi aí que  resolveu assumir seu cabelo natural. “Ao longo da carreira de modelo, fiz alguns processos químicos, mas a partir do momento que a minha consciência aumentou, fui assumindo o meu cabelo crespo.” Luana conta que a postura que a moda lhe deu trouxe autoconfiança no mundo acadêmico. “Eu andava na PUC e as pessoas achavam que eu era a filha do Joaquim Barbosa, ou pensavam que eu não era brasileira”. 

 Foto atual, usando seu batom preferido: preto

 “Me sinto muito mais confiante”
A foto, que chama atenção por um olhar fixo e marcante, Luana escolheu para frisar o quanto mulheres negras ainda hoje sofrem para encontrar itens de maquiagem para peles negras – ainda mais peles negras retintas. “Estou usando batom preto nessa foto, é a cor que mais gosto, mas não acho com facilidade, a internet oferece algumas opções, mas a indústria de beleza brasileira ainda falha na oferta de produtos em paletas mais escuras”. Casada há mais de 10 anos e mãe de Alice, Luana fala da maternidade: a gestação trouxe momentos, sensações e marcas no corpo, mas que não abalaram sua estrutura. Ela segue com sua articulação dentro dos espaços que transitava. “Após ser mãe, ainda tenho inseguranças, a barriga pós-parto, mas, de forma geral, me sinto muito mais confiante atualmente.” 

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